A produção brasileira de grãos deverá atingir o recorde de 195,907 milhões de toneladas nesta safra 2013/14, de acordo com levantamento divulgado ontem pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vinculada ao Ministério da Agricultura. Se confirmado, o volume será 4,8% superior ao de 2012/13, até agora o maior já colhido no país.
O aumento previsto deriva da combinação entre uma área plantada 3,6% maior (55,187 milhões de hectares) e uma produtividade média das lavouras mais elevada (3.550 quilos por hectare), dadas as condições climáticas em geral favoráveis, pelo menos até agora. E a grande estrela da temporada, mais uma vez, será mesmo a soja.
Para a oleaginosa, carro-chefe do agronegócio brasileiro, a Conab calcula incrementos de 6,2% para a área plantada, que poderá chegar a 29,453 milhões de hectares, e de 10,5% para a produção, que passou a ser estimada em 90,025 milhões de toneladas, um novo recorde. Se a Conab estiver correta, o Brasil tende a superar os EUA e assumir a liderança da produção mundial (ver abaixo).
Se a soja está ganhando espaço, o milho, destaque nas duas últimas temporadas, está perdendo. A Conab passou a projetar a área plantada total (primeira e segunda safras) do cereal em 15,497 milhões de hectares em 2013/14, 2,5% menos que em 2012/13. A produção tende a recuar 2,7% na comparação, para 78,784 milhões de toneladas.
Mas os resultados finais do milho poderão ser piores, dada a queda de seus preços nos últimos meses. Ocorre que a Conab ainda não tem condições para estimar a "safrinha", plantada normalmente após a colheita de verão de soja, e está repetindo nas contas para 2013/14 o bom resultado de 2012/13, quando a colheita atingiu 46,180 milhões de toneladas e ultrapassou com folga a primeira safra (34,828 milhões).
Segundo a Conab, a "competição" entre soja e milho por áreas de plantio no verão pende para a oleaginosa por sua maior liquidez e pelos elevados custos de produção nas lavouras do cereal. E é preciso lembrar que a desvantagem do milho está maior em 2013/14 por conta da recuperação da safra dos Estados Unidos depois que uma severa estiagem prejudicou a colheita no país em 2012/13.
Por conta dessa conjuntura, quem deverá ganhar espaço na safrinha nas áreas de Cerrado é o algodão, cujos preços estão mais atraentes. A Conab passou a projetar a área plantada com a cultura em 1,077 milhão de hectares, 20,4% maior que no ciclo passado, e a produção da pluma em 2,514 milhões de toneladas, um aumento de 24,5% em igual comparação.
O Ministério da Agricultura não acredita que as projeções para soja, milho e algodão serão afetadas pela proliferação da lagarta Helicoverpa armigera em plantações de Mato Grosso, oeste da Bahia e outros Estados. "O problema está controlado e não haverá aumento de custos como havia sido cogitado tempos atrás", afirmou Neri Geller, secretário de Política Agrícola do ministério. Em 2012/13, a praga gerou custos e perdas estimados em R$ 2 bilhões.
Para arroz e feijão, a Conab agora projeta aumentos de área e produção. O arroz deverá ocupar 2,421 milhões de hectares, 1,3% mais que em 2012/13, e a colheita tende a crescer 4%, para 12,222 milhões de toneladas. Já o feijão tende a ser plantado em 4,372 milhões de hectares, área 2,1% superior a do ciclo anterior, com volume previsto em 3,302 milhões de toneladas, alta de 16,6%.
No relatório que divulgou, a Conab destacou o aumento dos custos de produção em praticamente todas as frentes, exceto na primeira safra de milho, diretamente influenciado pelo encarecimento de sementes, fertilizantes e defensivos, em parte em decorrência da desvalorização do real em relação ao dólar. (Colaborou Alessandra Saraiva, do Rio)
Fonte: Valor Econômico/Fernanda Pressinott, Bettina Barros e Tarso Veloso | De São Paulo e Brasília
PUBLICIDADE