O arrefecimento nas importações de aços planos a partir de janeiro e a "retirada de descontos" pelas usinas locais, elevando os preços dos principais produtos siderúrgicos e provocando antecipações de compras, trouxe reflexos positivos na rede de distribuição, responsável por cerca de um terço do material comercializado no mercado interno. Os distribuidores ampliaram as vendas, o que fez os estoques da rede cair para um patamar de 2,9 meses, cinco pontos percentuais a menos que em janeiro.
A distribuição fechou fevereiro com 1,1 milhão de toneladas de aço em estoque, 51 mil toneladas a menos que no mês anterior. Todavia, esse volume ainda foi 45% superior as 764 mil toneladas de um ano atrás. "O setor busca voltar ao patamar ideal de 2,5 meses de vendas em estoque", afirma Carlos Loureiro, presidente do Inda, entidade que reúne os distribuidores de aço. Mas reconhece que é uma meta a ser alcançada no médio prazo, pois a concorrência dos importados ainda irá até abril. Até 2,8 meses, afirma, ainda é possível trabalhar, mas no limite.
A boa notícia até agora, informa Loureiro, é que o tsunami das importações visto no ano passado perdeu força. Com o aumento de preços nos principais mercados - América do Norte, Europa e Ásia --, acima de 50% em alguns produtos desde dezembro, ficou quase inviável trazer aço de fora. As cargas que ora chegam são ainda de material encomendado até o fim do ano. "Até abril, teremos material comprado ainda desembarcando, mas em escala inferior àquela vista em outubro, auge da entrada de produto estrangeiro".
Em fevereiro, as importações de aços planos, dos quatro principais tipos de produtos comercializados no país - chapas finas a quente, chapas finas a frio, zincados e chapas grossas - somaram 147 mil toneladas (31% de decréscimo sobre um ano atrás). Em janeiro, o total de material plano estrangeiro foi de 130 mil - no mesmo mês de 2010 atingiu 225 mil toneladas. Neste ano, até fevereiro, houve queda de quase 37% na entrada desses tipos de aço. Em todo o ano passado, o país importou 3,7 milhões de toneladas desses quatro produtos.
As vendas da rede tiveram um fevereiro exuberante, com 378 mil toneladas. "Foi o melhor fevereiro da história do setor, com média diária de 18,9 mil toneladas", destaca o executivo. Em relação ao mesmo mês um ano atrás, o aumento foi de 26,5% e sobre janeiro chegou a 11,2%. Mas nem por isso os distribuidores saíram por aí soltando rojões. "Não houve uma grande virada de mercado; apenas voltamos a ocupar espaço perdido para as importações em 2010", aponta.
Loureiro diz que teve forte influência a antecipação de compras por parte dos clientes diante das notícias de "retirada de descontos" por parte das siderúrgicas - ArcelorMittal, CSN e Usiminas - a partir do início de abril. Os percentuais variam de 6% a 10% e a Usiminas, em alguns produtos, já começou a adotar a nova tabela de preços.
Devido a esse mês atípico, a rede teve de elevar suas compras perante as usinas para atender a demanda. O volume alcançou 326 mil toneladas, 11% acima de janeiro e mais de 12% superior ao mesmo mês do ano passado. Para março, que acaba esta semana, a previsão é de ainda comprar 5% a mais que no mês passado, somando 343 mil toneladas. Já as vendas deverão cair, para 359 mil toneladas. A justificativa é que o mês teve o feriado de Carnaval e enfrenta uma base forte ocorrida em fevereiro. "E a economia não estão tão pujante".
Com isso, o nível de estoques dos distribuidores deverá subir outra vez, para o equivalente a três meses de vendas. Assim, fecharia março em 1,09 milhão de toneladas, quase 50% superior ao do mesmo mês no ano passado.
A penetração de material importado no mercado interno está no patamar de 14%, bem abaixo dos 23,7% do ano passado e voltando ao nível de 2009. Naquele ano, os produtos internados corresponderam a 12,8%. A origem é ainda dominada por China e Coreia do Sul - os dois países respondem por metade dos volumes, com predominância do aço chinês.
Neste ano, o Inda projeta crescer 10% ante a venda de 3,84 milhões de toneladas em 2010. "Atingimos alta de 13%, enquanto todo o mercado cresceu 40%. Isso se deveu à competição agressiva do material importado", observa Loureiro. A expectativa é que a entrada de aço importado recue 50% neste ano. O avanço dos preços lá fora é um dos principais inibidores. A tonelada da bobina a quente nos EUA, que era vendida a US$ 600 no início de dezembro, já chega a valer US$ 950. Por isso, montadoras como a Fiat já admitem aceitar alta de 7% no aço vendido pelas siderúrgicas do Brasil.
O consumo aparente do país (vendas internas mais importações), na avaliação do empresário, não deverá subir mais do que 5%.
Fonte: Valor Econômico/Ivo Ribeiro | De São Paulo
PUBLICIDADE