Apesar das críticas a reserva de mercado existente no Brasil para resseguradoras locais, o Lloyd's, entidade que administra o mercado de seguros e resseguros de Londres, aposta em emergentes como o Brasil para impulsionar seu crescimento no mundo e, para isso, nomeou este mês o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para o seu conselho.
A ideia é que Meirelles ajude o Lloyd's a entender melhor a realidade dos países em desenvolvimento, disse ao Valor John Nelson, presidente do conselho do Lloyd's. Ele está em visita ao país para discutir com autoridades estaduais, como o governador do Rio, Sérgio Cabral, formas de impulsionar o mercado de resseguros, em que o Lloyd's tem atuação no Brasil.
Em Londres, o Lloyd's é um mercado que reúne diversas companhias seguradoras e resseguradoras, que por sua vez formam sindicatos, que vendem coberturas para riscos diversos. Os sindicatos assumem os riscos que uma seguradora ou resseguradora sozinha não quer ou consegue absorver. Criado há 325 anos, o Lloyd's é o maior mercado de seguro e resseguro do mundo e cobre riscos em todos os continentes. Ele não tem nenhuma relação com o banco Lloyds.
Hoje, a operação brasileira do mercado londrino movimenta apenas US$ 350 milhões em prêmios de resseguros, uma gota no oceano de US$ 50 bilhões da operação global. No entanto, a previsão é que o crescimento no país mantenha-se nos patamares do ano passado, de 17%, enquanto os negócios mundiais avançam na faixa dos 9%. O Lloyd's está presente no país desde 2008, quando houve o fim do monopólio estatal no mercado de resseguros.
Meirelles é o segundo estrangeiro a fazer parte do conselho, formado por 17 britânicos e um americano, que é responsável pelo controle e supervisão do mercado londrino. "Um dos nossos principais desafios é crescer nos emergentes. A América do Sul é claramente um dos principais territórios em que estamos expandindo", disse Nelson. "E parte dessa estratégia também passa pela internacionalização do conselho", completou o executivo, citando a boa reputação do ex-presidente do BC no mercado financeiro internacional.
A América Latina e Central representam apenas 6% dos prêmios do Lloyd's no mundo e, segundo Nelson, além do Brasil, o maior crescimento vem da Colômbia, cujo mercado ainda é incipiente. O outro motor é o sudeste asiático.
Sobre o mercado brasileiro, Nelson critica a regra baixada no apagar das luzes de 2010 de reserva de mercado para as resseguradoras locais, que prevê que as seguradoras apresentem pelo menos 40% de cada cessão de resseguro para este grupo. Hoje o Lloyd's é registrado no Brasil como resseguradora admitida, status que não deve mudar no curto prazo.
No Brasil existem três tipos de resseguradoras: local, admitida e eventual. A primeira tem que aportar capital de no mínimo R$ 60 milhões e montar estrutura no país e, em contraparte, tem uma fatia do mercado garantida. As admitidas têm sede no exterior, mas precisam trazer US$ 5 milhões em capital e ter escritório de representação no país. Já para a eventual são empresas estrangeiras que precisam apenas de cadastro na Superintendência de Seguros Privados (Susep).
Os críticos da reserva de mercado dizem que a regra tende a beneficiar o IRB Brasil-Re, que deteve o monopólio do mercado até 2008 e está em processos de desestatização. "O mercado de resseguros brasileiro não é totalmente aberto. Esperamos que, no longo prazo, o Brasil possa estar numa condição de um mercado sem barreiras, que é o que acontece nas economias desenvolvidas", afirmou Nelson.
O executivo cita como exemplo a Índia, cujo governo flexibilizou as regras para os investimentos estrangeiros. "A Índia tem uma barreira quase total para essa indústria. Mas a expectativa é que nos próximos meses isso mude", disse. A Índia aumentou de 26% para 49% o limite dos investimentos estrangeiros diretos no setor de seguros.
"No Brasil, acredito que o argumento seja criar algum grau de proteção enquanto se está crescendo. Mas chega um momento em que o mercado precisa estar completamente aberto", avalia. Para Nelson, um dos principais desafios do mercado brasileiro é a cobertura contra catástrofes naturais, como inundações, cujos custos hoje são absorvidos pelo Estado.
Fonte: Valor Econômico/Luciana Bruno | Do Rio
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