Em meio a um quadro de queda nas vendas de aço e reajustes nos preços de matérias-primas, como minério de ferro e carvão, a Usiminas reportou ontem lucro líquido de R$ 156,6 milhões no segundo trimestre, resultado que ficou 62% abaixo dos R$ 414,7 milhões de um ano antes.
Com isso, a siderúrgica mineira acumulou ganhos de R$ 172,6 milhões no primeiro semestre, 78% abaixo dos R$ 789,9 milhões do mesmo período de 2010. O lucro só não foi pior devido à melhora no campo financeiro do balanço, favorecido pelo impacto cambial.
A companhia revelou que o custo de produção - também abalado pelo encarecimento da mão de obra - subiu 5% no primeiro semestre, o que derrubou o Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) para R$ 702,3 milhões, 56% abaixo de 2010.
Na mesma base de comparação, a margem Ebitda, que mede a relação entre esse indicador e a receita líquida, caiu 12,4 pontos percentuais, para 11,5% no semestre.
Quando se considera apenas o segundo trimestre, o Ebitda somou R$ 365,3 milhões, uma queda de 58,1% em relação ao mesmo período de 2010- com a margem Ebitda praticamente caindo pela metade: de 24,3% para 12,1%.
A piora nos resultados operacionais já era esperada em virtude da dependência da Usiminas em relação ao fornecimento de matérias-primas por terceiros. A impossibilidade de repassar aos clientes os fortes reajustes dos insumos tem apertado as margens das siderúrgicas com estruturas de produção menos verticalizadas.
O cenário levou o presidente da Usiminas, Wilson Brumer, a dizer ontem que a indústria siderúrgica terá que se "reinventar" para enfrentar um ambiente de negócios mais desafiador, no qual as matérias-primas ganham espaço na composição de custos e corroem a rentabilidade.
Além de custos trabalhistas e de insumos, pesou no balanço da companhia o aumento de 8% nas despesas operacionais, que totalizaram R$ 335,8 milhões de janeiro a junho. Fora isso, o aumento de custos e despesas se deu ante uma queda de 8% nos volumes de produtos siderúrgicos vendidos, de 3,17 milhões de toneladas no semestre. A receita líquida também marcou retração de 8%, para R$ 6,08 bilhões de janeiro a junho.
O tombo no resultado só foi suavizado pelo impacto da valorização do real no campo financeiro do balanço. Em valores líquidos, a Usiminas teve uma receita financeira de R$ 89,1 milhões no primeiro semestre, revertendo as perdas de R$ 172,2 milhões apuradas nessa rubrica um ano antes.
A Usiminas relatou em seu balanço que, apesar do aumento de 5% no consumo brasileiro de aços planos na passagem do primeiro ao segundo trimestre, houve queda significativa de demanda no fim de junho.
Durante apresentação dos resultados, Brumer comentou que os fundamentos do setor mudaram nos últimos anos. Segundo ele, os fatores variáveis da produção, como insumos e mão de obra, respondem hoje por 80% dos custos totais, forçando as empresas a buscar a verticalização das atividades para reduzir a exposição à escalada nos preços de commodites.
O executivo disse que, no passado, a situação era inversa, com apenas 20% dos gastos ligados a fatores variáveis e a maior parcela, 80%, constituída por custos fixos.
A empresa trabalha com tendência de maior estabilidade nos preços dos principais insumos - como minério de ferro e carvão - no terceiro trimestre. No entanto, avalia que as matérias-primas seguirão cotadas em patamares elevados no longo prazo, o que exigirá novos esforços na busca por ganhos de eficiência, melhoria de processos e uma estrutura de produção mais integrada.
A discreta melhora operacional da Usiminas entre o primeiro e o segundo trimestre, quando a margem Ebitda subiu de 11% para 12,1%, agradou alguns analistas, que viram no movimento reflexos de iniciativas para reduzir custos e despesas. O consenso, porém, é que o cenário para as siderúrgicas nos próximos meses seguirá difícil.
Na esteira da divulgação do balanço, as ações da Usiminas fecharam ontem em alta de 1,1%, na contramão do desempenho do Ibovespa, principal índice da bolsa, que recuou 2,1%.
Brumer disse que ainda há espaço para mais ganhos de eficiência e fez uma analogia entre as medidas para enxugar custos e uma toalha molhada: sempre há uma gota para sair quando é torcida. "Só não pode rasgar a toalha", comparou.
Fonte:Valor Econômico/Eduardo Laguna | De São Paulo
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