As exportações brasileiras de grãos e cereais, estimadas em 247 milhões de toneladas em 2020, enfrentaram dificuldades em março por causa dos decretos municipais, que fecharam postos de combustíveis e restaurantes. O tráfego de caminhões foi afetado por atrasos nos exames fitossanitários das mercadorias. E os preços do frete rodoviário subiram, devido à menor disponibilidade de veículos.
Mas, segundo empresários do agronegócio, foi tudo muito rápido. “Na Bunge, as dificuldades iniciais foram superadas e não houve impeditivo para o escoamento das mercadorias”, diz Raul Padilla, presidente de operações globais da trading americana. Segundo ele, a empresa vem conseguindo cumprir com os volumes planejados. Exportou 2,6 milhões de toneladas de grãos do Brasil no primeiro trimestre, mesmo patamar de igual período em 2019.
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A empresa teve ajuda da tecnologia para superar obstáculos, diz Padilla. Em janeiro, a Bunge iniciou a implantação do Vector, um aplicativo para agendamento de fretes de grãos por caminhoneiros e transportadoras. Já são mais de 28 mil motoristas cadastrados e a previsão é chegar a 50 mil até o final do ano. “O sistema tem a vantagem de eliminar uma etapa presencial do processo de contratação do frete, pois a retirada da ordem de carga passa a ser digital”, conta.
Os embarques de soja e farelo também continuam sendo realizados dentro da normalidade pela Archer Daniels Midland (ADM), outra grande operadora de grãos do país. “Evitar a interrupção das operações em toda a cadeia de suprimentos agrícolas agora, mais do que nunca, é essencial para garantir que as pessoas continuem tendo acesso à nutrição que necessitam”, explica Eduardo Rodrigues, diretor de logística e portos da ADM para América do Sul. A ADM transporta anualmente mais de 20 milhões de toneladas de grãos e produtos acabados por meio de sua rede logística.
“Até abril, os embarques totais de soja alcançaram a marca histórica de 14,3 milhões de toneladas, representando 35% de aumento em relação ao mesmo período do ano passado, e a ADM acompanhou esse crescimento”, assinala.
Para a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), mesmo com o fechamento de fronteiras de alguns países, nada foi alterado no ritmo de exportações de grãos. De janeiro a junho, informa Sérgio Mendes, diretor-geral da Anec, a expectativa é exportar 74,2 milhões de toneladas de grãos. “É possível até que tenhamos um novo recorde de safra de grãos este ano”, diz.
Pelo menos no Mato Grosso, essa tendência deve se confirmar, a continuar o atual movimento de exportação, aponta Daniel Latorraca, superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), ligado aos produtores de grãos da região. “Ao fim do primeiro semestre, deveremos atingir um volume de 17,5 milhões de toneladas, o que representa 84% de toda exportação projetada para 2020.”
No café, segundo Carlos Augusto Rodrigues de Melo, presidente da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), os estoques chegaram a níveis baixíssimos, pois a safra passada foi de ciclo baixo. Em 2019 foram embarcados 5,4 milhões de sacas e este ano, já foram 1,8 milhão de sacas. Os maiores embarques serão feitos a partir de agosto.
Fonte: Valor