Os analistas adotaram um tom mais conservador na Carteira Valor deste mês em relação a janeiro. O segmento de commodities, tido como mais arriscado por conta da correlação direta com o desempenho da economia mundial e do balizamento por preços internacionais, entre outros fatores, perdeu espaço. Petrobras e Gerdau, que apareciam no início do ano, deram lugar a companhias com fundamentos ligados ao mercado interno. A única aposta mantida no setor de commodities foi nas ações da mineradora Vale - que, aliás, lideram as indicações gerais para fevereiro, com quatro votos no portfólio sugerido pelos especialistas.
Na última sexta, a Vale divulgou um aumento de 3,1% na produção de minério de ferro no quarto trimestre de 2012 em relação a igual período do ano anterior. Segundo a companhia, o volume produzido entre outubro e dezembro superou o do terceiro trimestre, algo pouco comum e que não ocorria desde 2003. Na opinião de analistas, um aspecto importante é que o resultado veio acompanhado de um preço médio melhor do minério, o que contribuirá ainda mais para o aumento de receita.
Eles lembram que a melhora conjuntural tem relação direta com a dinâmica da economia chinesa, que passou a repor seus estoques de minério, impulsionando os preços da matéria-prima.
Uma das que apostam na Vale é a Octo Investimentos. A equipe de análise da instituição ressalta a baixa alavancagem da mineradora, tendência de manutenção do preço do minério no mercado internacional e a expectativa de um retorno com dividendos na casa de 4,5% neste ano. A companhia pretende pagar em 2013 proventos mínimos equivalentes a US$ 4 bilhões, montante que pode ser acrescido se houver distribuições extras, lembra a Octo.
Com relação à Petrobras, os papéis da companhia seguem como sinônimo de investimento a longo prazo. "É a aposta mais arriscada da nossa carteira", diz Pedro Galdi, estrategista da SLW Corretora. Ele afirma que a postura do governo tem contribuído muito para o mau humor do mercado em relação à estatal. "Um dia antes disseram que não haveria aumento [dos combustíveis], daí bateram no dólar e em seguida veio o reajuste. O grande problema é a condução das decisões", afirma ele, lembrando que, de forma incomum, as ações da Petrobras caíram no pregão seguinte à notícia de aumento dos preços. A companhia anunciou semana passada um reajuste de 6,6% na gasolina e de 5,4% do diesel, preços válidos para a venda dos produtos nas refinarias.
Para Galdi, a definição de novos preços de combustíveis às vésperas da divulgação dos demonstrativos financeiros de 2012 da Petrobras, aguardados para hoje, deixa a impressão de que a medida seria uma forma de amenizar o impacto de eventuais números negativos. Apesar das ressalvas, o estrategista da SLW diz que as ações da petrolífera já caíram bastante e podem ser uma alternativa para quem mira um horizonte mais longo.
A alta dos combustíveis mexeu também com os papéis da Cosan. "A companhia deve se beneficiar da elevação de 20% para 25% do percentual de etanol na gasolina e também do reajuste do preço do combustível, uma vez que o preço do etanol cresce na mesma direção", escreveram os analistas da corretora Ativa. Outros catalisadores do crescimento da maior produtora e processadora de cana-de-açúcar do mundo são a possível entrada no bloco de controle da empresa de logística ALL e a modernização da rede de distribuição de combustíveis, agora com a marca Shell.
"A Cosan tem uma estratégia sólida para prosperar na distribuição de combustíveis e de gás, no negócio de açúcar e etanol, logística, lubrificantes e arrendamento de terras agrícolas", afirmam os analistas da Bradesco, chamando a atenção para a verticalização da empresa.
A discussão sobre commodities, que envolve a expectativa em relação ao desempenho das ações de Petrobras e Vale, não se restringe ao grande porte financeiro destas companhias. Como os papéis têm o maior peso individual no principal índice da bolsa (Ibovespa), podem influenciar a percepção geral sobre o mercado de ações brasileiro. Neste ponto, outra aposta da SLW são as ações da própria BM&FBovespa. Galdi afirma que os ativos podem ganhar fôlego no segundo semestre, caso se confirme a expectativa de notícias mais positivas sobre a economia mundial e sobre o ajuste fiscal nos Estados Unidos.
"A China já mostrou que está se recuperando. Com um ambiente externo mais saudável, as bolsas tendem a subir pelo mundo", diz Galdi. "Por aqui, se os IPOs [ofertas públicas iniciais de ações] voltarem, haverá crescimento de receita na bolsa." Ele destaca ainda que o volume diário negociado no mercado local tem evoluído de maneira importante, sinalizando que, em breve, pode se consolidar em um novo patamar, acima de R$ 6 bilhões.
Fonte: Valor / Márcio Anaya e Karla Spotorno
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