A unidade de etanol da Odebrecht SA, que está brigando na Justiça com credores incluindo o Lone Star Funds e o Castlelake LP, está ficando sem tempo para chegar a um acordo que evite um pedido de recuperação judicial.
A Atvos SA não tem dinheiro suficiente para efetuar no fim deste mês depósitos determinados pela Justiça e ao mesmo tempo continuar operando normalmente, de acordo com pessoas próximas à empresa com conhecimento do assunto. A subsidiária da Odebrecht ainda está tentando uma recuperação extrajudicial por meio de um acordo com os bancos locais, que são seus maiores credores, que seria imposto aos fundos.
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O Lone Star, fundo sediado em Dallas criado pelo bilionário John Grayken, e o Castlelake emprestaram US$ 250 milhões à Atvos no final de 2017 para serem usados como capital de giro e para investimentos. Mas a firma em dificuldades parou de pagar juros em dezembro e agora deve cerca de US$ 300 milhões.
A Atvos está cumprindo todas as decisões judiciais, disse Joana Batista, diretora jurídica da Atvos, em entrevista por telefone na terça-feira. "Embora o foco seja a negociação amigável com seus credores, a empresa não se esquivará de usar meios legais se necessário no futuro, incluindo um pedido de recuperação judicial", disse ela.
Odebrecht e Castlelake não responderam a um pedido de comentário. Lone Star não quis comentar.
Um pedido de recuperação judicial da Atvos traz riscos para a controladora Odebrecht SA, que está dando aval a R$ 11 bilhões em empréstimos com os bancos locais da Atvos, disseram as pessoas, pedindo para não ser identificadas porque as negociações são privadas. Se os bancos exigirem que a Odebrecht honre seu aval, a holding também poderá ter de pedir recuperação judicial, disseram as pessoas.
O Banco do Brasil SA, o banco nacional de desenvolvimento BNDES e a Caixa Econômica Federal estão entre os maiores credores da Atvos, juntamente com o Banco Bradesco SA e o Itaú Unibanco Holding SA.
O Lone Star e o Castlelake pediram no início deste ano em uma ação na Justiça para tomar posse de 30% da produção de cana-de-açúcar de Atvos, que foi dada como garantia no empréstimo.
A Atvos conseguiu adiar a necessidade de alguns dos depósitos judiciais, mas está ficando sem novas opções legais para postergá-los novamente, disseram as pessoas. Sem um acordo com os bancos locais, o Lone Star poderia arrestar o caixa da empresa e um pedido de recuperação judicial da Atvos seria inevitável nas próximas semanas, de acordo com as pessoas. O juiz do caso agendou uma reunião de mediação em 3 de junho.
A Atvos, anteriormente conhecida como Odebrecht Agroindustrial, concluiu uma reestruturação de dívida de R$ 11 bilhões em 2016 e alongou seus vencimentos para 13 anos. A controladora, que também está reestruturando dívidas enquanto tenta se recuperar de escândalos de corrupção, injetou R$ 4 bilhões na Atvos na transação de 2016 e deu parte de suas ações na Braskem SA como garantia para um empréstimo com os bancos locais. Outros R$ 2 bilhões em ativos de energia foram dados como garantia aos bancos brasileiros.
Se a holding também entrar com pedido de recuperação judicial, as negociações para vender a Braskem para a LyondellBasell Industries seriam adiadas porque as ações da empresa seriam incluídas entre os ativos a serem divididos entre os credores, disseram as pessoas. O diretor financeiro da LyondellBasell, Thomas Aebischer, disse em 15 de maio que "ficaria muito surpreso se nos sentarmos aqui no terceiro trimestre e ainda não tivermos nenhuma decisão" sobre a compra da Braskem.
Outras empresas sob risco
Além da Atvos, outras unidades da Odebrecht também correm risco iminente de pedir recuperação judicial: a Odebrecht Empreendimentos Imobiliários e o estaleiro Enseada Paraguaçu, disseram as pessoas.
A unidade de construção Odebrecht Engenharia e Construção SA está tentando chegar a um acordo para reestruturar US$ 3 bilhões em dívidas inadimplentes desde novembro. A construtora está enfrentando resistência de um grupo minoritário de detentores de títulos da dívida externa, de acordo com pessoas com conhecimento da situação.
As conversas entre a construtora e os detentores da maior parte da dívida liderados pela Gramercy Funds Management LLC estão demorando mais do que os credores minoritários querem, disseram as pessoas. Um representante da Odebrecht Engenharia não quis comentar.
O grupo de credores com a maior parte dos títulos de dívida, que ainda está operando sob um acordo de confidencialidade, está preparando uma segunda proposta em resposta à oferta da construtora, disseram duas outras pessoas. A estratégia da empresa é tentar uma recuperação extra judicial com os detentores de mais de 60% da dívida e, em seguida, pedir a homologação a um Tribunal que imporia esse acordo a outros credores, incluindo possíveis perdas, de acordo com as pessoas.
Fonte: UOL