Após dois anos em que as empresas brasileiras investiram pouco mais de R$ 45 bilhões em aquisições de participação de capital fora do país, o ímpeto de internacionalização das companhias diminuiu em 2012. Entre janeiro e maio deste ano, a saída líquida de recursos do Brasil para aquisição de participações de capital em empresas estrangeiras foi de apenas US$ 2 bilhões, redução de 85% em relação aos US$ 13, 8 bilhões do mesmo período do ano passado, de acordo com dados do Banco Central.
A diminuição do porte das aquisições internacionais é efeito da crise, dizem especialistas, já que o horizonte mais curto de planejamento reduz não apenas a disposição para investir no Brasil, mas também a capacidade de expansão internacional. Em alguns casos, pesa ainda o fato de que as empresas ampliaram sua posição no exterior, mas agora encontram-se em um momento em que é preciso consolidar a estratégia.
Nos primeiros cinco meses deste ano, deixaram o país US$ 5,8 bilhões em recursos para compras de participação no capital de empresas estrangeiras, mas retornaram ao Brasil US$ 3,8 bilhões ao país, equivalentes a vendas de ativos no exterior.
Do total de participações adquiridas neste ano, 22,5% referem-se a uma única operação: a aquisição, feita pela Ambev, do controle da cervejaria República Dominicana CND, por R$ 2 bilhões, de acordo com o anúncio oficial.
Para Luís Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), o volume menor de aportes de companhias brasileiras fora do país é decorrente principalmente do ambiente de negócios bastante adverso desde meados do ano passado. "É uma resposta à crise e, no curto prazo, essa tendência deve prevalecer, o que leva à redução dos investimentos ou mesmo repatriação de recursos".
Os retornos de recursos ao Brasil com vendas de participações no capital aumentaram 342% nos cinco primeiros meses deste ano, em relação aos US$ 840 milhões que voltaram ao país no ano passado.
Miguel Pérez, assessor econômico da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), comenta que esses dados, como ainda representam um volume pequeno de operações, podem ter alguma volatilidade. Para ele, é justamente o reduzido número de multinacionais brasileiras que contribui para a forte desaceleração do investimento em participações no capital de empresas estrangeiras, pois grandes projetos de poucas companhias podem inflar o resultado em um ano e derrubar os números no outro.
No curto prazo, tem peso também a desvalorização do real em relação ao dólar, que torna as aquisições fora do país mais caras, segundo Octávio de Barros, economista-chefe do Bradesco. "Temporariamente, as empresas podem postergar investimentos, mas essas são decisões de longo prazo", afirma.
Lima, da Sobeet, também avalia que, apesar da decepção com a atividade doméstica neste início de ano, no longo prazo o crescimento ainda forte do mercado doméstico tende a levar as empresas a priorizar projetos aqui.
A Petrobras, por exemplo, projeta obter US$ 14,8 bilhões neste ano com uma reestruturação de ativos que implica também na venda de participações no exterior. Franqueador das marcas Spoleto, Domino's Pizza e Koni Store, o grupo Trigo adiou seu projeto para a Costa Rica e desistiu da ideia de abrir lojas na Argentina e na Austrália por agora para focar no Brasil.
Para o diretor de pesquisas da Brasil Investimentos e Negócios (BRAiN), associação privada que reúne bancos e entidades do mercado financeiro, André Sacconato, não há tendência de redução do número de multinacionais brasileiras. "A partir do momento em que as companhias nacionais ganham musculatura e crescem no ambiente doméstico, naturalmente vão buscar se internacionalizar e aproveitar os preços competitivos externamente".
A Gerdau, que atua em 13 países além do Brasil, por exemplo, não alterou seu programa de investimentos para o período 2012-2016, que totaliza R$ 10,3 bilhões em ativos imobilizados, dos quais 30% serão destinados às unidades no exterior. O percentual supera os 24,8% de participação das controladas fora do Brasil nos aportes de R$ 2 bilhões feitos no ano passado.
Nos três primeiros meses de 2012, os investimentos no exterior da companhia somaram R$ 207,3 milhões, 130% a mais do que no mesmo período de 2011 e o equivalente a 30% de todos os aportes feitos no período.
Os dados, divulgados no relatórios trimestral de resultados, levam em conta também empréstimos intercompanhias, em que a matriz brasileira pode enviar recursos à filial estrangeira para financiar aumentos de capacidade, por exemplo, e não apenas participações no capital.
Nos cinco primeiros meses deste ano, no entanto, o fluxo de empréstimos das filiais para o Brasil superou o repasse pelas matrizes em US$ 8,1 bilhões. Como resultado, o saldo líquido do investimento direto brasileiro no exterior no período foi positivo em US$ 6,1 bilhões, o que significa retorno ao país de US$ 3,5 bilhões a mais do que no mesmo período do ano passado.
Os dados, no entanto, são revistos periodicamente pelo Banco Central para incorporação de informações que não estavam disponíveis anteriormente. Em março deste ano, o BC revisou os dados de investimento direto brasileiro no exterior referentes a 2011 e o retorno de recursos ao Brasil, já descontadas as saídas para investimentos produtivos, passou de US$ 9,3 bilhões para US$ 1 bilhão.
Ao contabilizar liquidações de operações ocorridas diretamente fora do país, o BC capturou uma elevação de US$ 7,7 bilhões em aquisições ou ampliação de participação em empresas estrangeiras no ano passado. Em nota, o BC esclareceu que, "em sua grande maioria, empresas que detinham ativos como ações e títulos de renda fixa no exterior, efetuaram a venda desses papéis e, com a receita, compraram ou aportaram capital em empresas no exterior".
(Fonte:Valor Econômico/Colaborou Sérgio Ruck Bueno, de Porto Alegre)
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