As exportações brasileiras de soja em grão deverão alcançar um novo recorde em 2021 e alcançar 84 milhões de toneladas, ante volume projetado para este ano de 83 milhões de toneladas, projetou o Rabobank em evento virtual realizado hoje. Em 2019, foram 72,5 milhões, segundo a Associação Brasileira de Exportadores de Cereais (Anec).
Segundo Victor Ikeda, analista de grãos do Rabobank, a previsão de avanço reflete a demanda aquecida na China, os preços elevados na bolsa de Chicago e o câmbio favorável aos embarques.
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Para a safra 2020/21, o banco holandês manteve a perspectiva de que a área plantada chegará a 37,9 milhões de hectares e a colheita, a 130,1 milhões de toneladas — novas recordes. “Mas ainda precisamos ficar atentos aos próximos 45 a 60 dias, em que a necessidade de chuvas é maior, para que possamos avaliar o impacto [das precipitações irregulares que ainda perduram em algumas regiões]”.
Milho
No caso do milho, a área plantada no país deverá somar 19,2 milhões de hectares neste ciclo 2020/21, considerando as safras de verão e de inverno, um incremento de 4,3% ante 2019/20. Com o avanço também amparado pelos preços elevados, prevê o Rabobank, a colheita tende a atingir o recorde de 107,2 milhões de toneladas, estimou hoje o banco holandês Rabobank. Na temporada passada, o Brasil colheu 102,5 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
De acordo com o analista Victor Ikeda, o atraso no plantio de soja em razão da estiagem poderá fazer com que uma parcela maior do milho safrinha seja semeada no fim da janela climática ideal ou até fora dela, mas ainda assim os produtores deverão optar pelo risco, dada a boa remuneração. Segundo o Rabobank, os contratos futuros para setembro de 2021 — referência para comercialização da segunda safra — alcançaram a média de R$ 50,40 por saca entre maio e outubro, 36% mais que no mesmo período de 2019.
Na bolsa de Chicago, projeta o banco, os preços médios da commodity deverão alcançar entre US$ 4,30 a US$ 4,50 o bushel, acima do intervalo de US$ 3,50 a US$ 4 dólares o bushel dos últimos anos. O suporte virá de uma safra americana abaixo das estimativas e também do aumento da demanda da China.
Esse aumento poderá beneficiar as exportações brasileiras, que deverão voltar a crescer e alcançar entre 36 milhões e 37 milhões de toneladas em 2021, ante 32,5 milhões em 2020 — no ano passado foram 42,7 milhões de toneladas. De acordo com Ikeda, a demanda interna pelo cereal deverá ser de 71 milhões a 72 milhões de toneladas, ante 68,7 milhões previstas para 2020, sustentada pelo crescimento do mercado de proteínas animais. Além disso, a produção de etanol de milho deverá aumentar de 600 milhões a 1 bilhão de litros ante 2020.
Algodão
Para o algodão, o Rabobank estima que a área de produção no Brasil chegará a 1,45 milhão de hectares em 2020/21, 12% menos que em 2019/20. A produção deverá cair de 2,9 milhões para 2,54 milhões de toneladas na comparação, segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa).
O banco holandês atribui o recuo aos níveis atrativos de preços de soja e milho no mercado brasileiro. Em Mato Grosso, a estimativa é que a margem operacional do sistema soja e milho na segunda safra atinja 47%, acima dos 36% obtidos quando a oleaginosa é sucedida pelo algodão na segunda safra. Porém, a receita líquida do sistema com algodão ainda é cerca de R$ 1,4 mil por hectare maior que o de soja e milho.
O banco holandês acredita que em 2020/21 o consumo global de algodão deverá crescer 11%, para 24,7 milhões de toneladas. Por outro lado, a produção mundial deverá recuar 6%, para 24,9 milhões de toneladas, pressionada pela retração no Brasil e por adversidades climáticas nos EUA e no Paquistão.
Café
No mercado de café, o Rabobank estima que a colheita deverá somar 60,7 milhões de sacas em 2021/22 no país, queda de 10,1%. A retração refletirá um ano de bienalidade negativa e também a falta de chuvas nas principais regiões produtoras neste ano, destacou analista Guilherme Morya. “Mas para um ano de ciclo negativo no arábica, é um número bom”, disse ele ao Valor.
A produção de café arábica deverá recuar 17% na próxima safra em relação ao ciclo 2020/21, para 40,5 milhões de sacas. Morya salienta que essa projeção poderá ser revisada para baixo, uma vez que muitos produtores optaram por podar os pés de café diante de um cenário de clima desfavorável e também da preocupação com a chuvas irregulares em áreas importantes de produção, como Mogiana e Sul de Minas.
A colheita de café conilon, por sua vez, poderá somar 20,2 milhões de sacas em 2021/22, com crescimento de 9%. “O conilon está puxando a produção para cima, já que boa parte da área é irrigada e o desenvolvimento dos cafezais está sendo bom, parecido com o da safra recorde de 2019/20”. Naquela temporada, o país colheu 20,5 milhões de sacas.
O Rabobank estima que a colheita brasileira da safra 2020/21 vai se consolidar em 67,5 milhões de sacas — 49 milhões de sacas do tipo arábica e 18,5 milhões de conilon. Para as exportações do país, o banco prevê que o volume deverá superar 42 milhões de sacas este ano — foram 35 milhões de janeiro a outubro — e bater um novo recorde histórico.
No mundo, a instituição projeta superávit de 10,2 milhões de sacas em 2020/21 e de 2,2 milhões em 2021/22. Segundo Morya, com a reabertura do comércio e a esperança de que a retomada econômica ganhe força no ano que vem, o consumo global deverá ficar em 164,5 milhões de sacas em 2021/22, aumento de 1,4% em comparação ao ciclo atual.
Cana
No segmento sucroalcooleiro, o Rabobank calcula que a moagem de cana no Centro-Sul do Brasil na próxima safra (2021/22) deverá recuar 4%, para 575 milhões de toneladas. Para o ciclo atual, que está terminando de ser processada, o volume está estimado em 596 milhões de toneladas. Segundo o analista Andy Duff, a queda na moagem será motivada pela seca ocorrida deste ano e também pela expectativa de que o La Niña possa impactar a safra.
Duff também projetou que tanto a produção de açúcar deverá atingir níveis recorde. A expectativa do banco é que o volume alcance 38,2 milhões de toneladas. Assim, o cenário de preços para o próximo ano deverá se manter entre 13 centavos de dólar a libra-peso e 13,5 centavos de dólar a libra-peso.
Laranja
No caso da citricultura, o Rabobank prevê que a produção de laranja chegará a entre 280 milhões e 320 milhões de caixas de 40,8 quilos na safra 2021/22 em São Paulo, que reúne o maior parque citrícola do mundo. Neste ciclo 2020/21, de bienalidade negativa, a colheita está estimada em 275 milhões de caixas. Mas o analista Andrés Padilla realçou que o estresse hídrico que muitas plantas enfrentaram no último inverno podem gerar revisões para baixo na projeção.
Com a maior procura por produtos naturais e fontes de vitamina-C durante a pandemia ofereceu suporte aos contratos do suco de laranja negociados na bolsa de Nova York, Padilla acredita que as cotações da bebida, que têm no Brasil o maior exportador global, deverão se manter entre US$ 1,8 e US$ 2 por libra-peso.
Fonte: Valor