O diretor-presidente da BHP Billiton Ltd., Andrew Mackenzie, passou três anos resolvendo os problemas causados pela onda de aquisições feita por seus predecessores, vendendo ativos e realizando baixas contábeis multibilionárias nas operações de xisto da empresa nos Estados Unidos.
Agora, o executivo diz que a maior mineradora do mundo por valor de mercado está de volta às compras.
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Em entrevista ao The Wall Street Journal, Mackenzie disse que a BHP está avaliando negócios de ativos de petróleo e cobre que poderiam oferecer um incremento imediato aos lucros em meio ao que ele agora acredita ser um longo período de preços baixos de commodities.
"Estamos procurando muito em áreas onde podemos adquirir ativos que se enquadrem bem dentro do nosso portfólio e que aumentem a escala da empresa sem ampliar sua complexidade", disse Mackenzie.
A BHP passou por um período difícil de adaptação a um cenário de queda nos preços das principais commodities que ela vende, incluindo minério de ferro, petróleo, gás e carvão.
Alguns analistas têm alertado que a BHP pode se sentir tentada a pagar caro demais por ativos, enquanto outros questionam se existem hoje no mercado vendedores de ativos de alta qualidade como os que a empresa historicamente comprou.
Em fevereiro, a mineradora anglo-australiana cortou seus dividendos em 74%, abandonando sua antiga promessa de aumentá-los ou pelo menos mantê-los estáveis todo ano. A empresa anunciou também um prejuízo de US$ 5,67 bilhões entre julho e dezembro do ano passado. A BHP ainda teve de lidar com o rompimento, em novembro, da barragem de contenção de rejeitos da Samarco em Mariana, Minas Gerais, que causou danos ambientais gigantescos. A Samarco é uma joint venture da BHP e da Vale SA.
As ações da BHP caíram cerca de 50% ao longo do ano passado e recentemente as agências de classificação de risco de crédito Moody's Investors Service e Standard & Poor's Ratings Services rebaixaram a nota da empresa para A3 e A, respectivamente.
Mackenzie disse que o "plano A" para a BHP continua sendo reduzir custos e elevar a produtividade, em parte cortando um número ainda não definido de empregos, especialmente em posições administrativas.
Mas ele disse que as economias obtidas com a redução dos dividendos, junto com o caixa extra que a empresa deve obter à medida que intensifica o trabalho nas operações existentes, podem dar à BHP o poder de fogo para as aquisições. Algumas das concorrentes da BHP, como a Anglo American PLC e a Vale, têm afirmado recentemente que podem vender ativos para ajudar a sustentar seus balanços.
"Nesse ponto do ciclo [das commodities], uma empresa como a nossa - que está fazendo um bom trabalho em relação à produtividade, que tem uma política de dividendos muito adequada e a flexibilidade financeira que a acompanha - pode muito bem se beneficiar de outras empresas que não estão tão bem posicionadas como a nossa", disse Mackenzie. "E certamente não vamos querer perder esses benefícios. "
Quando sucedeu Marius Kloppers como diretor-presidente em 2013, Mackenzie fazia parte da geração de novos líderes nas mineradoras que chegaram para lidar com os gastos excessivos em novas minas e novos negócios feitos durante os anos de abundância no setor de commodities que marcaram a década anterior.
Sob o comando do Kloppers, por exemplo, a BHP investiu cerca de US$ 20 bilhões em ativos de gás de xisto nos EUA em 2011. Desde então, esses negócios provocaram baixas contábeis de bilhões de dólares graças, em grande parte, à forte queda nos preços do gás nos EUA.
Mackenzie tem se concentrado em colocar o foco da BHP em poucos ativos grandes, como as gigantescas operações de minério de ferro na Austrália Ocidental; e reduzir seus investimentos anuais para estimados US$ 7 bilhões no ano fiscal que se encerra em junho, em comparação a mais de US$ 20 bilhões por ano nos últimos quatro anos. Ele desmembrou ativos como fundições de níquel e minas de manganês em uma nova empresa, a South32 Ltd., no ano passado. Em fevereiro, anunciou a surpreendente saída de vários executivos importantes, incluindo a do líder do principal negócio da BHP, o de minério de ferro.
Ainda assim, a dimensão da crise do mercado de commodities afetou fortemente o lucro da BHP, em um momento em que, segundo analistas, a empresa adiou alguns novos projetos durante a crise, o que indica que ela pode enfrentar dificuldades para crescer.
Mackenzie disse que a BHP buscaria comprar ativos que já estão em operação e são rentáveis, já que "isso ajuda você a conseguir recuperar muito rapidamente o custo da aquisição".
Mackenzie não quis comentar as estimativas dos analistas de que a BHP pode gastar até US$ 5 bilhões em uma aquisição. Ele disse "que queria muito salientar que é perfeitamente possível que nada surja dos testes que fizermos" e disse que a companhia poderia também usar o dinheiro excedente para pagar dívidas. A dívida líquida da BHP chegava a US$ 25,9 bilhões no fim de 2015.
"Nós vislumbramos uma empresa composta de um pequeno número - certamente menos de dez - grandes ativos concentrados em cobre, petróleo, minério de ferro e carvão", disse.
Sobre a Samarco, ele disse que não podia estimar quando a mineradora voltará a operar. "Queremos avançar num ritmo razoável, mas tem que ser um ritmo prudente", disse. "Nós temos que convencer os reguladores e nós mesmos que podemos [operar] com segurança. Eu não sei quanto tempo vai levar."
A BHP e a Vale assinaram um acordo no início do mês com as autoridades brasileiras que pode permitir que paguem bem menos que os R$ 20,2 bilhões previstos originalmente pela Advocacia-Geral da União.
Mackenzie demonstrou estar confiante de que sua estratégia pode ajudar a BHP a crescer, mesmo se a crise no setor de commodities durar mais do que o previsto. "Sinto que tenho o total apoio do conselho sobre a forma como estamos vendo a empresa hoje", disse. "Nossa estratégia é elaborada para ser bem-sucedida mesmo se os preços das commodities não melhorarem."
Fonte: Valor Econômico/Rhiannon Hoyle | The Wall Street Journal, de Melbourne, Austrália