A Cosan mudou, mas não perdeu suas raízes. Com o foco do crescimento dos negócios voltado para energia e infraestrutura, a companhia tem se fortalecido, nos últimos anos, em setores de menor volatilidade no mercado do que o agronegócio. Este ano, com a oferta para entrar no bloco de controle da América Latina Logística (ALL) e a aquisição de 60,1% da Comgás, está se distanciando ainda mais de suas origens, mas sua liderança na produção de açúcar e álcool segue inabalável.
"Abrimos o leque de propósito. E queremos cada vez mais nos fortalecer nos setores de infraestrutura e energia", diz Rubens Ometto Silveira Mello, presidente do conselho de administração e fundador da Cosan, eleita a Empresa de Valor deste ano.
As mudanças começaram a ser arquitetadas em 2007, quando a companhia foi para a bolsa de Nova York - dois anos antes, tinha aberto seu capital na Bovespa, tornando-se a primeira do segmento sucroalcooleiro a ir para o mercado. Em 2008, poucos meses antes de a crise financeira global explodir, anunciou a compra dos ativos da Esso no Brasil, que pertenciam à ExxonMobil, marcando sua estreia na distribuição de combustíveis. "Lembro que os analistas achavam que eu iria me desfazer desses ativos [Esso] logo depois", lembra Ometto. No mesmo ano, criou seu braço logístico, a Rumo.
Em 2010, a Cosan deu um passo maior e se associou à Shell para a criação da Raízen. A nova empresa, com gestão compartilhada, passou a agregar os negócios de combustíveis e a produção de açúcar e etanol.
Muito criticada no início do processo de diversificação, a Cosan, com sua transformação, atrai cada vez mais a atenção do mercado, que acompanha de perto movimentos que até agora resultaram em uma empresa com divisões de negócios separadas e bem definidas, o que mudou o humor dos analistas. "O mercado começou a entender melhor nossos negócios", diz Ometto..
Com a associação com a Shell, as áreas de lubrificantes, logística (Rumo) e terras (Radar) ficaram sob o guarda-chuva da Cosan. A divisão de alimentos da companhia associou-se à Camil em maio - agora, a Cosan detém 11,72% dessa operação, cuja receita deixará de ser consolidada em seu balanço.
A decisão de ser sócia da ALL - o processo ainda está em negociação - já fazia parte dos planos de diversificação da companhia há anos. Ometto afirma que a expertise da Cosan em agronegócio dará uma nova dinâmica à companhia ferroviária. Em fevereiro, o grupo fez uma oferta de quase R$ 900 milhões para comprar uma participação de 49,1% do bloco de controle (ou 5,6% do capital total). "Nós conhecemos o agronegócio, o que nos permite tomar iniciativas que às vezes o administrador da área de logística não enxerga", afirma o empresário.
Em energia, a companhia também fez fortes investimentos. No início, em cogeração a partir do bagaço de cana, e o mais recente com a polpuda fatia de 60,1% da Comgás, que pertencia à British Gas (BG), que decidiu se desfazer desse ativo, por R$ 3,4 bilhões, para investir no pré-sal. A operação ainda depende, porém, do parecer final da Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp).
No ano fiscal 2011/12, encerrado em março, a receita líquida da Cosan foi de R$ 24,097 bilhões, 33% maior que em 2010/11. A divisão de combustíveis representou 73% do total, seguida por energia (açúcar e álcool), com 15%, alimentos (4%) e Rumo (2%). A fatia dos "outros negócios" (lubrificantes e Radar) foi de 4%.
No atual ano fiscal, a divisão de alimentos não será mais consolidada na receita. A Comgás terá sua receita incluída (a partir da aprovação da Arsesp), assim como ALL, quando o negócio for fechado. Marcos Lutz, CEO da companhia, disse que o grupo estuda mudar o calendário de divulgação de seu balanço - que é de abril a março, em razão da safra da cana - para ano civil (janeiro a dezembro), uma vez que a divisão sucroalcooleira vem perdendo bastante peso com as transformações. Consolidadora, sobretudo no segmento sucroalcooleiro, Ometto diz que a companhia avalia ativos que façam sentido a sua expansão, descartando, pelo menos por enquanto, a entrada em mais um novo negócio.
De tradicional família de imigrantes italianos, o engenheiro mecânico formado na Universidade de São Paulo (USP) até tentou outros rumos. Começou a trabalhar como assessor da diretoria do Unibanco e aos 22 anos foi para a Votorantim, onde se tornou, aos 24, diretor-financeiro. Foi o primeiro presidente do conselho da TAM, antes conhecida como Táxi Aéreo Marília, que pertencia a sua família até os anos 70, antes do comandante Rolim Amaro assumir os negócios. De volta à terra, criou, na década de 90, a Cosan.
Fonte: Valor / Mônica Scaramuzzo
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