Benjamin Steinbruch, maior acionista, principal executivo e presidente do conselho da Cia Siderúrgica Nacional (CSN), tem um encontro importante nos próximos dias para discutir o futuro da Nacional de Minérios (Namisa), empresa que tem como sócios um consórcio de companhias do Japão, Coreia do Sul e Taiwan. O empresário vai se reunir com o presidente da trading japonesa Itochu, conforme apurou o Valor.
A Itochu, com 22% da Namisa, é a líder do consórcio, que conta com as siderúrgicas japonesas JFE Steel, Kobe Steel e Nisshin Steel, a sul-coreana Posco e a taiwanesa China Steel Corp.
O objetivo da reunião é avançar negociações para chegar a um acordo que evite que seus sócios na Namisa, mineradora de ferro na qual a CSN tem 60% e os asiáticos 40%, não exerçam seu direito de se retirar da sociedade em julho. Essa opção, ou "put", está prevista no acordo de acionistas para o caso de não serem cumpridas ou sanadas certas obrigações em determinados prazos acertados e no caso de se chegar a uma situação de "impasse extremo".
Trading Itochu e usinas de aço do Japão e Coreia do Sul pagaram US$ 3,1 bilhões por 40% do capital da mineradora
A possibilidade de uso do "put" pelos sócios de Steinbruch existe. Segundo informações, a CSN não levou avante os investimentos que estavam previstos para a Namisa desde 2009. Isso se tornou- motivo de desagrado dos acionistas asiáticos há um bom tempo. O acordo estipula que a parte que se sentir prejudicada pode exercer a opção de venda ou de compra da participação acionária.
Procurada, a CSN informou que não tinha declaração adicional a fazer além das informações do fato relevante que divulgou na sexta-feira à note. No comunicado, confirmou os desentendimentos com seus sócios, o que poderia resultar na dissolução da parceria. E acrescentou que estava buscando alternativas para dirimir as diferenças entre eles, incluindo a fusão de ativos minerais da CSN com os da Namisa.
Os desentendimentos com CSN vêm de longe e já causaram duas baixas, em 2011, de integrantes do bloco original - a Nippon Steel e a Sumitomo Metal.
As negociações atuais vão em duas frentes: solucionar a questão do plano de investimento da Namisa e a proposta lançada em meados de 2009 de uma fusão dos ativos da empresa com a mina Casa de Pedra, da CSN, formando uma nova companhia de minério de ferro. A fusão não avançou porque as ofertas da CSN não se mostraram atrativas aos olhos dos sócios para se tornarem sócios da nova mineradora.
As companhias asiáticas, com o interesse de assegurar fornecimento da principal matéria-prima do aço e de ter uma fonte alternativa à Vale e às australianas Rio Tinto e BHP Billiton, entraram na Namisa no fim de 2008 pagando US$ 3,08 bilhões por 40%. Para atraí-los, a CSN apresentou o desenho de uma mineradora apta a produzir e vender por ano 39 milhões de toneladas de minério de ferro, a partir de 2014. desse volume, 33 milhões seriam de produção própria.
Para atingir esse plano, foram definidos investimentos superiores a R$ 4 bilhões. Estavam previstas três grandes instalações para a Namisa: uma usina de beneficiamento de minério bruto que seria fornecido pela mina Casa de Pedra e duas pelotizadoras de minério aglomerado, de maior valor.
O investimentos, passados quatro anos, segundo fontes, pouco saiu do papel, deixando os sócios descontentes. Atualmente, as minas da Namisa tem capacidade de produção de 6,8 milhões de toneladas anuais. A meta era alcançar 13 milhões de toneladas neste ano. A usina e uma pelotizadora já deveriam estar prontas desde 2012.
As vendas da empresa, em 2012, somando compra de minério de terceiros e de material bruto da CSN, que foi beneficiado, foram da ordem de 20 milhões de milhões de toneladas, segundo dados do balanço da siderúrgica. No primeiro trimestre deste ano, a Namisa vendeu apenas 2,2 milhões de toneladas de minério.
Se o consórcio se decidir pela saída em julho será um baque para a CSN, que tenta fechar a compra dos ativos de aço da ThyssenKrupp no Brasil (usina da CSA, no Rio) e nos EUA (uma laminadora no Alabama). De acordo com informações obtidas pelo Valor, a CSN terá de indenizar o dinheiro investido pelos sócios na Namisa, impactando ainda mais o perfil financeiro da companhia de Steinbruch. Hoje, a relação dívida líquida sobre o Ebitda da CSN já é de 3,75 vezes.
Mas Steinbruch tem ainda a chance de empurrar essa decisão dos sócios para outubro. Está previsto no acordo um prazo de 90 dias desde a comunicação da "put" para a CSN fazer uma proposta de "reparação dos pontos não cumpridos". Se não tiver sucesso, em outubro o consórcio poderá exercer a segunda "put".
O acordo da Namisa, além da aquisição de minério bruto de Casa de Pedra, envolveu a prestação de serviços portuários em Itaguaí (RJ). Por isso, a mineradora antecipadamente pagou US$ 3 bilhões à CSN, pelo prazo de 35 anos, com os recursos recebidos do aporte de capital. O negócio incluiu ainda 10% da ferrovia MRS Logística.
A Namisa tem operações em quatro minas de ferro nas localidades de Engenho, Sarzedo e Fernandinho. Todas se encontram na região de Congonhas (MG), próximas de Casa de Pedra. No ano passado, obteve receita líquida de R$ 3,84 bilhões, com lucro líquido de R$ 1,62 bilhão. Do total vendido, 65% foi para a Ásia, principalmente China, Japão e Coreia do Sul, 24% para Europa e 11% para outros mercados.
Fonte: Valor Econômico/ Ivo Ribeiro | De São Paulo Rich Press/Bloomberg
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