RIO - O ex-presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, disse nesta quarta-feira que o pagamento das dívidas de curto prazo da companhia é “perfeitamente possível” e elogiou o movimento da empresa de tentar alongar o endividamento da estatal.
“Do ponto de vista financeiro, ela tem um problema de ponte, de passagem de uma fase para outra, mas tem capacidade estrutural para passar”, disse Gabrielli, durante palestra sobre o pré-sal, no Clube de Engenharia, no Rio de Janeiro.
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Gabrielli destacou que a dívida da Petrobras cresceu porque o câmbio se tornou desfavorável e o caixa “foi drenado com as importações de derivados a preços mais altos que os preços internos”. Segundo ele, a dívida da empresa, que sempre foi essencialmente de longo prazo, cresceu no curto prazo e hoje, destacou, 55% do endividamento vence até 2021.
“É muito dinheiro, não tenho dúvida. Se somar amortizações de juros de 2016 a 2018, são R$ 196 bilhões. Porém a Petrobras vai faturar nesse período, grosseiramente, considerando o faturamento do primeiro trimestre de 2016, R$ 848 bilhões”, disse.
Segundo ele, a estatal precisa tratar “a dívida como tal”, alongando o seu perfil. “Os recentes movimentos da Petrobras foram positivos. Ela teve a coragem de ir ao mercado financeiro pagando mais caro, porém alongando a dívida. É isso o que tem que ser feito. Mesmo que se pague mais caro, vai passar por essa fase e depois, com o aumento da produção, gerar o caixa operacional para resolver a situação da empresa”, complementou.
Ele destacou, ainda, que a empresa está gerando caixa livre positivo e a situação está melhorando.
Pré-sal
Gabrielli avalia que não há necessidade de o Brasil acelerar a produção de petróleo no pré-sal, no curto prazo. Num discurso de crítica ao projeto que acaba com a exclusividade da operação da Petrobras no regime de partilha, o exe-presidente da Petrobras destacou que a redução dos investimentos globais em exploração e produção hoje deve se refletir num cenário de falta de petróleo na próxima década, o que indica que o acesso às reservas do pré-sal serão mais estratégicas no futuro que no cenário atual.
"Do ponto de vista brasileiro não há necessidade de acelerar. A relação de reserva/produção do Brasil mostra que há petróleo suficiente para 14 anos, sem a adição de petróleo novo. Poderíamos ter um programa mais lento no pré-sal entre 2017 e 2018, para esperar a recuperação da Petrobras", disse.
O executivo lembrou também que até 2018 a demanda interna de derivados ficará, na melhor das hipóteses, estagnada, enquanto a oferta, mesmo com a redução dos investimentos da Petrobras, vai crescer. Para o ex-presidente da Petrobras, o interesse em acelerar a produção no pré-sal hoje é uma necessidade muito maior das multinacionais, sobretudo as petroleiras americanas.
"O pico provável da produção americana se dará até 2020. E o declínio dos não convencionais é muito rápido. É importante para eles terem acesso às reservas do Brasil. A produção brasileira vai crescer duas vezes mais que a média do mundo até 2035. O Brasil é estratégico para os EUA após 2020. Para eles interessa ampliar a capacidade de produção no Brasil para garantir acesso a reservas brasileiras" disse. "Não podemos ficar iludidos com a discussão de curto prazo", completou.
Gabrielli destacou, ainda, que os projetos de produção hoje, no mundo, se concentram em geologias mais complexas e que, dentro dessa perspectiva, o pré-sal brasileiro é "imbatível". "Das novas perspectivas de oferta, o pré-sal é imbatível em volume de reservas e produtividade. Condições que atraem as empresas internacionais. O Brasil é um paraíso para as empresas internacionais", afirmou.
Fonte: Valor Economico/André Ramalho