O nível de confiança no crescimento da indústria brasileira de óleo e gás enfraqueceu neste ano, depois de atingir seu recorde histórico em 2019, segundo um levantamento feito pela consultoria norueguesa DNV GL. Depois de três anos consecutivos de melhorias na percepção sobre o mercado, diante da retomada dos leilões e das reformas regulatórias na área de exploração e produção de petróleo e gás natural, a confiança esfriou um pouco. Parte desse movimento é devido às incertezas regulatórias que pairam sobre a abertura dos setores de gás e refino, e parte por conta do desempenho da economia local. Os dados mostram, porém, que as empresas estão mais otimistas com o Brasil do que com o mercado global, na média.
A queda do índice de confiança entre os líderes do setor no país acompanhou a tendência mundial. Enquanto no mercado brasileiro o indicador recuou nove pontos percentuais, de 93% em 2019 para 84% em 2020, interrompendo três anos seguidos de alta, a média global caiu 10 p.p., de 76% para 66%, na mesma base de comparação. Os dados são baseados em pesquisa global com mil profissionais seniores da indústria, incluindo petroleiras e fornecedoras, sendo 51 deles baseados no Brasil.
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Outra conclusão do levantamento é que as companhias estão mais abertas a investir em energias renováveis, de forma a se prepararem para a transição para uma economia de baixo carbono.
O levantamento mostra, contudo, que os motivos que impactam a percepção sobre o mercado brasileiro são diferentes. Enquanto no mundo as principais barreiras ao crescimento da indústria estão associadas ao preço do barril do petróleo e à economia global, entre os entrevistados brasileiros as barreiras são mais locais, como o desempenho da economia nacional e a falta de apoio governamental e de políticas para o setor.
Para o vice-presidente e gerente da DNV GL Oil & Gas para a América do Sul, Alex Imperial, muitos dos anseios das petroleiras foram pacificados nos últimos anos. Incertezas sobre a regulação da abertura do mercado de gás, por outro lado, “têm um peso muito grande” sobre a confiança do setor em 2020.
“A queda no nível de confiança por parte da indústria de óleo e gás não é uma particularidade do Brasil. Mas no país há questões específicas. Quando se olha para a abertura [do mercado de gás] há uma necessidade muito grande de regulamentação. Isso ajuda a explicar [o porquê de os entrevistados terem apontado a falta de apoio governamental e de políticas para o setor como uma barreira para o crescimento]. [A necessidade de regulamentação] tem um peso muito grande”, afirma Imperial.
Em meio ao cenário de transição energética, a pesquisa da DNV GL mostra também que as empresas do setor estão mais abertas a apostar em formas de redução das emissões. Segundo o levantamento, 24% dos entrevistados no Brasil pretendem aumentar os investimento em descarbonização (ante 18% em 2019) e 37% deles afirmam que aumentarão o investimento em renováveis (frente 31% em 2019). Na comparação com a média global, contudo, o interesse das empresas do setor no aumento dos aportes em descarbonização (40%) e renováveis (44%) é maior.
“As empresas da Europa têm um senso de urgência maior [na transição energética], em função do perfil de sua matriz [energética]. A pressão da sociedade lá é muito maior”, afirmou Imperial.
Fonte: Valor