A desaceleração da economia chinesa começou a ter efeitos mais amplos no comércio exterior do Brasil. No primeiro trimestre as exportações de minério de ferro e petróleo já sentiam os efeitos da queda de preço das commodities, devido a uma menor demanda chinesa. No segundo trimestre, porém, a desaceleração da China afetou também as quantidades de minério de ferro e de petróleo embarcadas ao país asiático.
A venda de minério de ferro para os chineses caiu 2,1% em volume no segundo trimestre, na comparação com mesmo período do ano passado. Em valor, caiu 26,9%. No primeiro trimestre a exportação do minério já havia caído 11,9% em valores, mas ainda havia elevação de volume de 4,9%.
O volume de exportação de petróleo brasileiro à China teve queda de 27,2% no segundo trimestre. A redução em valores foi menor, de 19,4%. A venda de petróleo aos chineses já havia caído no primeiro trimestre, com redução de 31,9% no volume e de 17,4% em valores.
José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), diz que o cenário começa a mostrar que os efeitos da desaceleração podem afetar não só os preços de itens importantes da pauta como também as quantidades. "Ainda é cedo para falar em queda de volume, mas o quadro do segundo trimestre sugere cautela. Em junho vários produtos exportados tiveram queda de quantidade, mas é preciso verificar a evolução dos próximos meses." Castro lembra que no início do ano as estimativas gerais do economistas levavam mais em consideração o efeito dos preço nas exportações. A possível redução das quantidades exportadas, porém, vem sendo analisada pela AEB, que pode revisar o saldo da balança comercial previsto para este ano.
Os preços, lembra Castro, continuam sendo uma variável importante no segundo semestre. Ele lembra que no acumulado de janeiro a junho o volume de exportação do petróleo, por exemplo, caiu 5%, mas o preço subiu 10%, na comparação com os mesmos meses do ano anterior. Em junho, isoladamente, porém, o preço do petróleo já teve queda de 5,03%.
Para Fabio Silveira, sócio da RC Consultores, acredita que a perda de volume na exportação deverá ser mais importante do que se imaginava antes. A desaceleração da China pode surpreender neste ano, com um crescimento do país asiático muito menor do que se esperava antes. "Hoje muita gente fala num crescimento da China de 5% a 6%, enquanto antes, no início do ano, as estimativas eram de 8% a 10%." O esfriamento da economia chinesa deve contribuir fortemente para a queda do valor exportado pelo Brasil.
Silveira acredita que o saldo da balança comercial total brasileira deve cair dos US$ 29,8 bilhões de 2011 para US$ 17 bilhões neste ano. A receita de venda ao exterior com o minério de ferro, acredita, deve cair dos US$ 41,8 bilhões do ano passado para US$ 33,5 bilhões neste ano. Nessa estimativa, diz Silveira, a redução do volume de exportação tem contribuição semelhante à da queda no preço.
Para Silveira, com a crise, os chineses podem preferir o fornecimento australiano de minério de ferro, que paga frete menor para chegar à China e ganha mais competitividade num momento de preços menores. Em relação ao petróleo, diz, há vários fornecedores no mercado internacional e, dependendo da negociação comercial, pode haver substituição ao óleo fornecido pelo Brasil.
O minério de ferro, o petróleo e a soja são os principais produtos da pauta brasileira de exportação à China. Juntos, eles representam 85,7% do valor total exportado ao país asiático. Dos três produtos mais importantes vendidos para a China, o único que manteve crescimento no segundo trimestre foi a soja.
O volume de soja exportado aos chineses teve elevação de 21% no segundo trimestre, em termos de volume, e de 30,8% em valores. O desempenho da soja amenizou os efeitos da queda do petróleo e do minério de ferro no mesmo período. Castro lembra, porém, que houve grande antecipação da exportação de soja durante o primeiro semestre e, sazonalmente, os embarques do grão perdem força a partir de julho.
Welber Barral, sócio da Barral M Jorge Associados, acredita que ainda é cedo para estimar o efeito da desaceleração econômica nas quantidades exportadas pelo Brasil. Para ele, a queda não só no preço como também no volume, se acontecer, deve reduzir o saldo comercial brasileiro a um terço do que foi no ano passado.
A China é o maior parceiro comercial do Brasil. Cerca de 17,5% do total vendido pelo Brasil ao exterior vai para a China. Os Estados Unidos ficam em segundo lugar, com 12% e a Argentina vem em terceiro, com fatia de 7,7%.
Fonte: Valor
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