As empresas apoiadas por financiamento e garantias às vendas externas chegam a exportar 14,7% a mais e ampliar seus mercados em até 70%, aponta estudo inédito da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O levantamento foi feito como defesa da maior participação do Estado na adoção de medidas para estimular as exportações e também destaca um impacto positivo no mercado de trabalho, com a expansão de 10% do número de funcionários.
No estudo, a entidade concluiu que há um descompasso entre o Brasil e os 13 países que mais financiam suas exportações. Enquanto essas economias ampliam e sofisticam seus instrumentos de apoio à comercialização de bens e serviços no mercado internacional, no Brasil, essas políticas públicas têm perdido protagonismo nos últimos anos.
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As nações pesquisadas foram Alemanha, Bélgica, China, Coreia do Sul, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Holanda, Índia, Itália, Japão e Reino Unido. O foco era saber como funcionam os sistemas públicos de financiamento e garantia às exportações de bens de alto valor agregado, para fortalecer as empresas do país na competição internacional e aumentar as vendas externas.
De acordo com o levantamento, ao contrário do Brasil, alguns países oferecem uma modalidade de crédito chamada de untied credit . Nesse tipo de operação, o financiamento não está amarrado a exigências de compra de bens ou serviços. O Japão, por exemplo, financia projetos e importação de bens por países em desenvolvimento, quando esses recursos contribuem para garantir o suprimento estável de energia e de recursos minerais, promovem os negócios de empresas japonesas e mantêm ou expandem o comércio e o investimento direto.
Uma outra modalidade de apoio que vem se disseminando nos últimos anos consiste em financiar ou conceder garantias para a cadeia produtiva do exportador. A Alemanha, os EUA e a Finlândia oferecem esse tipo de apoio. Há, ainda, ajuda financeira — casos da Índia e da Alemanha — para a expansão da capacidade produtiva das empresas exportadoras.
Além do apoio ao crédito às exportações, os países têm oferecido garantias e seguros que são associados à atividade exportadora, mas não incidentes sobre operações de crédito à exportação. Essas garantias são bastante diversificadas, ao cobrir riscos comerciais ou políticos de companhias exportadoras, empresas prestadoras de serviços no exterior ou de instituições financeiras que emitiram apólices ou concederam garantias associadas à atividade de exportação de bens e serviços.
No Brasil, as agências de crédito à exportação são, basicamente, BNDES, Agência Brasileira de Fundos Garantidores e Garantias (ABGF), Banco do Brasil e o Ministério da Economia, que detêm a gestão estratégica de alguns instrumentos. Esses instrumentos, na avaliação da CNI, têm demonstrado pouca diversidade na operação de suas linhas tradicionais de financiamento e de concessão de garantias.
Em entrevista ao GLOBO em setembro, o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, afirmou que o banco se prepara para retomar a linha de crédito à exportação de serviços, com foco em setores como defesa e software. Hoje, a linha está suspensa.
— Quando você fala que está abrindo o mercado com a União Europeia, fazendo mais acordos internacionais e quer se tornar um país mais competitivo, parte desse pacote de competitividade internacional é ter linha de exportação — dissera Montezano.
De acordo com a CNI, cada R$ 1 bilhão exportado pela indústria brasileira mobiliza 36 mil empregos.
— As exportações são elementos importantes para as economias dos países e cumprem papel relevante no seu processo de desenvolvimento. Elas impulsionam a geração de emprego, renda e divisas para o país, permitindo ganhos de escala e competitividade para suas empresas — afirmou o diretor de desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi.
Competição no financiamento
Segundo Constanza Negri, gerente de política comercial da CNI, há uma grande e crescente competição na área de financiamento público às exportações. Esses 13 países selecionados na pesquisa são responsáveis por 87% dos novos créditos de meio e longo prazos no mercado internacional.
— Isso reforça necessidade de discussão sobre aprimoramento do sistema brasileiro. O jogo lá fora mudou. Setores público e privado têm de trabalhar em conjunto nessa área, tendo em vista um contexto internacional marcado por intensa competição — enfatizou.
Hoje, a contribuição das importações e das exportações no PIB do Brasil é de cerca de 14%. Na Índia e no México, economias consideradas emergentes e detentoras de grandes mercados domésticos, esse percentual é de cerca de 20% e 40%, respectivamente.
Na avaliação de especialistas, além do financiamento, fatores como estrutura tarifária e competitividade dos produtos brasileiros também são determinantes para explicar o baixo nível de internacionalização da economia brasileira.
Segundo Lia Valls, economista e pesquisadora do Ibre-FGV, mesmo a Índia, considerada protecionista em alguns setores da economia, tem tarifas menores para bens de capital que o Brasil.
— Enquanto outros países, mesmo os protecionistas, avançaram em processo de abertura comercial, o Brasil ficou mais estagnado — disse.
Para o economista e professor da USP, Simão Davi Silber, o isolamento econômico do país em algumas frentes tem impacto direto no grau de competitividade dos produtos brasileiros lá fora.
—À exceção de commodities agrícolas e minerais, e da Embraer, o restante dos setores da economia brasileira está ligado umbilicalmente com o mercado interno. O protecionismo associado a um conjunto de distorções fez a nossa economia se acostumar com um sistema de baixa concorrência. Isolado, o país vai perdendo produtividade, e não participa das cadeias internacionais de valor — afirma Silber.
Fonte: O Globo