Comércio exterior: Vendas sobem para a Argentina e caem para os EUA
As exportações de manufaturados patinam neste ano, depois da recuperação razoável ocorrida ao longo do segundo semestre de 2009. Embora superior ao resultado do primeiro semestre do ano passado, o valor da média diária das vendas desses produtos tem oscilado pouco acima de US$ 300 milhões desde dezembro do ano passado, quando se olha para uma série com ajuste sazonal. A evolução do volume exportado em termos dessazonalizados também mostra um quadro de estagnação, mais evidente a partir de fevereiro. Há sinais de fôlego fraco nas vendas de produtos como material eletrônico e de comunicações, máquinas, aparelhos e materiais elétricos, vestuário e calçados. A análise por destino indica que vai mal o volume exportado para os EUA, tradicional comprador de manufaturados do Brasil.
A comparação com o mesmo período do ano passado, porém, mostra recuperação do volume e dos preços de exportação de manufaturados. No primeiro semestre, o volume aumentou 9% sobre a primeira metade de 2009 e os preços, 9,2%. Com isso, os exportadores obtiveram ganhos significativos em relação ao que foi vendido no ano passado.
O câmbio valorizado, que afeta a competitividade dos produtos brasileiros no exterior, e o crescimento ainda modesto da economia global ajudam a explicar o resultado. A forte demanda doméstica também contribui para um desempenho mais fraco das exportações, num quadro em que a rentabilidade das vendas externas é baixa e cai a ociosidade na indústria, dizem analistas como o economista-chefe da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), Fernando Ribeiro, e Júlio Callegari, do J.P. Morgan. Com isso, as empresas tendem a direcionar uma parcela maior da produção para o mercado interno. Segundo Ribeiro, as vendas de manufaturados costumam sofrer um baque quando a demanda interna cresce bastante e há um aumento simultâneo da capacidade instalada. "Isso ocorre desde os anos 80."
O consultor do Instituto para Estudos do Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Gomes de Almeida, vê uma "nítida estagnação da exportação de manufaturados desde a entrada de 2010". O valor da média diária das vendas dos produtos, ressalta, pouco saiu do lugar desde dezembro de 2009, quando atingiu US$ 310 milhões, na série livre de influências sazonais calculada pelo Iedi. Em junho, o número ficou em US$ 302 milhões. Antes do agravamento da crise global, em setembro de 2008, a média diária ficava entre US$ 380 milhões e US$ 390 milhões.
Para ele, a perda de competitividade das exportações brasileiras explica essa estagnação. Num momento em que a demanda externa não é das mais robustas, atrapalham as vendas fatores como o câmbio valorizado, a carga tributária, o custo do capital e a infraestrutura deficiente, diz Almeida.
O volume de exportação de manufaturados reforça o quadro de falta de dinamismo retratado nos números do Iedi. Na série calculada com ajuste sazonal da LCA Consultores, as quantidades exportadas patinam desde o começo do ano, e ainda estão 22% abaixo do nível de setembro de 2008. Estão bastante fracas as vendas de material eletrônico e de comunicações. O volume exportado pouco se mexe desde o fim de 2009, encontrando-se em junho 44% abaixo da média do terceiro trimestre de 2008.
Há também uma clara estagnação das quantidades exportadas de bens de capital desde março. Para Callegari, a recuperação ainda fraca da economia mundial faz com que as empresas em muitos países invistam pouco, tornando baixa a demanda por máquinas e equipamentos. Fica ainda mais difícil para os produtos de bens de capital brasileiros competirem com fabricantes tradicionais como os alemães, num momento em que o real está valorizado, diz ele.
As exportações de veículos mostram alguma recuperação nos últimos meses, com vendas em alta para países da América Latina como Argentina, Chile e México. Ainda assim, o volume exportado segue bastante abaixo do alcançado no pré-crise - algo como 20% menor que o do setembro de 2008.
Se o volume de vendas de manufaturados cresce bastante para os países latino-americanos, especialmente para a Argentina, o mesmo não se pode dizer do que se passa com as exportações para os Estados Unidos. Números da Funcex referentes ao primeiro semestre mostram queda no volume exportado de alguns produtos manufaturados para os EUA - as vendas de bens de capital caíram 36,9% em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto as de bens duráveis recuaram 1,67%. As exportações de materiais elétricos caíram 15,3% e as de produtos têxteis, 3,4%. Para a Argentina, há altas consistentes no primeiro semestre, de 37,1% em bens de capital e 60,6% em bens duráveis.
Para Ribeiro, a demanda mais fraca nos EUA é a principal explicação para o fenômeno, coadjuvada pela perda de mercado para outros concorrentes, como os asiáticos. Callegari também vê o crescimento mais fraco como o maior responsável. Segundo ele, o J. P. Morgan acabou de reduzir a previsão de crescimento da economia americana no segundo trimestre, de 3,2% para 2,2% em relação ao trimestre anterior, em termos anualizados. É um crescimento fraco, e inferior aos 2,7% registrados no primeiro. "Já a Argentina cresce muito mais. Avançou 12,5% anualizados no primeiro trimestre e a estimativa é de 8% no segundo."
Fonte: Valor Econômico/ Sergio Lamucci, de São Paulo
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