CSN faz lances ousados em cimento e ferro
O movimento da CSN para diversificar e internacionalizar seus negócios ganha força com a oferta de compra de 100% da cimenteira portuguesa Cimpor por € 3,86 bilhões (quase R$ 10 bilhões ) e passa pela venda, em uma oferta pública de ações (OPA), da mina de ferro Casa de Pedra, que fica em Congonhas (MG). Investidores aguardam a operação para meados de 2010 e estimam que renda aos cofres da CSN algo entre US$ 3,3 bilhões e US$ 5 bilhões se decidir vender 25% do capital da nova empresa que reunirá ativos de mineração e logística (ferrovia e porto).
Analistas ouvidos pelo Valor calculam que esse negócio - que inclui Casa de Pedra, 60% da mineradora Namisa, o terminal portuário em Itaguaí (RJ) e a participação na ferrovia MRS Logística - valha de US$ 13 bilhões a US$ 20 bilhões. O montante varia conforme a base de cálculo - menor se considerar o preço do minério de ferro no longo prazo (que tende a cair) e maior se utilizar o de curto prazo, que apresenta tendência de alta.
Estão previstas ofertas primária e secundaria de ações da nova empresa de mineração da CSN, em fase de gestação. A siderúrgica acaba de anunciar a cisão desses ativos para migrá-los para a nova companhia. A aposta na venda de 25% baseia-se no fato de que a mineradora deveria ofertar ao mercado o percentual mínimo para ser listada no Novo Mercado.
O plano de Benjamin Steinbruch, principal acionista, presidente do conselho e presidente da diretoria, é montar a quarta maior mineradora de ferro do mundo, com capacidade de produção de 100 milhões de toneladas por ano.
Os recursos obtidos com a OPA de Casa de Pedra poderão reduzir o endividamento da CSN, que ficaria elevado, caso tenha sucesso na aquisição da cimenteira. Analistas divergem sobre o potencial de alavancagem com a operação. Os números variam: entre relação de 2,4 a 3,7 vezes o Lajida sobre a dívida líquida da companhia. Além da oferta, a CSN herdaria uma dívida da Cimpor de € 1,8 bilhão.
A fatura pode ficar mais cara caso Steinbruch tenha de elevar o valor da oferta se houver recusa dos acionistas ou entrada na disputa de outros grupos. O prêmio de 5% proposto sobre o valor da ação foi considerado baixo. O papel, na sexta-feira, teve alta de 16%.
A avaliação é que a provável venda pela CSN de uma parte de seus ativos de minério de ferro e logística garante um conforto para Steinbruch elevar sua proposta pela Cimpor. Ele poderia reduzir no curto prazo o passivo líquido e equilibrar o balanço da companhia ainda em 2010. Feito isso, o próximo passo do empresário é a reestruturação dos negócios da CSN, seguindo o modelo de Eike Batista. O plano envolve a criação de uma holding de capital fechado que teria sob seu guarda-chuva as várias divisões de negócios da CSN, todas transformadas em companhias de capital aberto.
Para Pedro Galdi, analista da SLW Corretora, essa seria uma boa iniciativa, pois a diversificação em curso está descaracterizando a CSN. A holding passaria a abrigar a CSN Siderurgia (de aços planos e longos), a CSN Cimentos, que incorporaria a Cimpor, cujo capital seria fechado), a CSN Mineração (Casa de Pedra e parte da Namisa) e até uma CSN Logística.
Galdi diz que o primeiro passo da reestruturação já foi dado na semana passada quando o conselho aprovou o estudo para fazer a cisão dos ativos de mineração e logística. Ao seu ver, se a CSN conseguir comprar a Cimpor, ela ficará pressionada pela dívida no curto prazo, mas terá ganho no longo prazo, por conta da reestruturação, que a transformaria num conglomerado mundial de peso.
Na sexta-feira, o mercado reagiu mal à oferta da CSN para comprar a cimenteira: suas ações caíram quase 6% na Bovespa. Analistas e consultorias, como Ivan Fadel, do Credit Suisse, avaliaram que a aquisição pode representar boa oportunidade de diversificação e internacionalização para a CSN. Mas consideraram elevada a oferta, de 9,3 múltiplos de Lajida da Cimpor. Rodrigo Ferraz, da Brascan Corretora, alertou que o robusto caixa da CSN não é capaz de cobrir o valor integral da oferta e a dívida líquida subiria muito. Ambos apontam que a siderúrgica entra em um mercado que não tem sinergias diretas com seus principais negócios - aço e mineração. De 60% a 70% da receita da Cimpor vem de mercados emergentes.
Analistas do Itaú Securities consideram a aquisição racional e que a CSN faria uma consolidação num negócio com margens elevadas, ganhando uma marca global forte. Mas por outro lado, temem o risco de uma "guerra de ofertas" pela Cimpor desencadeada pela proposta da CSN. Esse setor já é bem consolidado e os grandes grupos globais podem se movimentar para barrar a entrada da CSN. A Cimpor tem dois grandes grupos portugueses como principais acionistas - Teixeira Duarte (23%) e Manuel Fino, com 11%. A francesa Lafarge, líder mundial, detém 17% do capital. Os três vivem desde maio entre si um conflito de interesses, o que fragilizou a empresa e atraiu o interesse de vários grupos.
Hoje, está prevista uma reunião do conselho de administração da Cimpor, na qual os conselheiros vão analisar a oferta da CSN. Poderão rejeitar ou acatá-la, mas isso não significa o desfecho. Cada acionista decidirá sozinho. A aprovação da oferta da CSN pelas autoridades, após efetivada em dez a 20 dias, levará de dois a três meses.(Fonte: Valor Econômico/Vera Saavedra Durão e Ivo Ribeiro, do Rio e São Paulo)