Nos últimos meses, o presidente-executivo da Vale, Roger Agnelli, tem sido alvo de especulações de que pode deixar a companhia no caso de um eventual governo da petista Dilma Rousseff. Mas se isso tiver procedência, a destituição de Agnelli, que em julho 2011 deve completar 10 anos à frente da mineradora, vai depender de acordo entre os sócios controladores da companhia: fundos de pensão e BNDES de um lado e os sócios privados, Bradesco e Mitsui, do outro.
Com base no acordo de acionistas da Valepar, em vigor até 2017, é preciso ter 67% dos votos dos acionistas controladores (participações acionárias) dentro da holding de controle da Vale, para eleger ou trocar o principal executivo da companhia. Atualmente, com base nisso, o governo só conta com 60,51% do total de votos necessários para fazer esta mudança, ou seja, as participações dos fundos reunidos na Litel (49% do capital votante dentro da Valepar detido pelos fundos Previ, Funcef, Petros e Cesp) e da Bndespar (11,51%).
Para alcançar seu intento, o "novo" governo teria de fazer um acerto político ou com o Bradesco, que detém 21,21% do capital votante da Valepar, ou com a japonesa Mitsui, que reúne 18,24% das ONGs da holding. "O governo tem que convencer um dos dois. Creio que, nesse contexto, ninguém vai se sacrificar para salvar o Roger", diz uma fonte próxima dos acionistas da Vale. Uma negociação entre Litel, BNDESPar e Bradesco somaria 81,72%. Caso o Bradesco se recusasse, fato considerado improvável na avaliação da fonte - para quem o banco tem muito mais interesse em se expandir na área financeira do que na Vale , a Mitsui poderia agregar aos dois sócios ligados ao setor público seus 18,24%, garantindo um novo postulante para o cargo de diretor-presidente da mineradora.
Em geral, a escolha do diretor-presidente da Vale acontece por consenso, como foi no caso do próprio Agnelli, eleito para a função em julho de 2001. Antes disso, de maio de 2000 a julho de 2001, ele presidiu o conselho de administração da companhia. Por ocasião do descruzamento acionário entre a Vale e a CSN, fechado antes de junho de 2001, segundo relato de interlocutores que acompanharam os fatos à época, tinha sido escolhido um outro executivo para substituir o Embaixador Jorio Dauster no cargo de diretor-presidente da mineradora. O executivo adoeceu e Agnelli, presidindo o conselho, passou a acompanhar o dia a dia da presidência executiva e acabou ficando no cargo por decisão dos controladores. "Foi apoiado pelos acionistas e acabou dando certo e se tornou superpoderoso".
O diretor-presidente da Vale construiu sua carreira profissional no Bradesco no período de 1981 a 2001. Entre 1998 e 2000 exerceu o cargo de diretor-executivo do Banco Bradesco. Durante a gestão na direção executiva da Vale, a empresa se tornou a maior companhia privada de mineração da América Latina e maior mineradora de minério de ferro do mundo. O valor de mercado da Vale situa-se entre US$ 150 bilhões e US$ 170 bilhões. A Vale foi internacionalizada e está presente em 30 países.
A competência de Agnelli como executivo nunca foi contestada, mas quando deflagrou a crise econômica, em 2008, ele foi criticado pelo presidente Lula por ter feito demissões na companhia. O presidente da República também reclamou do fato da Vale não produzir bens de maior valor agregado, como investir mais em siderúrgicas. Antes da crise, numa época em que estava negociando a compra da Xstrata, mineradora suíça, por US$ 90 bilhões, a então ministra a Casa Civil, e hoje candidata à Presidência da República, Dilma Rousseff, disse em entrevista ao Valor que o governo não ia admitir que a Vale deixasse de ser uma empresa de controle nacional. O maior sócio da Xstrata estava exigindo como condição para acertar a venda da empresa sua entrada na Valepar, como um dos controladores da Vale. O fato não agradou ao governo, que já havia se aborrecido com a entrada da japonesa Mitsui no controle da mineradora. Nesse caso, a intervenção oficial salvou a Vale de se endividar em US$ 90 bilhões às vésperas da catástrofe global.
No mandato de Carlos Lessa, à frente do BNDES, ele ampliou a participação do banco no controle da Vale ao adquirir 9% das ações da Valepar pertencentes à Invesvale, um fundo de funcionários da companhia. Com isto, Lessa evitou, segundo argumentou à época, que a japonesa Mitsui adquirisse as ações e ficasse com direito de veto dentro da holding.
Em maio de 2011, termina o prazo do atual mandato de Agnelli. Ele foi reconduzido em 2009. Segundo o estatuto social da Vale, o prazo de gestão dos membros da diretoria executiva é de dois anos. Mas isto não diz muita coisa. "O mandato é muito relativo nas grandes empresas. Em geral os executivos firmam contratos com as companhias e o mandato estatutário nem sempre tem muito a ver com o contrato que ele tem. Um contrato de longo prazo já tem uma cláusula de saída. Por esse contrato, a companhia pode dispensar o executivo quando quiser desde que respeite o contrato", explicou um especialista em governança corporativa ouvido pelo Valor.
Fonte: valor Econômico/Vera Saavedra Durão | Do Rio
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