O grupo dos Brics se colocou como um escudo à exclusão da Rússia na próxima reunião do G-20, que ocorrerá em novembro, na Austrália. O país anfitrião do encontro, um aliado dos Estados Unidos no cenário internacional, deu indicações de que gostaria de seguir os passos do G-8 e bloquear a participação dos russos.
Anteontem, em represália à anexação da Crimeia, as sete maiores economias do mundo já haviam excluído a Rússia da cúpula do G-8 agendada para junho. O local da reunião, que estava marcada para a cidade russa de Sochi, mudou para Bruxelas.
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Diante de uma ação semelhante no G-20, os Brics reagiram e demonstraram incômodo com a Austrália, que teria tomado a liderança do movimento de exclusão da Rússia. Segundo fontes diplomáticas ouvidas pelo Valor, o que mais causou descontentamento no grupo foi a iniciativa de a Austrália - em alinhamento com os Estados Unidos - ter se movimentado à revelia dos países emergentes. O governo brasileiro não pretendia, ontem à noite, se pronunciar oficialmente sobre o assunto, mas considerou que a declaração feita pela ministra de Relações Internacionais da África do Sul, Maite Nkoana-Mashabane, retrata adequadamente as conversas mantidas por chanceleres dos Brics em Haia.
Na reunião, ocorrida paralelamente à margem da cúpula de Segurança Nuclear, o Brasil foi representado pelo subsecretário-geral de assuntos políticos, embaixador Carlos Paranhos. Os demais chanceleres - da China, da Índia, da África do Sul e da própria Rússia - estavam presentes. O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, não pôde participar porque está em viagem oficial na Venezuela. Para a diplomacia brasileira, a solução da crise entre Rússia e Ucrânia requer diálogo, preferencialmente nas Nações Unidas, e não uma "lógica de tensões e contratensões" que remete ao clima de Guerra Fria.
A tentativa de excluir a Rússia do G-20 não é bem-vista pelos Brics, mas desagradou mais pela forma do que pelo conteúdo. A declaração da ministra sul-africana trata com "preocupação" a iniciativa da Austrália. "O G-20 pertence a todos os Estados-membros de forma igual, e nenhum Estado-membro pode unilateralmente determinar sua natureza e característica", afirmou. A declaração continua dizendo que "a escalada de linguagem hostil, sanções e contrassanções e força não contribui com uma solução sustentável e pacífica, de acordo com a lei internacional".
O presidente dos EUA, Barack Obama, ameaçou ontem impor novas sanções a Moscou, caso o país avance com incursões militares a outras regiões da Ucrânia. O presidente russo, Vladimir Putin, "tem que entender que há uma escolha a ser feita", disse Obama após a cúpula de Segurança Nuclear em Haia.
Fonte: Valor Econômico/Daniel Rittner | De Brasília