Os Estados Unidos e a União Europeia (UE) que, a exemplo do Brasil, vem perdendo espaço para a China nas exportações para a Argentina, reclamaram de vários obstáculos e “irritantes comerciais” para suas empresas nesse país. Durante o exame da política comercial argentina na Organização Mundial do Comércio (OMC), Pequim também pediu para o governo da Argentina fazer um esforço para melhorar o ambiente de negócios, com mais previsibilidade e transparência nas medidas que adota.
No total, os parceiros fizeram mais de 700 questões à Argentina sobre diferentes medidas adotadas. Vários países reclamaram de políticas como controles de preços, impostos de exportação e restrições cambiais. Uma das principais queixas é com a utilização ampla das chamadas licenças não automáticas de importação. Produtos incluídos na lista dos que precisam dessa licença não podem entrar no mercado argentino sem autorização do governo.
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Segundo relatório da OMC que serviu de base para o exame, na Argentina, a parte das importações procedentes do Brasil caiu para 20,4% do total em 2020 comparado a 26% em 2012. Já a fatia da China nas importações argentinas aumentou consideravelmente nesse período, passando de 14,6% do total em 2012 para 20,4% no ano passado. Por sua vez, a fatia dos EUA nas compras externas argentinas caiu de 12,5% para 10,4% e da União Europeia de 17,1% para 15,6% no mesmo período.Os EUA observaram que o comércio bilateral caiu 33% entre 2013 e 2020. E reclamaram que certas políticas são “agressivas em seu impacto sobre a economia e têm um efeito significativo sobre o comércio”. Os americanos dizem estar “preocupados que essas medidas dificultem a operação das empresas na Argentina, possam reduzir as oportunidades de investimento e recuperação econômica, e criem obstáculos ao comércio”.
A UE destacou conclusão da OMC sobre “vários obstáculos comerciais e irritantes comerciais que criam incerteza jurídica e suscitam preocupação para a UE”. Os europeus dizem estar preocupados “não apenas com a existência de algumas das medidas, mas também sobre a forma como elas são implementadas”, de forma súbita e sem maior transparência.
A China comemorou o fato de ser agora o segundo maior parceiro comercial da Argentina no mundo (o primeiro continua a ser o Brasil, na soma de exportações e importações), e avisou que quer “fortalecer ainda mais a cooperação comercial e de investimentos de todas as maneiras possíveis com a Argentina”.
Pequim disse que a implementação de um sistema para melhorar a logística nos portos reduziu os custos de operação de contêineres em 60% na Argentina. Mas em seguida pediu para Buenos Aires melhorar mais suas políticas e medidas comerciais e de investimento. Também pediu que o uso de restrições de exportação agrícolas seja a última opção para resolver problemas internos.
O Brasil, por sua vez, não fez reparos à política comercial argentina. Observou que os dois países mantem uma relação estratégica “plasmada em uma parceria que transcende o comércio”. E que a corrente de comércio bilateral demonstra um perfil de bens com mais valor agregado, o que é indicador do “alto nível de integração entre nossas indústrias”.
Em sua intervenção, o chefe da delegação argentina no exame, Jorge Neme, destacou que a “delicada situação econômica e social impulsionou a necessidade de tomar diversas medidas de emergência”.
Fonte: Valor