As atuais vulnerabilidades de países emergentes e uma desaceleração prolongada nessas economias terão impacto inevitável nos países ricos, alerta a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A entidade avalia que o crescimento nos emergentes vai "desacelerar de forma duradoura", de 6,5% entre 2010-2012 para 5% até 2015, na média, devido ao desaparecimento de efeitos cíclicos, ao declínio da expansão potencial e ao endurecimento das condições financeiras externas.
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Para a OCDE, existe o risco de alguns países desacelerarem mais fortemente. E aponta para amplos déficits da balança de contas correntes, que tornam alguns emergentes, como Brasil, China, Polônia e Turquia, vulneráveis à saída repentina capitais, ao mesmo tempo em que a expansão forte de crédito elevou os riscos financeiros.
A OCDE ressalva que, para os emergentes como um todo, as vulnerabilidades financeiras continuam abaixo daquelas de antes da crise que os atingiu em 1997-98.
Emergentes contribuíram com dois terços do crescimento do PIB global entre 2010 e 2012. Cerca de um terço das exportações dos países ricos da OCDE vai para os mercados emergentes. Os vínculos financeiros aumentaram significativamente na última década, de forma que turbulências nos emergentes podem amplificar os impactos nos mercados mais ricos.
Nesse cenário, técnicos da OCDE fizeram simulações de um modelo macroeconômico para uma estimativa quantitativa dos efeitos da situação dos emergentes sobre os desenvolvidos.
A organização conclui que, para cada desaceleração de 2 pontos percentuais nos emergentes, os países desenvolvidos sofreriam perda de 0,7 ponto percentual em sua expansão, em média, do qual 0,5 ponto percentual viria da baixa no comércio.
Os mais atingidos pela desaceleração nos emergentes seriam Bélgica, Japão e Holanda, refletindo principalmente seus vínculos comerciais com os emergentes.
Esse efeito pode ser aumentado por via das taxas de câmbio e turbulências nos mercados financeiros. Mesmo pequenas perdas para "hedge funds" altamente alavancados ou bancos subcapitalizados podem induzir tensões nos mercados desenvolvidos.
A OCDE sugere que os bancos centrais dos países desenvolvidos levem em conta os efeitos de feedback da retirada dos estímulos monetários ("quantative easing", política em que o BC compra papéis de bancos para aumentar a liquidez da economia).
Embora o impacto comercial da desaceleração dos emergentes seja para os EUA abaixo da média dos países da OCDE, a estimativa indica que a soma de efeitos comerciais e financeiros seria diferente. Uma queda de 1 ponto percentual no crescimento dos emergentes reduziria o crescimento dos EUA em 0,3 ponto percentual.
Fonte: Valor Econômico/Assis Moreira | De Genebra