Os serviços brasileiros de engenharia e construção estão presentes no exterior desde o final dos anos 70, quando a construtora Odebrecht fincou sua bandeira no Peru com as obras da hidrelétrica de Charcany V em Arequipa, construída nas encostas do vulcão Misti. De lá para cá não só a pioneira Odebrecht como outras grandes construtoras nacionais - Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, OAS e Queiroz Galvão - passaram a oferecer serviços avaliados como dos mais sofisticados do mundo. Os principais focos são a construção de hidrelétricas, rodovias, ferrovias, metrôs, portos, aeroportos, gasodutos, oleodutos, saneamento, prospecção e exploração de petróleo e irrigação agrícola.
"Hoje as empreiteiras brasileiras atuam em quatro continentes e têm como diferencial a capacitação para fazer qualquer obra de infraestrutura seja em que país for e para todo tipo de cliente", afirma Augusto Cesar Uzeda, diretor superintendente da OAS Internacional, para quem essa especialização é o que permite ao Brasil concorrer até mesmo com as gigantes chinesas da infraestrutura (que também exportam serviços), algumas com mais de 1 milhão de empregados.
Segundo Carlos Frederico Braz, chefe do Departamento de Comércio Exterior do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), é inegável a presença agressiva dos chineses em vários continentes, principalmente o africano. "Uma razão a mais para o governo dar prioridade às exportações das construtoras nacionais, que têm marcado muitos gols lá fora, a despeito da concorrência cada vez mais acirrada", diz, lembrando que serviços engenharia estimulam ainda a exportação direta de bens para a execução das obras e, indiretamente, de bens decorrentes da abertura dos novos mercados.
Quando operam em outros países as empresas brasileiras absorvem as características das culturas locais, o que, somado aos conhecimentos acumulados pela engenharia nacional, permite o atendimento de variadas demandas e desafios em áreas que têm vulcões, terremotos e furacões com a mesma desenvoltura praticada no mercado interno. "De forma acessória, o crescente sucesso brasileiro na exportação de serviços de engenharia deve-se ao apoio financeiro de longo prazo do BNDES ao qual se juntam os mecanismos oficiais de seguro de crédito", cita Braz.
Em 2011 os desembolsos do BNDES à exportação de serviços voltados às obras de infraestrutura foram mais de 12 vezes superiores aos de 2003, ano que o Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - com participação do BNDES e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) - passaram a intensificar o trabalho de aproximação com os vizinhos da América do Sul e com países africanos, principalmente os lusófonos.
"No ano passado os desembolsos somaram US$ 1,47 bilhão e este ano, até agosto, chegaram a US$ 658,1 milhões", informa Braz, destacando que os destinos mais importantes em 2011 foram Angola, na África, com US$ 438,7 milhões (US$ 257,5 milhões até agosto de 2012), Venezuela, com US$ 392,9 milhões (US$ 23,2 milhões até agosto), e Argentina, com US$ 361,1milhões (US$ 92,1 até agosto).
Braz esclarece que a queda de desembolsos observada nos primeiros oito meses deste ano em relação à Venezuela e Argentina está mais ligada a fatores como "obras concluídas", do que qualquer outra coisa. "Esse 'vale' profundo que se observa é reflexo de alguns projetos de quatro ou cinco anos atrás que foram sendo entregues, além de espelhar a fase ainda incipiente de desembolsos de obras com lançamento recente."
A OAS, conta Uzeda, está presente hoje em 20 países e tem cerca de 7 mil empregados distribuídos pela América do Sul, América Central e Caribe, África e Oriente Médio. "Atualmente o volume de negócios da companhia no exterior é de US$ 4,1 bilhões e o crédito aprovado para exportação chega a US$ 2,5 bilhões", diz. As principais obras em execução são uma rodovia em Trinidad e Tobago, no valor de US$ 800 milhões; um complexo viário urbano em Lima, Peru, no valor de US$ 500 milhões; e um aqueduto na Argentina, no valor de US$ 400 milhões.
O presidente do Grupo Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, informa que a construtora está presente em 40 países - em 17 com obras em execução e em outros 23 com escritórios de prospecção de negócios. "Nos últimos cinco anos temos mantido a média de 12 mil funcionários no exterior, principalmente em países da África, América do Sul, Caribe e Oriente Médio." As exportações de serviços de engenharia representam 35% do faturamento total do grupo. Os principais projetos atualmente em execução reúnem uma grande siderúrgica e um estaleiro na Venezuela, um porto para a Vale na Argentina, além de um gasoduto no interior daquele país vizinho.
A Camargo Corrêa, conta com 3.253 funcionários (cerca de 10% do total da empresa) trabalhando na Argentina, Colômbia, Peru, Venezuela, Angola e Moçambique. Segundo Marcelo Bisordi, vice-presidente de relações institucionais da empresa, entre os principais empreendimentos está o projeto Tuy IV, na Venezuela, um sistema integrado de abastecimento de água que envolve construção de barragem, estação de tratamento e linha de transmissão.
"Também é relevante o projeto da hidrelétrica de Ituango, na Colômbia, com capacidade de 2.400 megawatts, no valor de US$ 1,1 bilhão", diz Bisordi, sendo esta a maior obra de infraestrutura em execução naquele país. Em Moçambique, na África, um projeto da hidrelétrica está em fase de estudos de viabilidade."
Com 32 anos de operação em terras estrangeiras, a Odebrecht já executou mais de 500 obras nos mais diversos países. Em 2011 sua exportação de serviços de engenharia gerou divisas de US$ 1,28 bilhão.
Fonte: Valor / Juan Garrido
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