O acelerado escoamento de soja no início da colheita da oleaginosa nesta safra 2019/20 alterou o pico de preços do frete rodoviário para o transporte do grão. Tradicionalmente, os maiores valores são registrados em fevereiro no Centro-Oeste e em março no Paraná, onde o plantio é mais tardio. Mas, com a disparada do dólar ante o real e os preços domésticos firmes, as valorizações começaram um mês antes.
Assim, em Mato Grosso os fretes subiram logo em janeiro em relação ao fim do ano passado. Apesar das altas, nas saídas pelo Norte, os preços cobrados ainda estão mais baixos que há um ano, mas por causa da conclusão do asfaltamento da BR-163, que reduziu os valores de forma estrutural. Mas, no Paraná, o aumento em fevereiro na comparação anual foi da ordem de 25%.
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“A conclusão do asfaltamento da BR-163 cortou pela metade o tempo de viagem dos caminhoneiros, e isso também pressionou os preços do transporte do Centro-Oeste ao Sul devido à concorrência”, diz Fernando Bastiani, pesquisador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (EsalqLog/USP).
De Sinop (MT) a Itaituba (PA), o tempo de viagem diminuiu de uma média de 12 dias para entre cinco a seis dias. Daí porque, mesmo em ascensão, o frete nessa rota caiu 18,2%, de R$ 203,21 a tonelada em janeiro de 2019, para R$ 166,17 a tonelada no mesmo mês deste ano.
Contaminadas pelo ganho de competitividade do escoamento pela região Norte, outras rotas com origem no Centro-Oeste tiveram correção negativa. De Sorriso - maior cidade mato-grossense produtora de grãos - para o terminal ferroviário de Rondonópolis, no mesmo Estado, o valor caiu 5%, para R$ 113,82.
Se não fosse essa melhora na BR-163, provavelmente os preços estariam maiores em janeiro nessas rotas, porque a demanda foi muito forte. “No ano passado, a colheita estava bem adiantada, mas o preço da soja tendia a subir mais e as tradings e produtores seguraram um pouco as vendas. Neste ano, o dólar estava em escalada e todos quiseram aproveitar para vender e entregar rápido”, afirma Bastiani.
Para se ter ideia, a comercialização antecipada da soja em Mato Grosso chegou a 75,48% até o fim de fevereiro, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). No mesmo período de 2019, o percentual estava em 61,29%.
Nos demais Estados, houve aumentos, embora pequenos, devido à grande oferta de caminhoneiros autônomos e também pela inflação praticamente estável. Mas todos os valores estão acima dos pisos previstos na tabela de fretes rodoviários da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
No Paraná, os aumentos foram maiores em fevereiro porque as chuvas impediram o transporte dos grãos recém-colhidos. “Houve fila nos portos e transportadoras e motoristas foram obrigados a pagar taxas de estadia e a repassar os preços aos clientes”, afirma Bastiani. O preço do frete entre Cascavel e Paranaguá aumentou 24% em fevereiro, na comparação com o mesmo mês de 2019, para R$ 122,78 por tonelada.
Apesar das incertezas provocadas pelo avanço do coronavírus em diversos países, inclusive no Brasil, para março o pesquisador prevê estabilidade de preços das principais rotas, o que deve manter a correção anual em percentuais pequenos.
“O início da colheita no Rio Grande do Sul e as vendas de soja estocada em outras regiões, com esse preço positivo para as exportações, devem manter a demanda aquecida”. A desaceleração está prevista para ocorrer em abril e maio, completa. “O futuro dos preços dependerá da safra de milho.”
Fonte: Valor