Fonte: Jornal do Commercio (POA)/Rafael Vigna
Para enfrentar um cenário desanimador, marcado por estimativas como retração de no mínimo 5% para a indústria nacional e queda de 1,7% no PIB, o setor de siderurgia tenta compensar as perdas internas com a expansão das exportações. É o caso da Arcelor Mittal, que aposta na ampliação da presença de placas e laminados na América do Norte e na Europa.
A estratégia da empresa foi apresentada, ontem, em Porto Alegre, pelo gerente-geral de vendas da multinacional, Eduardo Zanotti. O executivo, que participou de um encontro promovido pela Associação do Aço do Rio Grande do Sul (AARS), traçou o panorama mundial do segmento e os principais reflexos da crise para o mercado brasileiro.
"A Arcelor Mittal busca contornar este período de crise com a retomada e a ampliação das exportações. Isso é fundamental para manter as linhas de produção. Exportamos placas e produtos laminados. No primeiro semestre, os principais destinos foram a América do Norte e Europa. Também há participação na Ásia, com placas, e na América Latina, no caso das bobinas quentes", comenta. Segundo Zanotti, no acumulado até junho, a multinacional elevou a sua participação no total das exportações brasileiras de 27%, em 2014, para 39% no mesmo período de 2015.
Exposto às intempéries dos mercados interno e externo, o setor também é duplamente penalizado pelo momento conturbado da indústria automobilística e da construção civil. Neste contexto, com viés de baixo investimento para a infraestrutura, o consumo aparente de aço (planos e longos) deve retornar aos patamares registrados em 2007, ou seja, 22,3 milhões de toneladas, após uma queda estimada em 12,8% para o fechamento do ano.
"O governo terá de gerar novas ações voltadas à infraestrutura. Uma das saídas é promover um ambiente de melhorias para os investimentos privados em detrimento dos incentivos ao consumo. A demanda de aço tende a ser a primeira afetada também pela retração na indústria automobilística. Por sermos uma empresa global, isso facilita a nossa retomada das exportações, não só dentro do próprio grupo, mas também em escritórios de representação locais", sintetiza Zanotti.
Além do potencial aumento das exportações, novas oportunidades, conforme explica Zanotti, viriam do fortalecimento do mercado agroindustrial, do recente programa de concessões em infraestrutura e logística, novos investimentos em energia e soluções de construção com maior produtividade. Por outro lado, os desafios são norteados pelo incentivo ao mercado interno, redução dos custos de produção e investimentos, queda dos juros e spread bancário, padronização de produtos importados dentro de normas técnicas nacionais, investimentos em qualificação da mão de obra e novos incentivos à exportação.
De acordo com as projeções do Instituto Aço Brasil (IABr), entre junho de 2014 e o mesmo mês de 2015, o setor demitiu 11,2 mil funcionários. Além disso, o lay-off (suspensão de contratos) já atinge a mais de 1,4 mil colaboradores.
A entidade, que representa as siderúrgicas, até abril, esperava por uma elevação de 6,5% da produção de aço bruto nacional, mas revisou as estimativas, em junho, para uma retração anual de 3,4%.
Confiança industrial gaúcha permanece pessimista
O Índice de Confiança do Empresário Industrial do RS (Icei-RS) somou 37,3 pontos em julho, permanecendo elevado o grau de pessimismo. Em relação ao mês de junho, a queda foi de 2,1 pontos. Esta é a segunda menor pontuação da série histórica, iniciada em 2005.
Nessa base de comparação, o índice de condições atuais passou de 31,3 pontos para 29,2 pontos em julho, o que representa uma piora acentuada. Esse movimento foi influenciado pelas baixas avaliações da economia brasileira (19,9 pontos) e da empresa (33,8 pontos). Nas indústrias, este é o pior cenário desde abril de 2009 (33,6 pontos).
Em relação ao futuro, os industriais gaúchos também se mostraram pessimistas. De junho para julho, o índice de expectativas para os próximos seis meses caiu de 43,4 para 41,4 pontos, resultado do que esperam para a economia brasileira (30,3 pontos) e gaúcha (30,6 pontos), além do próprio negócio (47,0 pontos).
Elaborado mensalmente pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), o levantamento varia em uma escala de 0 a 100 pontos. Quanto mais os valores estiverem acima de 50, denotam maior otimismo, e, quanto mais abaixo, pessimismo.
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