Enquanto embarcam para a União Europeia as mercadorias cujas compras foram fechadas há alguns meses, exportadores brasileiros já se preparam para uma possível queda de demanda da zona do euro no segundo semestre, em razão da crise no bloco. Para cumprir as metas de vendas ao exterior, as empresas tentam deslocar para outros destinos embarques antes planejados para países europeus.
No ano passado, a Europa concentrou 40% das 842 feiras e eventos apoiados pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). Em 2010, o número de eventos deve subir para cerca de mil, mas a previsão é que a fatia da Europa vai cair para 22%. A diferença foi distribuída em outros países e blocos.
Segundo o presidente da agência, Alessandro Teixeira, a tendência de reduzir o número de eventos na Europa já é um reflexo do receio em relação à demanda dos países da União Europeia. "Há uma preocupação e uma tentativa de migração de exportações para outros destinos, como África, Ásia e Estados Unidos. "
Teixeira lembra que a União Europeia é grande consumidora de commodities agrícolas brasileiras, mas os países do euro também são importantes compradores de produtos manufaturados e semimanufaturados. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), esses segmento industrializados representaram no ano passado 51,5% das exportações brasileiras para o bloco. "São os fabricantes de manufaturados e semimanufaturados que têm mostrado maior preocupação com o impacto da crise nas vendas."
A West Coast, da área de calçados, e a fabricante de cosméticos Cless, são exemplos de empresas que têm nos países europeus destinos importantes de seus embarques. Com estratégias diferentes, as duas já pensam em manter suas previsões iniciais de exportações, muito embora considerem provável a redução de compras pelos europeus. A expectativa é compensar com mercados como Oriente Médio e América Latina.
Heitor Klein, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), setor que tem na Europa cerca de um terço do destino das exportações, diz que o efeito da crise "certamente" será sentido a partir de julho, quando começam os contratos da coleção primavera/verão. Para ele, a tarefa de migrar as exportações para outros locais não poderá ser feita de forma instantânea e será difícil, porque a Europa é consumidora de produtos de maior valor agregado.
A expectativa geral, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), é de que os países europeus terão uma recuperação mais lenta com a nova crise e, por isso, cada exportador procura mercados alternativos. "O problema é que os exportadores do mundo inteiro estão tentando fazer isso, tornando o mercado competitivo, o que pode causar redução de preços", diz. Para ele, a queda de demanda europeia deve começar a fazer diferença na balança com o bloco a partir de julho e agosto.
Fonte: Valor Econômico/ Marta Watanabe, de São Paulo
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