A indústria petroquímica nos Estados Unidos vive um boom de investimentos, embalada pelo aumento da competitividade propiciada pela revolução do xisto. O impressionante avanço da exploração do chamado "shale gas" nos últimos anos ampliou a oferta e derrubou os preços do gás, reduzindo significativamente os custos de produção do setor. Pelos projetos anunciados, a capacidade anual de produção do polietileno, hoje em 20 milhões de toneladas, deverá crescer 50% em cinco ou seis anos, segundo o presidente da Braskem Americas, Fernando Musa. Nas contas da associação dos produtores americanos de petroquímicos e combustíveis (a American Fuel & Petrochemical Manufacturers - AFPL), os investimentos planejados e possíveis para o setor nos EUA são de US$ 91 bilhões.
Musa destaca a rapidez com que a revolução do gás de xisto mudou as perspectivas para a petroquímica nos EUA. "Praticamente 100% das empresas americanas deixaram de procurar investimentos no Oriente Médio e China e passaram a focar nos Estados Unidos, algo inimaginável há cinco anos." Hoje, o gás custa pouco mais de US$ 4 o milhão de BTU (British thermal units), cerca de três vezes menos do que em meados de 2008.
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Esse tombo nas cotações tornou o setor petroquímico extremamente competitivo, por se tratar de um segmento em que a matéria-prima representa 75% dos custos, como diz Rina Quijada, diretora-sênior para a América Latina da consultoria IHS Chemical Insight. Unidades que produzem polietileno, por exemplo, ficaram atraentes. Além disso, o recuo do preço do gás barateou a energia.
Mas não há risco de uma bolha no setor, devido ao excesso de otimismo em relação às perspectivas do segmento? "A minha sensação é de que há um pouco de euforia, mas é uma euforia que tem bases extremamente sólidas. É uma grande oportunidade", diz Musa. Para ele, não haverá problemas para as empresas venderem as 10 milhões de toneladas de polietileno a mais que elas deverão passar a produzir até o fim da década.
O primeiro motivo é que a economia americana tem perspectivas favoráveis de crescimento, avalia Musa. Neste ano, as projeções são de cerca de 3%, superior ao 1,9% de 2013. Ele também vê espaço para um aumento das exportações, num cenário em que o produto americano se tornou extremamente competitivo. A demanda global por polietileno, segundo Musa, deve crescer a um ritmo de 5 milhões de toneladas por ano. Nesse quadro, os EUA, que exportam 20% do que fabricam do produto, podem passar a vender para o exterior de 30% a 35%, segundo alguns analistas, e a partir de um base muito maior.
Rina, da IHS, diz que o aumento da produção de petroquímicos básicos na região do Golfo do México vai gerar um superávit que precisará ser exportado, resultante da expansão da capacidade entre 2015 e 2017. A América do Sul será parte da solução para absorver essa maior oferta, segundo ela.
Em meados do ano que vem, deve entrar em operação no México um projeto da Braskem em parceria com a mexicana Idesa, com capacidade de produzir cerca de 1 milhão de toneladas de polietileno por ano. O custo do gás a ser usado como matéria-prima, fornecido pela estatal Pemex, está referendado no preço do gás americano. A Braskem tem 75% do empreendimento, que tem investimentos de US$ 3,2 bilhões.
Diretor comercial, de relações institucionais e de desenvolvimento de negócios da Braskem Idesa, Cleantho Leite Filho diz que cerca de metade da produção ficará no México, deficitário em polietileno. O restante deve ir para países da América do Sul e também para América do Norte e Europa.
Há um estudo para construção de um polo petroquímico na Virgínia Ocidental, nos EUA, sob a liderança da Odebrecht e que deverá ser operado pela Braskem, com dimensões semelhantes aos do México. O projeto está em fase de análise, mas, se levado adiante, entraria em operação perto do fim da década, contando com um cracker de eteno e três unidades de polietileno. Como está na etapa de análise da viabilidade, Musa não a incluiu nas estimativas de aumento da capacidade de produção de polietileno nos próximos cinco ou seis anos. A fábrica do México está na conta, pela integração da América do Norte. Hoje, a Braskem tem cinco fábricas de polipropileno nos EUA, liderando o setor no país.
Musa diz que, pela lógica industrial da Braskem, as exportações de resinas produzidas nos EUA para o Brasil e a América do Sul deverão ser mínimas. Os produtos fabricados nos EUA devem atender o mercado americano e a Europa. As unidades no Brasil cuidarão da demanda no mercado brasileiro.
Fonte:Valor Econômico/Sergio Lamucci | De Pittsburgh e San Antonio, nos EUA