Num cenário econômico em que o Brasil é um dos principais destinos de investimentos internacionais, o Rio Grande do Sul vive uma situação limite. Por um lado, as deficiências estruturais, agravadas pela questão cambial, limitam o processo de internacionalização das empresas gaúchas e, por outro, são fatores que afugentam os investidores estrangeiros. A avaliação do economista e diretor da Agenda 2020, Paulo de Tarso Pinheiro Machado, é ilustrada pela observação feita a ele por um advogado de São Paulo. Segundo ele, acontece de os investidores estrangeiros apresentarem listas de estados onde buscam oportunidades de investimento e o Rio Grande do Sul fica sistematicamente de fora.
Os desafios do Estado para transformar essa realidade e aproveitar o bom momento da economia nacional foram o tema central da palestra do economista no Fórum Economia e Finanças, promovido nesta quinta-feira pelo IV Ciclo de Decisões da Câmara Americana de Comércio (Amcham). Machado mostrou os quatro grandes desafios do Estado, apontados pelos trabalhos da Agenda 2020: político (gestão pública), social (educação), econômico (infraestrutura) e comportamental (a dificuldade de construir consenso e definir pautas mínimas). Avaliando dados da Previdência Pública estadual, que tem déficit de R$ 5,4 bilhões anuais, ele mostrou o impacto das dificuldades gaúchas de encontrar formas eficientes de gestão e formar consensos.
O fórum, marcado por um tom mais positivo, contou com as palestras de Rodrigo Esteves, sócio da Confrapar Participações, e de Pedro Paulo de Campos, sócio da Angra Partners, que mostraram os caminhos que colocam o Brasil na rota dos investimentos internacionais. Esteves mostrou que a estabilidade econômica e o crescimento do Brasil atraem o interesse dos investidores estrangeiros, muito além das bolsas. Ele afirmou que o País já é apontado como mais atrativo que a Índia e a China por quem busca participação, fusão ou aquisição de empresas de pequeno e médio porte. "O que os empresários nacionais precisam fazer para atrair esses investimentos é ter demonstrado um histórico de crescimento, boa governança e foco no seu negócio. Ninguém busca investimentos na área de tecnologia de uma forma genérica, quem vem ao Brasil atrás de oportunidades de investir no setor sabe exatamente o que quer", observou.
Já o sócio-fundador da Angra Partners observa que é crescente a procura por retornos de médio e longo prazo, com critérios definidos de gestão. "São pessoas dispostas a deixar o dinheiro aqui por dez anos e apostar em empresas que tenham condições de crescer. Elas têm, inclusive, a disposição de aprimorar a gestão e a captação de talentos. Cada vez mais aspectos de responsabilidade social e ambiental também são valorizados por esses grupos, que têm origens nas mais diversas partes do mundo", disse Campos. Enquanto Esteves apontou que o Brasil, apesar de viver um momento de grandes oportunidades, precisa enfrentar gargalos como a qualidade da educação e do acesso à internet, Campos afirmou que um dos critérios objetivos que utiliza na avaliação de negócios é a ausência da interferência do governo. "Não contamos com a eficiência do Poder Público. E como no varejo essa influência é quase inexistente, esse é um dos setores que nos parece mais atraente", disse ele.
Fonte: Jornal do Commercio (RS)
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