Ao anunciar um corte de 200 mil barris diários na sua produção de petróleo, para assegurar a sustentabilidade da companhia num momento de crise mundial no setor de óleo e gás, a Petrobras sinaliza que a queda abrupta da demanda pela commodity no mercado internacional começa a afetar também as suas operações em águas profundas, e não mais apenas os campos menos rentáveis em águas rasas e campos terrestres. O corte já responde por cerca de 8% da produção da estatal no Brasil.
A companhia anunciou hoje uma nova redução de 100 mil barris diários, que se somará aos cortes informados anteriormente e totalizará 200 mil barris diários.
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O volume que a empresa pretende reduzir em sua produção é mais do que tudo aquilo que a companhia produz em águas rasas e em terra.
A petroleira não detalha de onde virá o corte de produção, mas os números sugerem que ele virá também das águas profundas e ultraprofundas, onde estão os maiores campos produtores da estatal, tanto as áreas maduras do pós-sal quanto os melhores ativos do pré-sal.
O chefe de pesquisa da área de exploração e produção de petróleo da Wood Mackenzie na América Latina, Marcelo de Assis, explica que a decisão da Petrobras de cortar a sua produção é motivada principalmente pela queda da demanda global.
“Um volume de 200 mil barris/dia, para a Petrobras, não é irrelevante, mas não é muito numa escala global. A questão é que esse volume já não tem mais mercado”, disse.
Ele não descarta novos cortes, mas afirma que a decisão dependerá do comportamento do mercado nos próximos meses.
A consultoria Rystad Energy estima que a demanda global por petróleo atinja o seu ponto mais baixo este mês, contraindo-se em mais de 22 milhões de barris/ dia em abril, em relação às estimativas pré-crise. Para o ano, a expectativa é que o mercado internacional recue 6,4%, em função da crise econômica decorrente do novo coronavírus.
Há, ainda, um outro fator que ajuda a explicar o corte. Segundo um analista de um grande banco que acompanha as ações da Petrobras e pediu anonimato, a companhia decidiu cortar a produção porque a demanda despencou e deve permanecer fraca ao longo do mês de abril, mas a empresa também não possui capacidade significativa para estocar o produto.
Para ele, grandes petroleiras internacionais também deverão cortar a produção futuramente, devido à fraca demanda. “As empresas internacionais ainda não cortaram [a produção], mas vai ser uma tendência. Com a queda do consumo, não há como manter o ritmo de produção atual”, afirmou. Na opinião dele, o volume de estocagem de petróleo mundial chegará ao limite em meados do segundo trimestre.
Na semana passada, o diretor de exploração e produção da Petrobras, Carlos Alberto Pereira de Oliveira, afirmou que a empresa cortaria cerca de 23 mil barris diários de petróleo oriundos de campos de águas rasas com custos mais elevados, a partir da hibernação de suas plataformas. São áreas, sobretudo no Nordeste, que já estavam à venda pela companhia.
O volume restante do corte original de 100 mil barris/dia viria de outros campos, menos por uma questão de custos e mais pela falta de demanda para o óleo produzido. Ele disse ainda que a petroleira avaliaria novos cortes, inclusive em ativos terrestres.
“[O corte da produção] é uma combinação dos dois fatores: um vem do fato de termos agora um cenário de preços mais baixos do petróleo, então decidimos fechar os campos que temos em águas rasas [com custos maiores]. O outro tem a ver com a falta de demanda”, comentou o executivo, na semana passada, em teleconferência com analistas.
Fonte: Valor