Terceira maior produtora de petróleo do Brasil e uma das principais sócias da Petrobras no pré-sal, a portuguesa Galp anunciou na quarta-feira corte de 20% no seu plano global de investimentos. O mercado brasileiro, contudo, promete ser preservado pela companhia, que aposta não só no crescimento da produção petrolífera no país como também mira oportunidade em renováveis, dentro da estratégia de se posicionar frente à transição energética para uma economia de baixo carbono.
“Estamos investindo principalmente em exploração e produção de óleo e gás, num primeiro momento, mas temos a ambição de fazer mais coisas no Brasil”, afirmou o presidente global da Galp, Andy Brown, ao Valor.
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Ele cita a intenção da companhia de entrar no negócio de geração de renováveis, com destaque para a energia solar e soluções híbridas (que reúnem a solar com a eólica, por exemplo). A meta da empresa é quadruplicar a sua capacidade instalada global de geração renovável, dos atuais 1 gigawatt (GW) para 4 GW em 2025. E aumentar a potência instalada para 12 GW em 2030.
Grupo monitora com atenção o leilão dos excedentes da cessão onerosa do pré-sal, previsto para dezembro
Brown conta que a estratégia da Galp, num primeiro momento, é focar em renováveis na Península Ibérica, mas que o Brasil está “no alto da lista” das novas regiões onde a companhia tem planos de expandir o negócio. Segundo ele, há “boas chances” de que a empresa entre no mercado brasileiro de geração renovável antes de 2025.
A Galp vai investir globalmente, na média, de € 800 milhões a € 1 bilhão por ano entre 2021 e 2025. O setor de exploração e produção de óleo e gás continuará sendo a principal área de negócios da empresa, com cerca de 40% do orçamento e responsável pela maior parcela do fluxo operacional. O plano de negócios, no entanto, já dá o tom da transição, ao reservar metade dos investimentos para descarbonização nos diferentes segmentos de atuação da multinacional, seja no crescimento de renováveis, seja no segmento de novas energias (como hidrogênio verde e cadeia de valor do lítio) e nas transformações do abastecimento (incluindo o crescimento da rede de suprimento de veículos elétricos).
No setor petrolífero, a portuguesa espera fechar 2021 com produção de óleo e gás de 125 mil a 135 mil barris diários de óleo equivalente (BOE/dia) e crescer esse volume em 25% até 2025. Nesse sentido, o Brasil, que hoje responde por cerca de 90% da produção da multinacional, manterá a posição de protagonismo dentro do plano de negócios da Galp.
O principal vetor de crescimento da companhia no país, hoje, é o projeto de Bacalhau (ex-Carcará), operado pela Equinor no pré-sal da Bacia de Santos. Ele está previsto para começar a produzir no segundo semestre de 2024 e atingir o platô em 2025. A Galp detém 20% de participação no campo, que adicionará capacidade de produção líquida para a empresa portuguesa de 40 mil barris/dia. O projeto deve demandar, do consórcio formado pela Equinor/ ExxonMobil /Galp, investimentos da ordem de US$ 8 bilhões.
Brown cita que a carteira de ativos da empresa no Brasil inclui ainda o campo de Sépia, projeto onde a portuguesa é sócia minoritária da Petrobras no pré-sal da bacia de Santos, com fatia de 2,4%. O projeto está previsto para começar a operar no terceiro trimestre deste ano.
A Galp monitora com atenção o leilão dos excedentes da cessão onerosa das áreas de Sépia e Atapu, previsto para dezembro. Segundo o executivo, os ativos são interessantes - particularmente Sépia, onde a multinacional possui conhecimento sobre o ativo. O executivo se diz otimista com o sucesso da rodada. A empresa aguarda o edital da licitação.
“Acho que o governo fez um bom trabalho para tornar o leilão mais atrativo”, disse Brown, em referência à redução de 70% dos bônus de assinatura das áreas, em relação ao leilão dos excedentes da cessão onerosa de 2019, quando os dois ativos foram ofertados sem sucesso.
Além da redução do bônus, para R$ 7,13 bilhões no caso de Sépia e R$ 4 bilhões em Atapu, a Petrobras também chegou a um acordo com a Pré-sal Petróleo SA (PPSA) para definição do valor da compensação financeira a ser paga pelos vencedores da rodada à petroleira brasileira, pelos investimentos já realizados nas áreas. Na licitação de 2019, as incertezas sobre o valor foram apontados como um dos principais motivos para o insucesso da rodada.
Questionado se a Galp tem a intenção de passar a atuar não só como sócia minoritária dos projetos, mas também como operadora de algum ativo no Brasil, Brown respondeu que esta não é uma ambição da petroleira portuguesa. “A Galp é uma ótima não operadora.”
O principal ativo da companhia no Brasil, hoje, é a fatia que detém de 9,2% no campo de Tupi (ex-Lula), maior campo produtor do país. O executivo cita que os sócios do consórcio responsável pela área, operada pela Petrobras, estão discutindo um novo plano de desenvolvimento para o ativo, com foco na extensão do platô de produção da concessão.
Brown também afirmou que a empresa mira oportunidades na abertura em curso do mercado brasileiro de gás natural.
A Galp, por meio da Petrogal (sociedade com a chinesa Sinopec), é a terceira maior produtora de gás do Brasil, atrás da Petrobras e da Shell, e busca soluções para monetização de seus volumes. Além disso, a multinacional enxerga no Brasil um mercado consumidor atrativo para as cargas de gás natural liquefeito (GNL) produzidas pela empresa em outros países.
Em 2020, a Galp assinou contrato com a Petrobras para compartilhamento das infraestruturas de escoamento e processamento do pré-sal. O acordo elimina um dos principais gargalos da abertura do mercado.
Fonte: Valor