Operadores de parques eólicos estão investindo em digitalização, operação remota e já falam em repotenciação de turbinas nos próximos anos em busca de mais eficiência. Empresas como a AES Brasil apostam em melhorias, já que têm a gestão próxima dos contratos de operação e manutenção, buscam implementar melhores práticas na gestão dos ativos eólicos e internalização de atividades-chave. Outras companhias, como a Renova, já revisam layouts para incremento de potência dos parques.
Do lado das fabricantes, a WEG Energia e a Siemens Energy são demandadas para serviços de melhorias de performance, automação da operação e manutenção preventiva de equipamentos para aumentar a produtividade e estender o tempo de operação de turbinas.
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O diretor superintendente da WEG Energia, João Paulo Gualberto da Silva, conta que o mercado brasileiro é novo em relação aos mercados mais maduros, como EUA e Europa, e por isso bastante moderno, de modo que as tecnologias embarcadas nos aerogeradores já são automatizadas. Entretanto, houve mudanças de tecnologias de materiais e de cálculo computacional.
“O que a WEG tem experimentado é uma demanda por melhorias de desempenho que a digitalização adicional oferece, como a previsão de condições climáticas e aplicação de inteligência artificial para corrigir deficiências de performance que poderiam ser melhoradas com algoritmos".
Segundo o executivo, a operação remota já é realidade. Hoje o centro de operação da WEG fica em Jaraguá do Sul (SC) e faz todo o controle das usinas. “São dois técnicos acompanhando monitores e alarmes dos parques eólicos espalhados pelo Brasil”, afirma Silva.
Por outro lado, o gerente de operação e manutenção da Siemens Energy, Leandro Figueiredo, conta que os parques do Brasil vivem duas realidades distintas: uma com envelhecimento de unidades geradoras, queda no desempenho, aumento dos custos de operação e manutenção, e outra com tecnologia de última geração.
“Queremos ter mais plantas desassistidas para fazer uma operação remota, tendo controle da geração e do equipamento”, diz Figueiredo, que acredita que num futuro breve será possível uma única pessoa operar um complexo eólico apenas para atendimento emergencial.
Os primeiros parques eólicos brasileiros foram instalados no final dos anos 1990. A tecnologia da época trabalhava com altura do eixo do cubo menor que 50 metros e turbinas com potência inferior a 1 MW. Hoje já se fala em aerogeradores de 10 MW.
O grande boom do setor veio a partir de 2012 com o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa). A modernização é indicada após 20 anos, mas há no Brasil uma safra de parques de primeira geração com espaço para mudar a tecnologia.
Em Nota Técnica, a Empresa de Pesquisas Energéticas reconhece que os empreendimentos em operação desde os anos 1990 já atingiram essa idade. Já os primeiros projetos contratados no Proinfa atingirão o fim da vida útil no curto prazo. Até 2030, mais de 50 parques alcançarão a faixa dos 20 anos de operação, representando mais de 600 aerogeradores e de 940 MW de potência.
“Vamos ter que discutir modernização de turbina eólica no Brasil em 5 ou 7 anos (...). A repotenciação de parques eólicos vai ser um negócio que vai acontecer logo no Brasil”, prevê o CEO da Omega Energia, Antonio Bastos Filho.
A Renova Energia tem 16 projetos de áreas em desenvolvimento que estavam com layouts das máquinas que estão no mercado há algum tempo. A empresa está revisando os layouts de acordo com estudos de vento para ver se há potencial de aumento de megawatts.
Destes 16 projetos, 12 têm licenças prévias de órgãos ambientais estaduais e somavam 3,6 GW. Contudo, com o novo estudo, essas áreas já têm potencial de 5 GW. A expectativa do presidente da Renova, Marcello Milliet, é que nos próximos meses a empresa tenha todos os projetos revisados.
A empresa deve colocar nos próximos dias em operação o parque Alto Sertão III, na Bahia, com capacidade instalada de 432 MW, e não prevê a troca de turbinas neste momento, “mas estamos revisando os terrenos adjacentes para verificar se existe um potencial de turbinas adicionais. Como temos capacidade adicional de subestações, isso faz todo sentido”, diz Milliet.
A presidente da AES Brasil, Clarissa Sadock, durante conferência promovida pelo Credit Suisse, na semana passada, disse que a companhia comprou o Complexo Alto Sertão II, da Renova, e fez melhorias para aumentar o fator de capacidade e a eficiência do parque.
“Conseguimos melhorar o fator de capacidade do ativo, que era em torno de 90%, e agora está em mais de 98%”, disse Sadock. O plano de investimentos da AES prevê aporte de aproximadamente R$ 2,4 bilhões no período de 2021 até 2025 e inclui a modernização e manutenção de ativos em operação.
Fonte: Valor