A dívida em moeda estrangeira voltou a pesar sobre o balanço da Usiminas, que apurou prejuízo líquido de R$ 247,5 milhões no primeiro trimestre - valor atribuível aos controladores. As obrigações da companhia somam R$ 7,15 bilhões de janeiro e março: endividamento líquido de R$ 4,53 bilhões. Mais de 39% está denominado em dólares. Com a desvalorização do real frente à moeda americana, o resultado financeiro ficou negativo em R$ 360,9 milhões, ante R$ 18,1 milhões no vermelho um ano antes, e derrubou a última linha.
Em teleconferência com analistas de bancos, Rômel Erwin de Souza, presidente da empresa, se mostrou mais otimista frente à competição com os produtos siderúrgicos importados em 2015. A expectativa é que as importações no ano recuem frente a 2014. Mas no mercado externo, o executivo revelou que a maior parte das usinas opera perto do ponto de equilíbrio, ou seja, as atividades podem ficar no vermelho facilmente.
Nos mesmos meses de 2014, a siderúrgica havia registrado lucro de R$ 184,6 milhões. Também pioraram os números uma queda nas vendas do aço, o menor faturamento com energia excedente e a operação deficitária da área de mineração. A receita líquida da empresa recuou 14,7% sobre as mesmas bases, para R$ 2,68 bilhões.
O volume de aço vendido pela companhia caiu 12,6% também na comparação anual, para 1,26 milhão de toneladas, enquanto a produção ficou 16,5% menor, em 1,38 milhão de toneladas. As vendas do trimestre devem se manter. Quanto ao preço, Souza calcula que o aço brasileiro atualmente é vendido a um prêmio entre 5% e 10% na comparação com o importado, próximo ao limite.
Em entrevista ao Valor, Souza disse que a Usiminas pretende ampliar suas exportações para os EUA como forma de compensar a demanda desaquecida de aço no Brasil. A siderúrgica baseada em Minas Gerais teve aumento no lucro bruto e no Ebtida, surpreendendo positivamente analistas de mercado, mas, na última linha fechou o trimestre no vermelho.
Segundo Souza, as margens de ganho nos EUA tornam esse mercado a opção mais natural a ser explorada nesse momento de busca de reforço das exportações. "É o melhor mercado hoje em termos de siderurgia no mundo. E quando falamos em aumentar as exportações, falamos prioritariamente do mercado americano."
O balanço divulgado ontem mostrou que de todo o volume vendido no período, 12% foi no exterior. Os EUA já lideram como destino de 45% das vendas externas. A Argentina aparece em segundo, com 35%. As vendas ao país vizinho dão à Usiminas, diz o executivo, as melhores margens no mercado externo. "Para lá, temos um fornecimento continuado, clientes bem definidos. O que nos dá hoje a melhor margem no mercado externo à exceção da Argentina é o mercado americano."
Os embarques para os EUA se concentram em chapa grossa, laminados e galvanizados a quente, produtos de maior conteúdo tecnológico e maior valor agregado.
A unidade de mineração de ferro teve prejuízo operacional de R$ 9 milhões, em relação a lucro de R$ 151 milhões em igual período de 2014. Com a abertura do porto Sudeste aguardada para a virada de junho para julho, Wilfred Brujin, diretor dessa área, espera que se aprofunde a redução dos custos nesse segmento.
Apesar da piora financeira, o balanço trouxe melhores indicadores, em geral, desde o segundo trimestre do ano passado. Apresentou Ebitda ajustado de R$ 379,5 milhões, com margem de 14,2%. A última vez que o índice rentabilidade havia ficado tão alto foi entre abril e junho, com 17,7%. Os números do balanço foram melhores do que esperavam analistas. As ações preferenciais empresa, que compõem o Ibovespa, subiram 6,76%, para R$ 6, entre as maiores altas.
Souza tem expectativas de também ampliar as vendas no mercado brasileiro. Espera que o câmbio valorizado afugentará importações de aço, abrindo espaço para fabricantes nacionais. Todavia, as previsões do Instituto Aço Brasil, formado pelas siderúrgicas, apontam para uma retração da ordem 6% este ano. E a economia brasileira caminha para um encolhimento de 1,5%, segundo previsões.
No primeiro trimestre, no entanto, as vendas de aço da Usiminas no Brasil cresceram 10%; enquanto o consumo aparente médio no país cresceu 5%, lembra Souza. "Esse é o trabalho para compensar parte daquilo que a gente 'perde' em função do câmbio."
O dólar valorizado, como mencionado, se revelou um grande peso para a siderúrgica. "Esse resultado negativo que tivemos foi todo ele causado pela desvalorização cambial." "Temos expectativa que a partir de 2016 as coisas possam estar bem encaminhadas e comece uma recuperação".
Sobre demissões, disse que a empresa não prevê isso ainda com o cenário de retração econômica. Segundo ele, o esforço da companhia é manter o nível de produção, buscando alternativas ao seu mercado tradicional, o interno.
(Fonte: Valor Econômico/Renato Rostás e Marcos de Moura e Souza | De São Paulo e Belo Horizonte)
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