Com muito trabalho e um toque de ousadia, produtores pernambucanos estão vencendo barreiras e negociando no exterior
Sim, o açúcar ainda é, de longe, o principal produto de exportação pernambucano. Em sua forma refinada ou bruta, respondeu por aproximadamente 50% das nossas vendas ao exterior no primeiro semestre de 2010. Mas, aos poucos, as empresas locais que produzem outros tipos de mercadorias já começam a vencer as barreiras para negociar lá fora. Ao lado dos resultados financeiros, essa ousadia já está ajudando a diversificar nossa pauta de exportações e aumentar o dinamismo da economia local.
Jair Lyra comercializa simuladores de tecido humano em 33 países. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press
Tanto que, segundo as estatísticas do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, a proporção de produtos industrializados em nossa carteira de exportação, entre manufaturados e semimanufaturados, vem crescendo nos últimos cinco anos, pelo menos em valores, diante dos considerados básicos. Em 2005, foi de US$ 606 milhões, 77% do total. De janeiro a junho de 2010, já compôs US$ 468 milhões, e representa 90% do volume completo.
No último Encontro de Comércio Exterior(Encomex) promovido no Centro de Convenções, em Olinda, o Mdic anunciou a meta de aumentar em 10%, ainda em 2010, a base de pequenas e médias empresas que exportam no Brasil. Para isso, o governo lançou programas como o Primeira Exportação, que trabalha diretamente com as indústrias no sentido de transferir conhecimento sobre como se inserir no comércio exterior.
Mas a transformação vem começando já pela própria ousadia e iniciativa das empresas. A Pro Delphus, de Olinda, é um exemplo. A empresa conta com uma linha de produtos já, por si, bastante única: simuladores de tecido humano, para serem utilizados em treinamento de procedimentos cirúrgicos. O material é fabricado com base em um composto sintético desenvolvido pelo fundador da companhia, o médico Marcos Lyra.
O negócio, que começou dez anos atrás, hoje se apoia basicamente nas exportações, segundo seu diretor Jair Lyra. A marca está presente em 33 países e cerca de 80% de sua produção é mandado para o exterior, principalmente Alemanha, Estados Unidos,Austrália e Japão. "Nos últimos cinco anos, a empresa cresceu cerca de 10 vezes. O fato de sermos a única empresa a fabricar simuladores desse tipo foi muito importante para esse crescimento", disse Jair Lyra.
Há ainda um longo caminho a ser percorrido pela economia do estado, claro. Basta notar que os bens de consumo duráveis são menos de 0,5% do total de exportações do estado, enquanto os bens de consumo não-duráveis (alimentos, bebidas) chegam a 35%. Na média nacional, essa proporção é diferente: 15% para os não-duráveis e 3% para os duráveis.
Para a fábrica de calçados infantis Xick Baby, de Candeias, Jaboatão dos Guararapes, o mercado externo foi sendo conquistado aos poucos. "Começamos a exportar há quatro anos, quando uma brasileira que morava em Nova Jérsei, nos Estados Unidos, nos procurou. Depois, outras pessoas levaram nossos produtos para a Suíça, Austrália, Angola. Exportamos em torno de 6% de nossa produção, mas estamos negociando com representantes em outros países para ampliar isso", explicouseu diretor Paulo Moraes.
A marca tem dez anos no mercado e já chega, segundo Moraes, a todas as capitais brasileiras, sendo vendida em grandes redes de lojas do segmento, com uma produção mensal de aproximadamente oito mil pares. Para Moraes, a exportação é importante para cobrir as sazonalidades do mercado interno. "Existe uma baixa entre meados de maio e início de junho, e outra de novembro para dezembro. Exportar pode representar um meio de tornar a fábrica operante os 12 meses", explicou Moraes.
Fonte:Diário de Pernambuco/Tarcísio Ferraz
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