Os anúncios da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) de compra de participações minoritárias em outras empresas têm surpreendido os investidores e suscitam dúvidas sobre qual seria a estratégia da companhia.
Com um caixa de R$ 11,5 bilhões, a empresa está mais que pronta para uma aquisição estratégica. Nos últimos anos, fez duas tentativas, Corus e Wheeling-Pittsburgh, que não se concretizaram. E o mercado se pergunta também por que, em vez de investimentos financeiros, ela não distribui parte do caixa aos acionistas. Não há respostas por enquanto.
Primeiro, a CSN informou que tem 5,03% das ações ordinárias de Usiminas. E acrescentou que está "avaliando alternativas estratégicas" e pode continuar comprando ações da empresa na bolsa e ultrapassar 10% de participação. Esta semana, elevou para 19,9% sua fatia na mineradora australiana Riversdale.
O Valor apurou que a intenção da CSN é ter um membro no conselho de administração da Usiminas. Reportagem da "Bloomberg" ontem informa que, no mercado australiano, o comentário é que a CSN quer um assento no conselho da Riversdale.
Se continuar anunciando participações em outras empresas, a CSN corre o risco de ser vista como uma holding. Se tiver assentos nos conselhos, pode ser confundida como um fundo de investimento em participações.
A CSN não concedeu entrevista.
O professor do Insper Ricardo José de Almeida afirma que o mercado não vê com bons olhos uma empresa ter participação relevante, com assento no conselho de outra, porque acaba interferindo na decisão do gestor.
"O gestor pode querer investir em CSN, mas não em Usiminas, e acaba sendo obrigado. Ou, ainda, quer ficar comprado em uma e vendido em outra", diz.
Ele lembra ainda que o mercado prefere aquisições de controle porque, assim, é possível gerar sinergias que criam valor.
"Quando se tem um mero assento no conselho, não há sinergias", afirma Almeida, ponderando que a estratégia da CSN também pode ser a de, no futuro, chegar ao controle.
Com relação ao caixa, o professor do Insper diz que ele pode ser considerado conservador. Ele faz uma conta, utilizando o dados da empresa até setembro de 2010, os últimos divulgados. Relaciona o caixa, de R$ 11,5 bilhões, com a diferença entre a receita líquida e o lucro operacional antes de juros, depreciação e amortização, cujo resultado é R$ 5,5 bilhões e que representam os custos e despesas que a empresa teve no período.
Relacionando os dois números, explica, é possível avaliar que, na hipótese de acontecer um fato muito grave e a empresa não tiver receita nenhuma, pode, por 18 meses, se sustentar utilizando apenas o seu caixa, que é o dobro de seus custos e despesas.
"Parece um pessimismo ou um conforto muito grande", diz, embora ressaltando que a companhia procura aquisições.
A CSN também planeja investir em siderúrgicas na Espanha e, no mercado doméstico, comenta-se que está comprando ações ordinárias da Vale, embora aqui, pelo tamanho da empresa, avaliada em R$ 280 bilhões, ninguém acredita que ela pretenda alcançar uma posição relevante.
No último dia 3, a CSN instigou ainda mais os investidores ao contratar uma operação de crédito com a Caixa Econômica Federal (CEF) de R$ 2 bilhões.
"Acho que isso confirma o compromisso de manter o caixa para aquisições", diz Daniella Maia, analista da Ativa Corretora. "A administração da empresa é de qualidade e vai esperar o melhor momento e oportunidade."
Fonte: Valor Econômico/ Ana Paula Ragazzi, de São Paulo
PUBLICIDADE