Março foi o mês em que o minério de ferro mais aprofundou sua queda em 2015 e marcou também mais um período no qual a China deu o tom das negociações dos principais metais nos mercados ao redor do mundo. Dentre as demais commodities, outro destaque negativo foi o petróleo, que não conseguiu se recuperar mesmo com os temores dos investidores quanto a problemas na oferta por conta do conflito no Iêmen. No campo positivo, o cobre registrou alívio, mas as perspectivas continuam ruins.
Durante o mês, os preços do minério de ferro desabaram, com queda de 19,05% para US$ 51 a tonelada. Esse patamar se aproxima perigosamente da linha considerada mínima para que a maioria das produtoras não opere no vermelho, de US$ 50 por tonelada. A queda acumulada em 2015 é de 28,4%. O petróleo também sofreu baixa significativa no mês. O barril do Brent, negociado na Europa, caiu 9,3%, para US$ 56,2, enquanto o WTI, em Nova York, recuou 6,13%, para US$ 49,3. Os preços do alumínio ficaram 1,3% menores, os do níquel diminuíram em 7,06% e o cobre subiu 4,21%.
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Felipe Beraldi, analista da Tendências Consultoria, lembra que a demanda em ritmo mais fraco dos chineses continua preocupando o mercado. As compras de metais já haviam sido fracas em fevereiro, por conta do Ano Novo local, mas não empolgaram em março. Dados de produção industrial e construção civil do gigante asiático continuam a sinalizar crescimento mais comedido durante 2015, o que afeta diretamente a procura pelos insumos.
As projeções do Citi continuam negativas para o minério de ferro. Em relatório no começo da semana, a equipe do analista Ivan Szpakowski escreveu que ainda aguarda preços abaixo dos US$ 50 por tonelada. "Provavelmente o assunto mais quente hoje na China é a pressão ambiental", lembra o texto. Isso significa que a produção siderúrgica local provavelmente permanecerá na toada de desaveleração.
Beraldi, por sua vez, acredita que é muito difícil que a commodity se mantenha abaixo dos US$ 50. A cotação é perigosa porque a média global de custos de produção das mineradoras gira em torno desse valor. Abaixo desse patamar, as produtoras operariam no vermelho. Os novos projetos da Vale, contudo, e das outras duas gigantes do setor - Rio Tinto e BHP Billiton -, têm custo mais próximo a US$ 45 por tonelada extraída - considerando gastos com frete.
Contribui para a deterioração dos preços da commodity a manutenção pelo governo chinês das mineradoras locais de alto custo. De acordo com um levantamento da Tendências, mais de 70% das mineradoras da China funcionaria no prejuízo ao preço atual.
Contribui para a queda dos preços do minério a manutenção pela China das mineradoras locais de alto custo
No caso do petróleo, durante março algumas instituições internacionais demonstraram maiores preocupações quanto aos preços no ano. A Agência Internacional de Energia (AIE), por exemplo, mostrou ceticismo quanto à recuperação do mercado. Em relatório, a entidade disse esperar demanda de 1 milhão de barris diários em 2015, mas a oferta permaneceu acima dos 1,3 milhão de barris em fevereiro, pressionando a cotação. Já a agência de classificação de risco Standard & Poor's cortou as projeções para o Brent de US$ 80 para US$ 75 para 2017. E fez o mesmo para o tipo WTI, mas de US$ 75 para US$ 70.
Em março, a commodity ainda ensaiou uma recuperação, depois que as tropas xiitas huti, acusadas de terem ligação com o Irã, avançaram no Iêmen, obrigando o presidente Abed Rabbo Mandour Hadi a fugir do país. Foi a primeira vez em alguns meses que um conflito geopolítico na região influenciou nos preços do petróleo, que ultimamente se baseia muito mais na chave de braço disputada por Estados Unidos e a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), e entre exploração convencional e não convencional da commodity.
Beraldi também afirma que a subida de 4,21% na cotação do cobre, segundo os contratos futuros com maior liquidez na Bolsa de Metais de Londres (LME, na sigla em inglês) - para US$ 6.087 a tonelada -, pode ter vida curta. O fechamento de capacidade em algumas minas ajudou a impulsionar o metal, mas Andreas Bokkenheuser, que acompanha o setor pelo UBS, crê que uma melhora seria mais no horizonte de longo prazo, entre um e dois anos, caso o dólar realmente se enfraqueça como o mercado espera. O analista da Tendências concorda que o espaço para alta é limitado e cita a evolução da oferta na China como algo que puxa o mercado para baixo.
No caso do alumínio, que recuou 1,3%, para US$ 1.784,50 por tonelada, também na LME, a situação é semelhante, de excesso de capacidade chinesa. Para o níquel, que caiu 7,06%, para US$ 13.105 a tonelada, nem a possibilidade de as Filipinas restringirem as exportações como observado pela Indonésia foi suficiente para segurar os preços. "Os estoques permanecem muito altos", lembra Beraldi.
(Fonte: Valor Econômico/Renato Rostás | De São Paulo)