Todas as empresas que querem ter compromissos com a sustentabilidade precisam começar a incorporar os custos das emissões de carbono nas operações. A visão é do diretor geral de exploração e produção da petroleira francesa TotalEnergies no Brasil, Charles Fernandes.
Para o executivo, é necessário começar a precificar emissões mesmo naquelas atividades em países que ainda não têm um mercado regulado de carbono, como é o caso do Brasil.
“Toda empresa que tem o compromisso de ser sustentável tem que embutir preços a essa questão. Fazendo isso, se dá o sinal correto da direção para onde se deve direcionar o capital”, diz.
Segundo Fernandes, estimar custos associados ao carbono em cada projeto ajuda a fazer com que as empresas não deixem de lado questões que podem torná-los menos viáveis no futuro.
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Além disso, o executivo da empresa francesa ressalta que precificar as emissões faz com que cada investimento tenha que ser o mais eficiente possível.
“Quando lançamos um projeto, hoje, estimamos o preço do carbono, para avaliar se a iniciativa segue sendo robusta num cenário em que há um preço a ser pago pelas emissões. O que defendemos é que as empresas têm um papel de começar a incorporar de antemão a lógica de que daqui a cinco ou dez anos o carbono vai ser precificado, porque assim decisões de investimento vão se alinhar”, afirma.
As discussões sobre mercados de CO2 voluntários e regulados se inserem no contexto da transição para uma economia de carbono, em busca de combater as mudanças climáticas.
O diretor da TotalEnergies no Brasil acredita que as discussões a respeito da taxação sobre o carbono devem se intensificar no Brasil nos próximos três anos. “O Brasil ainda não tem uma precificação para as emissões, mas as empresas precisam começar a já atribuir um preço para isso”, afirma o executivo.
No mês passado, o governo federal publicou o decreto que cria o mercado de carbono no Brasil. Fernandes diz que ainda não está claro quando, de fato, passará a ser necessário ter que pagar pelas emissões no país. Ainda assim, segundo ele, essa tendência é “inevitável”.
“Na Europa, já existe um mercado e, em função do quanto se emite, a empresa tem um custo a pagar pelas emissões, que flutua em relação ao preço do carbono no mercado. A tendência do mundo é essa”, aponta.
No contexto da transição energética, a TotalEnergies estabeleceu como diretriz que vai direcionar 25% dos investimentos globais do grupo para energias renováveis. Outros 25% do montante total serão aplicados em projetos de transição para uma economia com menos emissões como é o caso de projetos de gás natural liquefeito (GNL).
A manutenção dos negócios atuais, no setor de petróleo e gás, passa assim a contar com apenas 50% dos investimentos totais.
No Brasil, atualmente a TotalEnergies tem uma produção de 66,5 mil barris por dia (barris ao dia) de petróleo e 2,5 milhões de metros cúbicos por dia (m3 ao dia) de gás natural, de acordo com dados de abril da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Segundo Fernandes, o baixo custo e a baixa taxa de emissões do petróleo e do gás produzidos no país fazem com que o Brasil seja uma região importante no portfólio da empresa.
No segmento de renováveis, a companhia atua por meio da subsidiária Total Eren, que tem atualmente 300 megawatts (MW) em operação no país em ativos de geração solar e eólica.
A empresa também já demonstrou interesse em investir em geração de energia eólica em alto-mar (offshore) e tem uma equipe dedicada a avaliar oportunidades nesse segmento no país. Hoje, o Brasil não tem eólicas offshore e a definição de uma regulação para o segmento ainda está em andamento.
“Temos interesse e contamos com a definição regulatória para que a gente possa seguir”, disse a desenvolvedora sênior de projetos da TotalEnergies, Fernanda Scoponi, em evento do setor que ocorreu nesta semana no Rio.
Fonte: Valor