O embate societário que permeia as atividades da Usiminas há anos se intensificou recentemente, com a participação de um acionista que não faz parte do bloco de controle: a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). A empresa de Benjamin Steinbruch é a maior investidora brasileira de sua concorrente mineira e ontem publicou uma carta aberta na qual critica a atuação das duas sócias controladoras - Nippon Steel & Sumitomo Metal e Ternium - Techint - na companhia.
A CSN questiona, inclusive com ações na Justiça, várias decisões dos controladores. O confronto começou em 2012, logo depois que o grupo Techint entrou na Usiminas. A CSN pediu a realização de uma oferta pública de ações (OPA), alegando que o grupo ítalo-argentino assumiu o controle da gestão da empresa, em acordo com a Nippon Steel.
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Em informe publicitário ontem no Valor, a CSN criticou o aumento de capital em R$ 1 bilhão (Já praticamente concluído), voltou a denunciar contratos com partes relacionadas entre a Usiminas e seus controladores e ressaltou seu "compromisso irrevogável" com o sucesso da siderúrgica. Para a acionista, dona de 17% da concorrente, a capitalização tem potencial dilutivo desnecessário sobre os minoritários.
Segundo a CSN, a Mineração Usiminas (Musa) deixou de distribuir cerca de R$ 1 bilhão em dividendos no passado e passou essas reservas de capital a seu caixa. Agora, esse recurso fez falta.
A Usiminas tenta acessar o caixa de R$ 1,3 bilhão da Musa, na qual tem 70% do capital. A japonesa Sumitomo Corp., que precisa aprovar a transferência, detém 30%. Esse dinheiro, na visão da CSN, seria suficiente para sanar as finanças, sem que fosse necessário recorrer ao aumento de capital.
Já foram garantidos R$ 999,98 milhões de aportes. A CSN acompanhou, mas fez depósito em juízo de R$ 179 milhões. Segundo fontes, isso pode travar o processo de renegociação de dívidas da Usiminas com bancos brasileiros e debenturistas. A CSN discorda.
Um advogado com conhecimento da situação, entretanto, disse ao Valor que bastaria a transação ser homologada, em assembleia geral extraordinária marcada para 19 de julho, para que o contrato com os bancos se mantenha. Segundo ele, não necessariamente a entrada do dinheiro em caixa é obrigatória.
No anúncio, a CSN aponta que contratos com partes relacionadas chegam a "R$ 20 bilhões" entre Usiminas e Nippon Steel e pede que sejam questionados. No formulário de referência atualizado dia 14, todavia, o Valor levantou R$ 1,2 bilhão, com saldo existente de R$ 651 milhões. Foram consideradas Nippon Corp. Nippon Steel, Nippon Steel Engineering, Nippon Usiminas e Unigal. A CSN aparece com R$ 309,7 milhões, saldo de R$ 89,5 milhões.
A outra parte controladora, o grupo Ternium-Techint, soma R$ 1,95 bilhão nessas transações. São contratos com controladas do grupo ítalo-argentino, como Confab, Siderar, Tenova, Ferrasa e várias subsidiárias da Ternium.
A CSN afirma que, na verdade, os japoneses venderam o controle total da Usiminas à Ternium em troca desses contratos. E volta ao tema da entrada do grupo ítalo-argentino no capital social, em 2011, que na sua visão ensejou o direito de retirada aos minoritários. "[A aquisição da Ternium] foi uma das maiores afrontas ao direito de minoria já cometidas no mercado de capitais brasileiro", declarou a CSN no anúncio.
O texto também questiona o desligamento da área primária da unidade de Cubatão (SP), a antiga Cosipa, e a demissão de quase 2.500 funcionários desde o segundo semestre do ano passado. Não faz sentido, disse a CSN, a Cosipa "não servir" para a Usiminas, mas sim para a Ternium, que ficaria com a usina em uma eventual divisão da empresa mineira.
Segundo fontes próximas aos dois controladores, uma das soluções para o embate societário que Nippon Steel e Ternium travam há anos seria a partilha da companhia. Ternium ficaria com a Cubatão, enquanto a usina de Ipatinga (MG), com os japoneses.
A CSN estranha que ambos "briguem" no Brasil, mas "andem de mãos dadas" em outros lugares como o México, onde dividem a gestão da Tenigal, de aços revestidos. "Esse aumento de capital facilitará a partilha da Usiminas", opinou a CSN, e "minoritários da Usiminas assistem estupefatos à degradação da companhia".
Procuradas, CSN, Nippon Steel, Ternium e Usiminas preferiram não comentar o assunto.
A CSN começou a adquirir ações da Usiminas no mercado desde o começo de 2011. Com cerca de R$ 3 bilhões investidos, o grupo chegou a uma participação de 17,4% do capital social da Usiminas - 14,1% em ações ordinárias, com poder de voto. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) barrou a operação e determinou que a empresa se desfaça desses papéis. O prazo não foi revelado pelo órgão.
Fonte: Valor Economico/Renato Rostás | De São Paulo