O diretor-presidente da Anglo American PLC, uma das maiores mineradoras do mundo, disse que está decidido a aumentar o retorno sobre o capital da empresa, mas que estaria aberto a alguma combinação, caso surja uma proposta atraente.
"Meu trabalho é criar valor, seja de qual forma isso possa ser mostrado", disse Mark Cutifani, um veterano do setor nomeado há 15 meses para virar a mesa depois da saída da diretora-presidente Cynthia Carroll. "Nossa tarefa é fazer um bom trabalho com a empresa e, no fim do dia, se alguém reconhecer o valor, então há uma conversa que pode ocorrer", disse Cutifani.
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Em entrevista ao The Wall Street Journal, Cutifani também disse que embora preveja que o preço do minério de ferro vá continuar baixo, a Anglo vai avançar com seu projeto de minério de ferro Minas-Rio, na região central de Minas Gerais, que já sofreu vários atrasos e deve iniciar a produção ainda este ano.
"Esse foguete foi lançado alguns anos atrás", disse Cutifani, referindo-se à mina brasileira que a Anglo comprou em 2008 por US$ 5,5 bilhões. A estimativa atual é que os investimentos totais necessários somem US$ 8,8 bilhões, ante uma previsão inicial de US$ 2,5 bilhões.
Segundo ele, seria "irresponsável" para a Anglo não prosseguir com seu projeto Minas-Rio, que, de acordo com o executivo, poderia enviar minério de ferro para a Ásia a um custo entre US$ 50 e US$ 55 por tonelada. A Anglo espera que a produção da Minas-Rio alcance 26,5 milhões de toneladas anuais futuramente.
Mas a Anglo provavelmente não compraria produtoras de minério de ferro em dificuldades se os preços caírem ainda mais, já que a empresa não vai mais alocar capital nenhum a essa commodity, disse Cutifani.
O preço do minério de ferro caiu 35% este ano para cerca de US$ 87 por tonelada, segundo a provedora de dados Steel Index, à medida em que o crescimento em mercados importantes como a China desacelerou e outras mineradoras, como a BHP Billiton Ltd. e a Rio Tinto PLC, registraram níveis recordes de produção.
Cutifani disse que, se os preços caírem para cerca US$ 80 por tonelada, alguns produtores terão dificuldades para se manter no mercado. Mas ele disse também que pode demorar algum tempo até que todo o lado da oferta apresente uma reação.
Ele diz ter constatado que, nessa indústria, é difícil se livrar do excesso de capacidade. Cutifani ressaltou que teme que a pressão negativa sobre os preços do minério de ferro possa ser "maior e mais longa" do que se prevê.
"Há uma oferta enorme [de minério de ferro] chegando e isso vai impactar os lucros, por isso estou preocupado", disse Cutifani.
Embora a Anglo produza diversas commodities, a divisão de minério de ferro e manganês contribuiu com mais de 40% dos lucros subjacentes no primeiro semestre de 2014.
O executivo também alertou que a estratégia dos grandes produtores de continuar ampliando o fornecimento pode sair pela culatra. "A meu ver, ou eles vão tomar uma decisão acertada para os seus investidores ou vão pagar o preço."
Cutifani disse que seu primeiro objetivo é transformar a Anglo numa mineradora de primeira linha, aumentando seu retorno sobre o capital empregado para pelo menos 15% em 2016. Essa métrica caiu para 10% no primeiro semestre deste ano, ante 11% um ano antes.
"É imperativo que alcancemos isso. Temos de conseguir um resultado melhor do que esse número", disse. No início do ano, a Anglo informou que venderia algumas das suas minas de platina mais antigas e profundas, processo que Cutifani diz que levaria pelo menos mais um ano e meio.
Com ativos em commodities que vão de minério de ferro a platina e diamantes em vários continentes, a Anglo é uma das mineradoras mais diversificadas do mundo. Mas apostas ruins - inclusive a de Carroll na mina de minério de ferro no Brasil que estourou o orçamento em mais de US$ 6 bilhões - corroeram os lucros. A ação da Anglo caiu 55% desde o início de 2011.
Os investidores também se preocuparam com a exposição da Anglo na África do Sul, onde sua subsidiária Anglo American Platinum Ltd., conhecida como Amplats, foi prejudicada por uma greve de cinco meses este ano.
Cutifani tem tomado iniciativas para cortar os custos da Anglo e colocou à venda diversos ativos periféricos. A ação da empresa subiu 17,5% este ano, superando suas maiores concorrentes, a BHP Billiton e a Rio Tinto.
Em meio à desaceleração global das commodities, a Rio Tinto e a BHP também estão vendendo ativos, concentrando seus investimentos num universo menor de commodities e se afastando de um modelo de diversificação que até recentemente caracterizava muitas grandes mineradoras mundiais. Cutifani, porém, disse que continua acreditando no modelo de mineração diversificada.
"Estamos menos direcionados em privilegiar uma determinada commodity porque, a nosso ver, há muitas questões imprevisíveis", disse o executivo.
Investidores e analistas estão acompanhando de perto os esforços de Cutifani para promover uma transformação na empresa.
"Ou a companhia tem um desempenho melhor sob a liderança de Mark Cutifani, e demonstra o valor das [suas] toneladas no solo, ou, então, se não conseguir fazer isso, levará o tiro de misericórdia que será ordenado em razoavelmente pouco tempo", diz Paul Gait, analista da Sanford C. Bernstein.
Em 2009, a mineradora anglo-suíça Xstrata PLC abordou a Anglo, mas Carroll, o então CEO na época, rejeitou a aproximação.
Fonte: Valor Econômico\Alexis Flynn e Andrew Peaple | The Wall Street Journal, de Londres