Um relatório sem grandes surpresas, mas ainda assim emblemático. É assim que a nova compilação sobre oferta e demanda mundial de grãos divulgada na última quinta-feira pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) foi recebido pelo mercado.
Os dados apontaram com mais clareza os efeitos da seca sobre a produção americana e forneceram munição para delinear a tendência de preços para o último trimestre - que, ao que tudo indica, deve ser mais altista para o milho que para a soja e o trigo, mas, em geral, de acomodação.
Conforme já era esperado, houve a confirmação de que as lavouras de soja dos EUA não sofreram tanto com a estiagem quanto se imaginava. O USDA elevou em 7,9% sua estimativa para a safra 2012/13 do país ante o relatório de setembro, para 77,84 milhões de toneladas, mas compensou com um esmagamento 35% maior e uma alta de 19% nas exportações. Mesmo assim, o Brasil segue firme na liderança dos embarques mundiais da oleaginosa, com 38,9% das vendas totais, segundo o órgão.
A reação imediata dos preços na bolsa de Chicago foi positiva. Na quinta-feira, os contratos futuros de segunda posição de entrega de soja (normalmente os de maior liquidez) fecharam em alta de 1,62%. Na sexta-feira, porém, houve uma reversão motivada pela realização de lucros dos investidores e os contratos terminaram o dia em baixa de 1,71%, a US$ 15,22 por bushel.
"O avanço da demanda na mesma proporção que a oferta não deveria ser novidade, dada a necessidade de racionamento da commodity, mas creio que os traders temiam uma safra maior", diz Vinícius Ito, analista do Jefferies Bache, em Nova York.
O fato é que o cenário não se mostra mais tão "altista" para a soja. Os estoques finais globais em 2012/13, por exemplo, representam agora 22,2% da demanda total, ante 20,7% em setembro. "Acredito que os US$ 18 por bushel não serão mais atingidos em 2012. Talvez possa passar de US$ 16,50 com algum problema climático no Brasil", prevê Ito.
Giovani Damiano, consultor da FCStone, também acredita em uma desaceleração e calcula que os contratos para janeiro ficarão entre US$ 14,90 e US$ 15,70.
No caso do milho, a sinalização de uma produção americana ainda mais combalida - por conta da seca, previu-se um recuo de mais 0,2%, para 271,94 milhões de toneladas - e um novo enxugamento dos estoques devem sustentar as cotações.
"O grão pode oscilar entre US$ 7,30 e US$ 7,50 por bushel no curto prazo, mas o objetivo é US$ 8", afirma Ito. Na sexta-feira, o milho fechou com queda de 2,65% em Chicago, a US$ 7,5275 por bushel, que se seguiu aos expressivos ganhos de 4,81% do dia anterior.
Os números revelados pelo órgão americano indicaram, ainda, que o Brasil está se consolidando como um exportador regular de milho. Atualmente, o país é o terceiro maior vendedor do grão, com 19 milhões de toneladas embarcadas no ciclo 2011/12 e 16 milhões em 2012/13, embora as estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) sejam mais magras para 17,7 milhões e 15 milhões, respectivamente.
Abalada por problemas climáticos na Austrália, na Rússia e na União Europeia, a safra global 2012/13 de trigo foi levemente reduzida em 0,86%, para 653,05 milhões de toneladas, mas o USDA projetou uma queda nos estoques mundiais de 2,09%, menor que a prevista por analistas.
Ainda assim, as cotações do cereal subiram 1,81% em Chicago na quinta-feira, porém, como os demais grãos, mudaram de lado na sexta-feira e caíram 3,09%, a US$ 8,6925 por bushel. E no último trimestre, o trigo deve ceder um pouco. "Acredito em algo entre US$ 7,65 e US$ 8,55 por bushel", diz Daniel D'Ávila, analista da Newedge.
Fonte: Valor / Mariana Caetano, Luiz Henrique Mendes e Fernanda Pressinott
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