A queda das exportações tem um peso razoável para a perda de dinamismo da produção industrial depois da crise global de 2008, ainda que o impacto do aumento das importações desses produtos tenha sido mais relevante. Segundo estudo da Tendências Consultoria, o nível da produção da indústria de transformação no quarto trimestre de 2011 teria ficado 16,3% acima do registrado no terceiro trimestre de 2008 - e não 3,1% abaixo, como de fato ocorreu -, se a participação das compras e vendas externas no Produto Interno Bruto (PIB) tivesse se mantido no mesmo patamar do pré-crise. Pelas contas da Tendências, o recuo de 15,4% das exportações do grupo de semimanufaturados e manufaturados no período tirou 6,9 pontos percentuais da indústria de transformação, enquanto o aumento de 18,4% das importações, excluindo as de combustíveis, roubou 9,4 pontos.
Para o economista Juan Jensen, da Tendências, a demanda externa mais fraca é a principal explicação para o mau desempenho das exportações brasileiras, especialmente de manufaturados depois de 2008, um fator mais importante que a perda de competitividade em relação a outros concorrentes, por causa da valorização do câmbio e do aumento de custos. O menor crescimento dos EUA e da União Europeia, segundo ele, atrapalhou as vendas das empresas brasileiras. "A queda das exportações teve um peso considerável para o resultado ruim da indústria de transformação, algo que muitas vezes é subestimado", diz Jensen.
O tombo das exportações de manufaturados para os EUA é bastante significativo, como deixam claro os números da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). Entre 2008 e 2011, o volume de vendas de produtos têxteis caiu 76%, o de veículos automotores, 79%, o de calçados, 45% e o de material elétrico, 46%. Para a União Europeia, a queda das exportações de manufaturados também é forte. As de material elétrico recuaram quase 27% entre 2008 e 2011, enquanto as de máquinas e tratores caíram 16,5% e as de veículos automotores, 90%.
Relatório da Bradesco Asset Management (Bram) nota que "a maior parte dos bens manufaturados exportados pelo Brasil vai justamente para as três regiões que apresentaram menor dinamismo econômico nos últimos anos" - EUA, União Europeia e mesmo os outros países da América Latina, que avançaram bem menos que os países asiáticos. Para os economista da Bram, o mau desempenho das exportações de manufaturados se "deve em sua quase totalidade" à desaceleração da demanda e dos preços globais, "com pequena influência adicional do câmbio".
Para o economista Silvio Sales, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), a combinação de demanda externa mais fraca e perda de competitividade explica o mau desempenho das exportações de manufaturados.
Alguns produtos manufaturados brasileiros também enfrentam dificuldades mesmo em alguns mercados mais cativos, como o Mercosul, especialmente por causa da feroz concorrência chinesa. De 2008 a 2011, as vendas de equipamentos eletrônicos para o bloco recuaram 40% e as de produtos têxteis, um pouco menos de 28%. Em outros setores, porém, as exportações para o Mercosul cresceram razoavelmente nesse período. As de veículos aumentaram 23%, as de calçados, 12%, e as de peças e outros veículos, 43%.
O impacto mais forte sobre a produção, contudo, é o da disparada das importações, nota Jensen. A força da demanda interna, associada à valorização do câmbio, tornou o mercado brasileiro extremamente atraente para os produtos estrangeiros, ainda mais num momento em que muitos países se debatem para sair da estagnação. As importações de bens de capital, por exemplo, subiram 39% entre 2008 e 2011, enquanto as de bens duráveis (como automóveis e eletroeletrônicos) avançaram 86%.
Sales chama a atenção para a perda de espaço dos bens semiduráveis, como produtos têxteis e vestuário. Entre 2008 e 2011, o volume importado de têxteis subiu 42%, enquanto o de vestuário aumentou 111%. "São setores em que houve uma alta significativa da penetração de importações", afirma ele, referindo-se à participação dos produtos importados consumo interno de bens industriais.
No caso do setor têxtil, a fatia importada pulou da casa de 15% em 2008 para 25% no fim do ano passado, segundo cálculos da LCA Consultores. No segmento de vestuário, a participação cresceu de pouco mais de 4% para cerca de 10% nesse período. Em 2011, a situação para esses setores foi de fato complicada, como destaca Sales. Num ano em que a produção da indústria de transformação cresceu 0,1%, a dos têxteis caiu 15% e a de vestuário, 4,4%.
Nesse cenário, as perspectivas para a indústria de transformação neste ano são pouco animadoras. A aceleração do crescimento da economia doméstica deve dar algum alento, mas as exportações tendem a continuar patinando, enquanto as importações devem avançar a um ritmo mais forte. Nos 12 meses até fevereiro, o volume de exportações de semimanufaturados e manufaturados subiu 4,5%, enquanto o de importações excluindo combustíveis aumentou 7,2% nessa base de comparação. Para Jensen, a indústria de transformação deve crescer 1,9% neste ano.
Fonte:Valor Econômico/Por Sergio Lamucci | De São Paulo
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