Em um negócio que marca o maior investimento já feito pela China na América do Sul, a BP vendeu o controle da petrolífera argentina Pan American Energy (PAE) aos seus dois sócios na empresa, a estatal chinesa CNOOC e a família Bulgheroni. A transação foi fechada por US$ 7 bilhões.
A PAE é a segunda maior produtora de petróleo e gás da Argentina, só atrás da YPF, privatizada nos anos 90 e hoje sob controle da espanhola Repsol. Seus 110 mil barris de petróleo e 18,3 milhões de metros cúbicos de gás extraídos por dia equivalem a 18% da produção total do país.
Até agora, o capital da PAE era formado pela BP (60%) e pelo grupo Bridas (40%), dos irmãos Bulgheroni. Em março, os chineses já haviam feito a primeira ofensiva sobre a empresa, comprando metade da Bridas, por US$ 3,1 bilhões. Agora, dividiram com seus sócios locais o investimento de US$ 7 bilhões para assumir o controle da PAE.
Enquanto os britânicos da BP tentam fazer caixa para recompor as perdas sofridas com o recente vazamento no Golfo do México, a China avança na incorporação de empresas que exploram recursos naturais, principalmente na África e na América do Sul. No Brasil, os chineses já desembolsaram bilhões de dólares na aquisição de ativos como jazidas de minério de ferro e participação em blocos petrolíferos na Bacia de Campos, além de terem fechado uma parceria com o empresário Eike Batista para construir uma siderúrgica no Porto do Açu (RJ). Também adquiriram sete empreendimentos de transmissão de energia.
Especialistas argentinos receberam bem a notícia de que os chineses aumentaram sua fatia na PAE. Mas o economista Daniel Montamat, ex-presidente da YPF e ex-secretário de Energia, ressaltou o fato de que a gestão continuará nas mãos dos sócios locais.
"Bem-vindos os chineses, mas o fato de que seguem os Bulgheroni é um compromisso com a geologia argentina. Se somente a CNOOC tivesse comprado, teríamos que esperar um longo tempo de adaptação até que tivessem know-how. Provavelmente estariam ordenhando a vaca, mas sem exploração de risco. A permanência do sócio argentino aumenta as possibilidades de uma aposta pela Argentina, já que os Bulgheroni são de apostas de longo prazo."
Para o consultor Daniel Gerold, a aquisição do controle da PAE pelo grupo Bridas marca "o provável início de um novo ciclo petrolífero" no país. A produção de petróleo cai há oito anos seguidos. No caso do gás natural, as reservas comprovadas caíram quase 50% em uma década e durariam só oito anos mais, se mantido o ritmo de exploração atual.
Gerold afirma que o negócio "revaloriza fortemente os ativos e as perspectivas do setor" e "implica um forte sinal de confiança em uma melhoria significativa da atividade de exploração e produção" na Argentina.
A PAE explora o campo Cerro Dragón, na Província de Chubut (sul do país), que gera individualmente a maior produção nacional. Detém a concessão do campo até 2027. Também demonstra disposição, segundo os analistas, de juntar-se à YPF para iniciar explorações marítimas.
O principal entrave para atividades de risco no setor é a política tributária do governo, com base nas retenções. O barril de petróleo só pode ser vendido a US$ 45, mesmo que esteja valendo o dobro ou mais no mercado internacional. Além disso, os principais jazimentos petrolíferos da Argentina são considerados "maduros" e em fase de declínio. É o que ocorre com os campos explorados pela Petrobras na Província de Neuquén.
Fonte: Valor Econômico/Daniel Rittner | De Buenos Aires
PUBLICIDADE