Fevereiro aprofundou o desempenho negativo da balança comercial brasileira ao fechar com um déficit de US$ 2,125 bilhões, o pior resultado para o mês desde o começo da série histórica do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), em 1993.
Somado ao resultado de janeiro, que foi o pior mês da história para a balança comercial, o rombo no primeiro bimestre se torna o pior da série. A relação entre exportações e importações nos dois primeiros meses de 2014 é deficitária em US$ 6,183 bilhões.
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O secretário de Comércio Exterior, Daniel Godinho, credita à Copa uma das contribuições negativas para o resultado. Segundo ele, os desembarques de eletroeletrônicos e suas partes e componentes cresceram fortemente nos dois primeiros meses do ano.
Esses produtos, principalmente televisores, são classificados como bens de consumo duráveis. As importações dentro desse grupo avançaram US$ 524 milhões (quando excluído os automóveis) na comparação entre os dois primeiros meses de 2013 e igual período de 2014.
Além disso, Godinho apontou outros dois responsáveis pelo déficit histórico no primeiro bimestre: a alta nas importações de bens de capital de US$ 173 milhões e o crescimento nos desembarques de matérias-primas e intermediários de US$ 664 milhões.
Esses movimentos fizeram com que as importações avançassem em valores absolutos de US$ 36,835 bilhões para US$ 38,143 bilhões. Enquanto isso, as exportações subiram de US$ 31,516 bilhões para US$ 31,960 bilhões. No critério da média diária, porém, as importações caíram 1,4% no primeiro bimestre, contra mesmo período de 2013. Na mesma comparação, as exportações recuaram 3,4%.
Godinho apontou ainda que os problemas na Argentina prejudicaram as exportações brasileiras para o país, que caíram 16% no bimestre. Mas apesar desse movimento, o saldo comercial com o país cresceu, já que as importações provenientes da Argentina (principalmente trigo) caíram 26,9% em janeiro e fevereiro.
Apesar disso, Godinho se mostrou preocupado com a queda de 18,7% nas exportações para o país em fevereiro. "A Argentina é nosso terceiro maior parceiro comercial, um destino tradicional de manufaturas, por isso há a preocupação de aumentar as exportações para esse país", disse. Segundo ele, o governo está discutindo mecanismos para reverter esse resultado, mas não deu detalhes sobre o assunto.
Já a conta petróleo, principal vilão da balança em 2013, está mais comportada em 2014. Levando em conta petróleo e derivados, o déficit no primeiro bimestre do ano é de US$ 3,6 bilhões. No mesmo período do ano passado, o saldo negativo era de US$ 4,6 bilhões. Apesar da queda, o déficit ainda é considerado alto pelos analistas (ver texto abaixo). "Percebe-se a melhora na conta petróleo puxada pelas exportações", avaliou Godinho.
Apesar do número negativo acumulado em 2014, Godinho manteve a previsão de superávit na balança em 2014. Isso será possível, avaliou Godinho, porque a demanda relativa à Copa deverá acabar após o evento, "em maio ou junho". Além disso, "temos expectativa de aumento [nas exportações] em função da safra recorde", completou o secretário. Godinho disse ainda que o câmbio pode "ajudar" a balança. Ele acrescentou, porém, que esse fenômeno ainda não foi verificado e pode acontecer com uma defasagem de até dois anos.
Fonte: Valor Econômico/Lucas Marchesini e Vandson Lima | De Brasília