A mesma liquidez no cenário externo que provocou a apreciação indesejada do real na visão do governo ajudou a balança comercial brasileira a se manter superavitária neste ano. De janeiro a abril, petróleo, soja e açúcar mantiveram preços altos em parte pela maior presença na compra de papéis por fundos e bancos de investimentos, enquanto minério de ferro, carne bovina e celulose, que não são comercializados em bolsas de valores, seguiram a tendência de desaceleração da demanda por produtos primários no mundo e renderam menos ao exportador.
Como resultado, a fatia de petróleo, soja e açúcar no total exportado pelo país aumentou de 15,5% nos quatro primeiros meses do ano passado para 20% no mesmo período deste ano. Em sentido contrário, minério de ferro, carnes e papel e celulose perderam quatro pontos percentuais na participação, que ficou em 16% do total de US$ 74 bilhões exportados. O primeiro grupo elevou suas exportações em US$ 3 bilhões em relação aos primeiros quatro meses de 2011, enquanto as vendas do segundo grupo diminuíram US$ 2 bilhões em igual comparação.
A soja foi o produto que mais registrou aumento da presença de fundos em papéis de curto prazo. Do crescimento do total de contratos negociados na bolsa de Chicago até o fim de abril, aqueles não comerciais (utilizados por fundos e bancos para vender mais à frente quando o produto estiver mais valorizado) representaram 65% do total. No fim de dezembro, esse tipo de presença respondia a 5,8% do total de contratos comercializados e até 26 de abril, eles representavam 31%. O início de maio revela uma menor presença dos fundos, que começaram a sair do mercado em função dos altos preços. Ontem, a bolsa de Chicago fechou o dia com 231 mil contratos desse tipo, representando 28,5% do total.
A maior quantidade de compradores no mercado é um dos motivos do preço da soja ter disparado - ele fechou a última semana de abril em US$ 1.496 o bushel ante uma média de US$ 1.144 no preço em dezembro. A apreciação fez a exportação somar US$ 5,5 bilhões de janeiro a abril, cifra 34% maior do que registrado no mesmo período do ano passado. O montante também resultou da antecipação da venda à China, principalmente.
Para o analista da corretora nova-iorquina Jefferies Bache, Vinícius Ito, a alta da soja se dá em grande parte pela quebra da safra na Argentina e no sul do Brasil, que reduziu a oferta do produto. "Os fundos não criam, mas ajudam a distorcer a tendência. Se há pressão por alta, ele amplifica, com o mesmo acontecendo quando chega a perspectiva de queda. A maior liquidez no mercado financeiro, causado pela injeção de capital dos bancos centrais europeus e norte americano, acaba entrando indiretamente no mercado de commodities", afirma.
Vedete da exportação brasileira, o minério de ferro, afetado pela diminuição da produção em função de fatores climáticos, teve queda no volume de 36,5%. O preço médio por tonelada, entretanto, ficou 15,6% menor ao atingir US$ 103. "A expectativa geral para esse ano é de queda no preço das commodities, e o minério, que é formado mais pela oferta e demanda propriamente, evidencia isso", diz José Augusto de Castro, presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), referindo-se ao cenário da demanda global, que mostra a União Europeia em recessão, os Estados Unidos com mm crescimento baixo e a China em leve desaceleração.
Em porcentagem, a variação maior para a balança comercial brasileira aconteceu com o petróleo, segundo produto mais vendido. A alta do preço por tonelada do produto em relação ao ano passado foi significativamente maior, 20%, rendendo US$ 7,6 bilhões para a balança, que registrou volume de vendas 14% maior. Na bolsa de Nova York foram registrados 214 mil contratos não comerciais de petróleo cru no fim de abril, representando 13% do total. Mas entre o fim de dezembro e abril, esse tipo de letra foi responsável por 30% do crescimento verificado.
Fabio Silveira, sócio da RC Consultores, vê "grande aderência" entre o aumento dos contratos não comerciais e a alta de preços. "A formação da cotação nesses mercados já não é mais garantida apenas por condições de oferta e demanda. No caso do petróleo, por exemplo, há peso considerável da especulação no movimento de alta ou baixa, principalmente no de alta", diz.
E se no caso da soja a entrada de capital de curto prazo ajudou a subir o preço, no açúcar o efeito foi de controle de patamar com leve aumento de divisas. Os 100 mil contratos não comerciais a mais registrados em abril em relação ao fim de dezembro foram responsáveis por 38% do incremento dos negócios do açúcar na bolsa de Chicago. Nesse período, o Brasil vendeu 3 milhões de toneladas do produto com o preço 1,1% acima do valor conseguido no mesmo período de 2011. Já carnes e celulose renderam, juntos, US$ 2,7 bilhões ao país, montante 4,4% menor do que no ano passado.
A previsão para os próximos meses é de que os preços da soja e do petróleo permaneçam altos. "Os dois produtos têm fôlego para se segurar. A soja em razão também da quebra de safra, e o petróleo pela instabilidade política no Oriente Médio, apesar de o consumo estar esfriando um pouco. O açúcar já está baixando e o país vai ter que produzir mais se quiser manter o nível de vendas do ano passado", afirma Fabio Silveira.
Castro, da AEB, acredita que a soja deve cair um pouco, mas se manter em patamar elevado até agosto, quando a safra dos Estados Unidos entra no mercado. "Pela lógica, se for comprovado aumento da área plantada norte-americana, como é a expectativa, os preços devem cair no segundo semestre", diz, para depois não fazer previsões sobre o petróleo. "É uma incógnita, não há padrão."
Fonte:Valor Econômico/Por Rodrigo Pedroso | De São Paulo
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