A Equinor deu um passo importante, ontem, para avançar com o projeto de Bacalhau (ex-Carcará), no pré-sal da Bacia de Santos, ao obter, da Agência Nacional de Petróleo (ANP), a aprovação do plano de desenvolvimento do campo - uma das etapas necessárias para a decisão final de investimento da norueguesa no ativo. A previsão é que a primeira fase do projeto, que prevê uma plataforma com capacidade para produzir 220 mil barris/dia de petróleo em 2024, demande US$ 8,5 bilhões.
A nova presidente da Equinor no Brasil, Veronica Coelho, diz que, em paralelo, a multinacional também se prepara para retomar este ano a produção de seu principal ativo operacional no Brasil: o campo de Peregrino (Bacia de Campos). Além disso, a empresa mira com atenção a abertura do mercado brasileiro de gás e a retomada dos leilões da ANP e espera, na área de energias renováveis, avançar nas negociações com parceiros para novos projetos no país.
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Ao todo, a Equinor tem planos de investir US$ 15 bilhões no Brasil até 2030. A expectativa é que os aportes se intensifiquem a partir deste ano, conforme avance o projeto de Bacalhau. Com a aprovação do plano de desenvolvimento - que traça o planejamento das atividades na concessão em seu ciclo de vida -, a empresa espera concluir, nos próximos meses, o acordo de individualização da produção com a extensão Bacalhau Norte para, em seguida, bater o martelo com os sócios ExxonMobil e Petrogal sobre o investimento final.
“Provavelmente no segundo semestre, e a partir do ano que vem e 2023, começaremos com a parte mais pesada de construção do FPSO [plataforma flutuante] e dos equipamentos submarinos [de Bacalhau] e com a perfuração [de novos poços exploratórios] aqui no Brasil”, afirma a executiva, que vem de uma experiência de um ano na Noruega, como assessora da diretoria financeira global da Equinor.
Bacalhau é o principal vetor de expansão da empresa no país. Hoje, a companhia possui dois ativos operacionais, ambos na Bacia de Campos: opera Peregrino e é sócia minoritária da Petrobras, com 25%, em Roncador.
Em Peregrino, a Equinor pretende iniciar, no primeiro trimestre de 2022, a segunda fase de produção do campo. O projeto consiste na instalação de uma terceira plataforma fixa e, assim, atingir reservatórios antes inacessíveis. A ideia é aumentar a vida produtiva do campo e adicionar até 300 milhões de barris em reservas recuperáveis.
A produção de Peregrino está parada desde abril do ano passado, quando houve uma falha nos equipamentos submarinos do campo. O reparo atrasou, devido às limitações de pessoal a bordo impostas pela pandemia de covid-19. A expectativa da companhia é retomar a operação no primeiro semestre. “Não dá para negar o impacto da pandemia nessa nossa atividade”, disse. Antes da interrupção, Peregrino vinha produzindo 60 mil barris/dia.
Outro ativo importante dentro da carteira da empresa é a descoberta de gás de Pão de Açúcar (BM-C-33), no pré-sal de Campos, prevista para produzir em 2026, a partir da construção de um gasoduto até o Terminal de Cabiúnas, em Macaé (RJ), com capacidade para 16 milhões de metros cúbicos diários (m3 /dia). A tomada de decisão sobre o investimento depende da construção de uma carteira de clientes, para monetizar o gás.
“O BM-C-33 é um exemplo muito bom de como o potencial de recursos leva os investidores até um determinado ponto”, disse. “A aprovação da Nova Lei do Gás representa um avanço para o setor, na medida em que estabelece as bases legais e regulatórias para o novo desenho do mercado... [Mas] a agenda de mudanças regulatórias proposta pela ANP precisa continuar a se desenvolver a fim de apoiar decisões de investimento importantes no futuro próximo.”
A Equinor tentou estrear na comercialização do gás no Brasil, em 2020, com os volumes de Roncador. A multinacional, porém, não conseguiu chegar a uma solução de monetização e renovou o contrato para venda do gás para a sócia Petrobras.
Veronica afirma que a empresa possui “uma agenda de crescimento importante” em curso no país, mas que mira a retomada dos leilões da ANP. A empresa olha com atenção a licitação dos excedentes da cessão onerosa de Sépia e Atapu, no pré-sal - oferecidas, sem sucesso, em 2019, diante das incertezas sobre o valor da compensação devida à Petrobras. “Acredito que as autoridades puderam refletir sobre os resultados. [O fracasso do leilão] não foi porque os ativos não eram interessantes”, afirmou.
Questionada se a interferência do governo na troca do comando da Petrobras inibe o plano de investimentos da empresa, ela comentou que as decisões da companhia se baseiam no longo prazo. “Propomo-nos a trabalhar com todas as correntes politicas. Estamos aqui para os próximos 50 anos e não pelos próximos cinco.”
Dos ativos comprados nos leilões dos últimos anos, a Equinor iniciou a exploração nas bacias de Santos e Campos, em blocos operados pela Petrobras. Para 2021 e 2022 estão previstas campanhas em Dois Irmãos Campos) e ES-M-669 (Espírito Santo). Segundo Veronica, a retomada dos preços do petróleo em 2021 dá “um certo alento”. “Mas ainda vemos muita volatilidade pela frente”, aposta.
Em renováveis, a Equinor possui um único ativo: Apodi (162 megawatts), no Ceará, a primeira usina solar do portfólio global da empresa - que tem a meta mundial de, até 2030, destinar entre 15% e 20% dos investimentos nas novas energias. “[O plano] tem casamento perfeito com as condições que enxergamos no Brasil... Mas seguimos passos cautelosos, para entender a curva de demanda futura.”
A Equinor tem memorandos com a Scatec e a Hydro, para uma usina solar de 480 MW no Rio Grande do Norte; e com a Porto do Açu Operações, para uma usina solar na região do Porto do Açu (RJ). A empresa entrou com pedido de licenciamento, ainda, para projetos de 4 mil MW de eólicas offshore no Rio e Espírito Santo.
Fonte: Valor