A Engevix Engenharia estima que já teve prejuízo de R$ 700 milhões em contratos com a Petrobras desde 2011. As informações constam das demonstrações financeiras da empreiteira de 2015, publicadas no fim de semana. A companhia não deu outros detalhes sobre essas perdas.
A companhia informou ainda que está negociando um acordo de leniência com a Controladoria-Geral da União (CGU), para "aperfeiçoar seus controles internos e garantir a continuidade nas suas operações". O Ministério Público Federal (MPF), no entanto, não quer mais um acordo com a Engevix, pois já teve a colaboração de outras empresas antes.
PUBLICIDADE
Desde o início da Operação Lava-Jato, em março do ano passado, a Engevix se viu obrigada a investigar suas operações. Com isso, pagamentos efetuados a prestadores de serviço avaliados como suspeitos foram desconsiderados das suas despesas dedutíveis.
Como as investigações da Lava-Jato ainda estão em andamento, outros fatos poderão vir a ser conhecidos e será avaliado se terão impacto na continuidade das operações da Engevix e na sua capacidade financeira. A empresa avalia que, se forem necessários desembolsos, serão no médio e longo prazo e poderão ser suportados pelo fluxo de caixa gerado pelas operações.
A Engevix é uma das empresas apontadas como integrantes do cartel que pagava propina em troca de contratos inflados com a estatal. O lobista Milton Pascowitch, que atuava como operador de propinas da construtora, foi um dos principais delatores da operação.
Seu balanço de 2015 trouxe lucro, mas com a ajuda de créditos tributários. Isso contra a opinião dos auditores independentes, que consideraram que a empresa não poderia usar esses valores.
A Engevix teve lucro líquido de R$ 96,5 milhões em 2015, ante um prejuízo de R$ 315,9 milhões apurado em 2014, refletindo, entre outros fatores, a ativação de créditos tributários no valor de R$ 111,4 milhões. Sem esse efeito, a companhia teria apurado prejuízo de R$ 14,9 milhões no ano passado. O resultado também veio melhor por causa das despesas gerais e administrativas, que caíram 52,9%, para R$ 63,5 milhões.
O parecer da Unity Auditores Independentes, porém, avalia que o saldo de ativo diferido, o resultado do exercício e o patrimônio líquido foram superavaliados em R$ 234 milhões, valor que a empresa colocou na conta "tributos diferidos" do ativo.
Isso aconteceu porque a Engevix registrou créditos tributários nesse montante relativos a prejuízo fiscal. A ativação desses créditos, porém, depende de uma expectativa de melhora na situação da empresa, e do sucesso da implementação do seu plano de negócios.
"No entanto, em função de prejuízos operacionais apresentados nos últimos anos e pela não apresentação de evidências quanto a expectativa de auferir lucros fiscais nos próximos anos, o montante de R$ 234 milhões registrado como ativo diferido será de difícil realização nos próximos anos", disse a ressalva do parecer da auditoria.
Outro ponto da ressalva foi que a Engevix apresentou de forma líquida os saldos relativos as suas operações de clientes com adiantamento de clientes, fornecedores com adiantamento a fornecedores, impostos a recolher com impostos a compensar, e operações entre empresas do grupo ativo com as de passivo. Isso fez com que o patrimônio líquido ficasse superavaliado em R$ 220 milhões, resultado do passivo subavaliado em R$ 534 milhões e do ativo subavaliado em R$ 314 milhões.
A receita operacional líquida da companhia caiu 42,4% no ano, para R$ 361,5 milhões. A receita por serviços prestados teve redução de R$ 751,2 milhões para R$ 258,6 milhões ano passado.
No balanço, a Engevix informou ainda que cedeu para a Engevix Construções, em 2 de janeiro de 2015, a integralidade dos contratos de prestação de serviços que tinha com Consórcio Montador Belo Monte [hidrelétrica] e com Furnas (empresa da Eletrobras). (Colaborou André Guilherme Vieira)
Fonte: Valor Economico/Camila Maia | De São Paulo