Com orçamento bilionário de US$ 13 bilhões, a refinaria do Nordeste (Rneste), também conhecida como Abreu e Lima, que está sendo construída pela Petrobras em Pernambuco, carrega parte do custo Brasil em seu investimento. Um exemplo disso é a falta de suprimento de energia elétrica para o empreendimento. Paulo Roberto Costa, diretor da área de abastecimento e refino da Petrobras, informa que a Companhia Energética de Pernambuco (Celpe), empresa do grupo Neoenergia - controlado pelo BB, Previ e Iberdrola -, não poderá fornecer os 230 megawatts (MW) que a instalação de refino precisará para funcionar.
Sem garantia de suprimento da distribuidora estatal, a Petrobras incluiu no projeto uma unidade de co-geração a partir do coque de petróleo para garantir a eletricidade. Com isso, a Rneste poderá funcionar todos os dia do ano sem interrupção. O diretor não informa quanto do orçamento será gasto em obras de infraestrutura mas adianta que somente a casa de força vai custar R$ 980 milhões.
"Vai ser o mesmo para o hidrogênio e o vapor. E quando dizem que o dólar por barril aqui é mais caro (do que no exterior), os analistas não levam em conta que lá fora não se precisa investir em nada disso", diz o diretor da estatal.
Costa também cita a construção da refinaria de Pernambuco para criticar o que considera pouco apetite pelo risco no Brasil, o que eleva o custo dos investimentos. "Lá não tem energia elétrica e quando bati na Celpe oferecendo um contrato para comprar 230 MW durante 24h, sete dias por semana e 365 dias por ano, durante 50 anos, a Celpe disse que não tinha como garantir os 230 MW o tempo todo", conta o diretor. "Eu falei [à Celpe) que agora também tinha um problema, porque não posso operar uma refinaria vagalume, que acende e apaga". O diretor da Petrobras apontou ainda obras como o enrocamento no porto de Suape como uma das que precisam ser feitas pela estatal.
Procurada pelo Valor, a Neonergia, dona da Celpe, enviou uma nota dizendo desconhecer qualquer negativa para fornecimento de energia para a refinaria da Petrobras. "A companhia assegura que está disponível para suprir toda a necessidade da planta industrial, que já está abastecendo (o empreendimento) com ligações provisórias para atendimento à obra e de seus fornecedores". A assessoria da Neoenergia também acrescentou que fechou contrato de fornecimento de 88 MW, o maior da empresa, para a Petroquímica Suape, também da Petrobras. A Petrobras informou que fez uma consulta formal à Celpe em 2006, na qual teve negado o suprimento de energia.
A distribuidora de energia disse ainda, na nota, que seu grupo controlador "tem todo o interesse em atender novos contratos de fornecimento no Estado e, inclusive, irá investir na duplicação da capacidade de geração da sua usina local Termopernambuco, de 532 MW. Também está capacitada para atender às unidades industriais com usinas de co-geração, pois recentemente adquiriu empresa deste ramo, a Energy Works ".
Para Paulo Roberto Costa, a Petrobras enfrenta no Brasil dificuldades que não existem em outros países porque falta investimento privado em portos, aeroportos, estradas e em infraestrutura em geral. "O que acontece hoje, com raríssimas exceções no Brasil, é que o empresário privado brasileiro não quer correr riscos", afirma o diretor da Petrobras.
O executivo rebate veementemente as críticas relacionadas ao preço, considerado muito elevado, das novas refinarias da Petrobras, dizendo que no Brasil existem custos que não são encontrados em países da Europa e nem nos Estados Unidos, onde a Petrobras tem uma refinaria em Pasadena (Texas). E mostrou esses custos em resposta a análises recentes mostrando que cada barril processado na refinaria de Pernambuco custará US$ 50 mil, enquanto cada barril processado pela Refap (onde a estatal recomprou os 30% da Repsol) custou US$ 14.900, enquanto aquisições recentes no exterior tiveram custo médio de US$ 4.700 por barril.
A Petrobras aposta nos números que mostram o crescimento exponencial do mercado brasileiro de combustíveis para justificar a construção de novas refinarias em Pernambuco, Rio de Janeiro (Comperj), Maranhão e Ceará até 2017. Os números do executivo mostram que se o consumo de diesel continuar crescendo até 2020, considerando um Produto Interno Bruto (PIB) de 4% ao ano - abaixo das previsões mais otimistas - e caso não sejam feitas novas refinarias, o país terá que importar cerca de 900 mil barris por dia do combustível no fim da década.
O diretor da Petrobras diz que isso traria "fragilidade" ao atendimento do mercado brasileiro, fazendo com que o país se tornasse dependente de dois ou três supridores (India, Rússia e talvez a Arábia Saudita). Também menciona a Copa do Mundo e as Olimpíadas como indutores de investimentos e consumo no país para mostrar que há risco de faltar derivados.
O ano passado foi o primeiro ano em que o consumo de diesel, gasolina e combustível de aviação (Qav) no país aumentou 9,9%, superando o crescimento da economia considerando que o PIB deve crescer 7,3% segundo estimativa do Banco Central.
O maior crescimento foi observado na venda de gasolina (17,8%), seguido pelo Qav (16,6%) e pelo diesel (8,8%). Costa atribuiu essa performance a razões que vão desde a safra recorde de 150 milhões de toneladas de grãos (movimentada por caminhões e tratores movidos a diesel); a venda de 3,5 milhões de novos automóveis, caminhões e tratores e ao maior volume de pessoas que passaram a viajar de avião ao invés de ônibus.
Fonte: Valor Econômico/Cláudia Schüffner | Do Rio
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