Siderúrgicas sobem o tom das críticas à empresa e dizem que consumidores buscam estratégias para reduzir a dependência das grandes mineradoras
A troca de farpas entre a indústria siderúrgica europeia e a Vale vem esquentando. Ontem, os europeus subiram o tom das críticas aos preços fixados pela brasileira, se disseram "surpreendidos" com o comportamento da Vale e alertaram que países consumidores desenvolvem estratégias para reduzir a dependência do minério de ferro das grandes mineradoras.
"No médio a longo prazo, esse domínio não existirá", afirmou Gordon Moffat, diretor-geral da poderosa Eurofer, que reúne as siderúrgicas europeias. Em entrevista ao Estado, Moffat acusou a Vale, a Rio Tinto e a BHP Billiton de estarem "ditando" os preços. Mas disse que a indústria europeia não ficará de braços cruzados vendo essa "ditadura continuar". Hoje, as três controlam 70% do mercado mundial de minério de ferro, o que levou a Eurofer a pedir uma investigação sobre formação de cartel.
Em resposta, a Vale pediu ontem que a Comissão Europeia investigue as siderúrgicas europeias por concorrência desleal. Conforme antecipou o Estado, a Vale acusa os europeus de agir de maneira orquestrada e ilegal nas negociações para reajuste do preço do minério de ferro.
De acordo com a mineradora, as siderúrgicas também estariam alimentando, pela Eurofer, uma "forte campanha na mídia" contra as mineradoras. "Em razão das circunstâncias, achamos que a Comissão deveria investigar a situação", diz o documento entregue à Comissão Europeia.
"Vamos olhar a posição de todas as partes", disse Amália Torres, porta-voz da UE para temas de concorrência e assessora do comissário Joaquin Almunia.
Tranquilidade. A Eurofer rejeita a acusação e se diz "tranquila". "Estamos muito surpresos com o comportamento da Vale. Há poucos meses, adotava uma posição. Hoje, quer renegociação total dos preços. Perguntas muito sérias precisam ser feitas em relação ao comportamento da empresa e o motivo de atuar dessa maneira", disse Moffat.
A ArcelorMittal e a ThyssenKrupp são algumas das empresas que fazem parte da Eurofer. Os europeus se queixam de que o sistema de preços de referência, que durou 40 anos, está sendo trocado por um no qual o preço é variável. "Nos últimos anos, poderíamos até entender a posição das mineradoras de elevar o preço diante do maior consumo da China e de aumento no mercado. Mas, agora, não há nada que justifique um reajuste como quer a Vale", disse Moffat.
Diante dessa realidade, a Eurofer começa a desenvolver duas linhas de atuação. A primeira é a garantia de que excessos não sejam cometidos pelas empresas que controlam o mercado. "Por isso, pedimos que a Comissão Europeia investigue o que está ocorrendo", disse Moffat. Ele acredita que a UE fará a investigação já no processo aberto em relação à joint venture entre a Rio Tinto e a BHP, mas uma expansão da investigação poderá ocorrer. A Comissão Europeia confirmou que, ao ampliar a investigação, vai lidar também com os preços fixados pela Vale.
Um segundo passo é desenvolver novas formas de obtenção de minérios e matérias-primas. A UE vai apresentar até meados do ano um plano para facilitar o acesso de indústrias europeias às fontes de recursos naturais.
Posição
GORDON MOFFAT
DIRETOR-GERAL DA EUROFER
"Estamos muito surpresos com o comportamento da Vale. Há poucos meses, adotava uma posição. Hoje, quer renegociação total dos preços. Perguntas muito sérias precisam ser feitas em relação ao comportamento da empresa e o motivo de atuar dessa maneira"
"Nos últimos anos, poderíamos até entender a posição
das mineradoras. Mas, agora, não há nada que
justifique um reajuste como quer a Vale"
Fonte: O Estado de S.Paulo/Jamil Chade, CORRESPONDENTE / GENEBRA -
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