Nas atuais condições do mercado internacional de aço, o aumento das exportações de produtos siderúrgicos aparece como um duro desafio para o setor, principalmente por causa do excesso de capacidade do metal no mundo. Segundo Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil, no entanto, os embarques nos primeiros três meses deste ano totalizaram 2,8 milhões de toneladas e US$ 1,8 bilhão, o que representa alta de 39,5% em volume e de 21,6% em valor, quando comparados ao mesmo período de 2014. "Isso ocorre, principalmente, devido à remessa de placas semiacabadas."
A exportação em 2014 foi de US$ 9,78 bilhões e para este ano foi estimada em US$ 13,5 bilhões. "Mas esse crescimento previsto se deve a fatores pontuais, como as operações casadas de empresas que são obrigadas a exportar placas por questões contratuais", diz o executivo, que cita entre essas a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) e a Gerdau Açominas.
"Outro fator relevante foi o religamento do Alto Forno 3 da ArcelorMittal Tubarão em meados de 2014, no Espírito Santo, equipamento que se manterá funcionando durante todo este ano", salienta Lopes. Ele lembra que o setor de produção de aço já foi muito mais importante para a balança comercial brasileira do que é hoje. "Fomos exportadores fortes no passado, quando chegamos a representar 17% do superávit da balança e houve épocas em que cerca de 50% de nossa produção estava voltada para o exterior."
Para ele o complicador representado pelo excedente de capacidade instalada de aço no mundo é "monumental" e está provocando práticas predatórias de comércio e deprimindo os preços. Observa que, pelos últimos dados, essa capacidade chega a 700 milhões de toneladas e só a China participa com 400 milhões de toneladas do bolo.
Lopes enfatiza que, não por acaso, a China vem invadindo com enorme poder de fogo o mercado internacional, desvalorizando artificialmente sua moeda, o yuan, e agredindo comercialmente a América Latina e o Brasil em meio a esse avanço. "A importação de aço chinês pelos brasileiros era de 1,3% em 2000 e no ano passado fechou em 52%, razão de sobra para que fique claro ser cada vez mais difícil para nossas empresas participar do mercado internacional."
Lopes observa que a indústria de transformação no Brasil - em que a siderurgia tem parcela muito forte - vem perdendo participação na formação do PIB nacional de forma acelerada. "Os transformadores já chegaram a representar 25% do PIB e ficam hoje na casa dos 12%." A razão dessa queda é a perda de competitividade sistêmica da indústria brasileira, afirma.
Ele explica que isso se deve a fatores como o custo elevado da energia elétrica e do gás natural, a questão tributária e os juros mais altos do mundo. "Tudo isso somado tira a possibilidade de competir tanto aqui dentro - com o aço que chega de fornecedores externos - como lá fora."
Na visão do executivo do Aço Brasil, o câmbio é de fato uma variável importante, mas é preciso lembrar que a apreciação do dólar ocorreu não só aqui, mas em vários outros países também. "Muitos acham que o dólar a três por um é interessante, mas em comparação com uma cesta de moedas de países concorrentes - em que entram o rublo russo e o yuan chinês, por exemplo - o Brasil ainda perde", diz.
Para ele, o apregoado ganho de competitividade pela via cambial é algo relativo quando se levam em conta as vantagens comparativas dos principais competidores.
O presidente da ArcelorMittal Brasil, Benjamin Baptista Filho, informa que em 2014 a ArcelorMittal Brasil produziu 5,36 milhões de toneladas de aços planos e 3,3 milhões de aços longos. Para 2015, diante de um cenário econômico difícil, ele prevê que a empresa deverá ter produção maior em aços planos, fato diretamente relacionado ao religamento do Alto Forno 3. "Esperamos exportar mais de 40% da produção de aços planos e placas em 2015, resultado superior ao alcançado em 2014."
Fonte: Valor Econômico
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