O peso do dólar mais caro sobre as dívidas e o aumento e intensidade das perdas com importações de gasolina e diesel poderão levar o lucro da Petrobras,
que será divulgado hoje à noite, ao menor nível em dez anos.
A média das projeções de seis instituições consultadas pelo Valor - HSBC, Ágora, Credit Suisse, Itaú BBA, Deutsche Bank e Bank of America Merrill Lynch (BofA) - aponta para um lucro de R$ 3,99 bilhões entre abril e junho, o valor mais baixo desde o segundo trimestre de 2002, considerando-se os dados ajustados pela inflação. Na comparação com o mesmo período de 2011, a retração é de 64%.
A estimativa média em relação às receitas é de R$ 68,2 bilhões, alta de 11% em relação a um ano antes. Entre os analistas consultados, há pouca variação nas previsões para o indicador. A mais otimista é do Credit Suisse, que prevê receitas líquidas de R$ 70 bilhões, enquanto o mais pessimista é o HSBC, com expectativa de R$ 66 bilhões.
Apesar do crescimento das receitas, a expectativa é de custos pressionados, por cauda do consumo aquecido, que elevou as importações de gasolina e diesel. Com isso, é esperada uma redução no resultado operacional. A média das projeções para o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) é de R$ 14,9 bilhões, um recuo de 7,3% na comparação anual.
Os analistas Paula Kovarsky e Diego Mendes, do Itaú BBA, observam que o maior consumo de gasolina e diesel no segundo trimestre aumentou a participação dos produtos importados no mix de vendas da Petrobras, o que é refletido no indicador Custo dos Produtos Vendidos (CPV).
Na quarta-feira, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, mostrou que, no primeiro semestre de 2012, o consumo de gasolina cresceu 23% sobre o mesmo período do ano passado) e o de querosene de aviação (QAV) subiu 7,1%. No diesel, o consumo foi de 870 mil barris por dia, dos quais cerca de 21% foram importados.
No relatório do Deutsche, os analistas Marcus Sequeira e Luiz Fonseca ressaltam que as perdas no refino devem aumentar devido ao fosso cada vez maior entre os preços da gasolina e diesel no mercado internacional e seus efeitos sobre os estoques da Petrobras.
Os aumentos nos preços só ocorreram a partir do fim de junho, o que significa que o trimestre foi praticamente todo afetado. "Esperamos baixas margens na área de refino no trimestre, principalmente devido ao aumento dos custos dos produtos refinados", afirmam.
Para além do peso das importações e o descasamento entre preços domésticos e internacionais, já velhos conhecidos - e indesejados -, o balanço do segundo trimestre deve contar com um novo vilão: o efeito cambial.
No segundo trimestre, o dólar Ptax valorizou-se 10,9% frente ao real, valor que vai pesar sobre os cerca de R$ 76,5 bilhões que a Petrobras tinha em dívidas expostas à variação cambial no fim de março. E, se em relação ao desempenho operacional há um consenso entre o mercado, a parcela da receita consumida pelo peso da variação cambial sobre a dívida divide os analistas.
O HSBC é o mais otimista e estima um lucro de R$ 7,9 bilhões no trimestre, queda de 27,8% em relação a um ano antes. Por outro lado, está a Ágora Corretora, que prevê um recuo de 82,6% na linha final do balanço da petroleira, impulsionada principalmente por perdas cambiais da ordem de R$ 7,5 bilhões.
Em relatório enviado aos clientes, o analista Luiz Otavio Broad reconhece as incertezas que rondam o indicador financeiro: "Esse lucro líquido poderá variar de acordo
com as perdas cambiais efetivamente reconhecidas ou com possíveis reversões de imposto de renda", assinala.
O Itaú BBA engrossa o coro mais pessimista e prevê um lucro de R$ 2 bilhões no período. Já o Credit Suisse fica no meio do caminho - o banco estima que a Petrobras divulgará um lucro líquido de R$ 3 bilhões, decorrente do impacto financeiro de R$ 5 bilhões a R$ 6 bilhões da variação cambial.
O Deutsche Bank tem uma projeção um pouco maior para o lucro, de R$ 4,8 bilhões. O valor está praticamente em linha com a estimativa do Bank of America Merrill Lynch, que espera um lucro líquido de R$ 4,4 bilhões no segundo trimestre.
Fonte: Valor / Claudia Schuffner e Natalia Viri
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