A Eneva pretende construir um terminal de importação de gás natural liquefeito (GNL) em São Luís (MA). A companhia fechou um acordo com a Servtec, para aprofundar os estudos e desenvolver em conjunto o projeto. O empreendimento permitirá reforçar o suprimento ao Complexo Parnaíba, abrindo espaço para a renovação dos contratos de longo prazo das termelétricas existentes.
Além disso, o plano da empresa é viabilizar novas usinas e o fornecimento de gás a clientes industriais na região.
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Ao todo, a Eneva estima que São Luís tem uma demanda potencial, no segmento não termelétrico, de 1,5 milhão de metros cúbicos diários (m3/dia). A capital maranhense abriga indústrias como o complexo de produção de alumínio do Consórcio Alumar, controlado pela Alcoa, e uma usina de pelotização da Vale, por exemplo.
O diretor de marketing, comercialização e novos negócios da Eneva, Marcelo Lopes, conta que a empresa já tem “conversas avançadas” com potenciais consumidores. Segundo ele, o terminal de GNL contribuirá também, no futuro, para reforçar o abastecimento ao Complexo Parnaíba. A empresa opera, hoje, quatro termelétricas no local, com capacidade instalada total de 1,9 gigawatts (GW), e está construindo mais duas usinas que somam 500 megawatts (MW).
O parque de geração da companhia consome, atualmente, o gás produzido pela empresa, mas a ideia é diversificar a fonte de suprimento. A Eneva tem reservas certificadas da ordem de 25 bilhões de metros cúbicos (m3) na Bacia do Parnaíba. Lopes afirma que o volume é suficiente para atender os compromissos com as termelétricas existentes. A empresa, no entanto, tem a intenção de renovar os contratos das usinas que vencem a partir de 2027 e, para isso, precisará buscar gás adicional.
“Esse projeto [do terminal de GNL] está muito alinhado com uma estratégia de garantir uma continuidade do ativo do Parnaíba”, afirma. “O terminal também abre opções para leilões [de energia] futuros”, completou o executivo, em referência à possibilidade de a empresa não só renovar os contratos das usinas do complexo no Maranhão, como também construir novos projetos térmicos no Estado.
Ele afirma que, pelas regras dos leilões de energia, a companhia precisa sempre demonstrar, na hora do cadastro, que possui volumes de gás suficientes para abastecer as usinas, a despacho pleno, por oito anos. “Nem sempre é simples casar as descobertas [de novas reservas de gás] com as datas de leilão”, comenta Lopes.
A ideia, portanto, é mesclar a importação de GNL com futuras descobertas e, assim, aumentar a flexibilidade na gestão do portfólio. Segundo o executivo, a companhia pretende manter ativos os investimentos em exploração, em busca de mais gás. No futuro, a ideia é construir um gasoduto interligando o terminal ao complexo Parnaíba – distante cerca de 300 quilômetros de São Luís.
Questionado se o projeto do terminal de GNL está associado à perspectiva de aceleração do consumo das reservas de gás do Parnaíba durante a crise hídrica, Lopes disse que o complexo deve registrar recorde de despacho em 2021, mas que os planos da companhia olham para a tendência de mais longo prazo.
“Cada vez mais precisaremos de termelétricas para estabilizar o sistema [elétrico]. Isso, sem dúvida, pesou [na estruturação do projeto do novo terminal], mas o despacho mais alto este ano, de forma conjuntural, não”, comentou o executivo.
A ideia da companhia é que o terminal do Maranhão funcione como uma espécie de hub de gás natural no Estado, a exemplo do que a empresa pretende fazer também na planta de regaseificação em desenvolvimento em Macaé (RJ).
Pelo acordo assinado entre as partes, a Eneva terá 51% de participação na futura joint venture do terminal de São Luís, enquanto a Servtec terá 49%. Lopes conta que as empresas estão, nesse momento, definindo os detalhes do projeto.
A decisão final de investimento pode acontecer ainda em dezembro, a depender dos resultados do leilão de energia. Isso porque a Servtec já vinha trabalhando num projeto termelétrico em São Luís e tem planos de participar da licitação.
Segundo o diretor da Eneva, caso a parceira não tenha sucesso no leilão, a ideia é buscar, ao longo de 2022, viabilizar o terminal com base na captura de clientes industriais e na demanda do Complexo do Parnaíba - que consome 8 milhões de m3/dia e serviria como um cliente âncora para a planta de regaseificação.
O terminal está sendo concebido para ter capacidade para 14 milhões de m3/dia, mas o escopo final ainda não foi definido. Ainda não há, também, um prazo para início da construção do empreendimento.
Lopes comentou, ainda, que a empresa tem mantido conversas com potenciais supridores do GNL a ser importado. O momento de alta dos preços internacionais, segundo ele, é “extremamente desafiador, mas conjuntural”. “Quando falamos do leilão de energia de dezembro, que contratará térmicas para 2026, o preço do GNL já não é tão impactado pelo atual preço conjuntural”, disse.
Fonte: Valor